sábado, 20 de julho de 2024
sexta-feira, 12 de julho de 2024
quinta-feira, 11 de julho de 2024
"Aquele que disse "mais vale ter sorte do que talento", conhecia a essência da vida. As pessoas têm medo de reconhecer que grande parte da vida depende da sorte. É assustador pensar quantas coisas fogem ao nosso controle... Em um jogo, há momentos em que a bola bate com a borda da rede, e por uma fração de segundo ela pode continuar para a frente ou para trás. Com um pouco de sorte, continue em frente e você ganha, ou não ganha e você perde. "
Woody Allen "Match Point" (2005)
Texto do livro Aprendendo a viver, de Clarice Lispector
FUTURO IMPROVÁVEL
Uma vez eu irei. Uma vez irei sozinha, sem minha alma dessa vez. O espírito, eu o terei entregue à família e aos amigos com recomendações. Não será difícil cuidar dele, exige pouco, às vezes se alimenta com jornais mesmo. Não será difícil levá-lo ao cinema, quando se vai. Minha alma eu a deixarei, qualquer animal a abrigará: serão férias em outra paisagem, olhando através de qualquer janela dita da alma, qualquer janela de olhos de gato ou de cão. De tigre, eu preferiria. Meu corpo, esse serei obrigada a levar. Mas dir-lhe-ei antes: vem comigo, como única valise, segue-me como um cão. E irei à frente, sozinha, finalmente cega
para os erros do mundo, até que talvez encontre no ar algum bólide que me rebente. Não é a violência que eu procuro, mas uma força ainda não classificada mas que nem por isso deixará
de existir no mínimo silêncio que se locomove. Nesse instante há muito que o sangue já terá desaparecido. Não sei como explicar que, sem alma, sem espírito, e um corpo morto – serei ainda eu, horrivelmente esperta. Mas dois e dois são quatro e isso é o contrário de uma solução, é beco sem saída, puro problema enrodilhado em si. Para voltar de “dois e dois são quatro” é preciso voltar, fingir saudade, encontrar o espírito entregue aos amigos, e dizer: como você engordou! Satisfeita até o gargalo pelos seres que mais amo. Estou morrendo meu espírito, sinto isso, sinto…
Nota: peço licença para pedir à pessoa que tão bondosamente traduz meus textos em braile para os cegos que não traduza este.
Não quero ferir os olhos que não veem.
terça-feira, 9 de julho de 2024
A trivialidade é para quem gosta da superfície...
Gosto de coisas complicadas. Não gosto de água com açúcar.
Clarice Lispector, no livro “A descoberta do mundo”.
“As mãos translúcidas do judeu
lavram na escuridão os cristais
E a tarde que morre é medo e frio.
(As tardes à tarde são iguais. )
As mãos e o espaço de jacinto.
que palidece no confin do gueto.
quase não existem para o homem quieto.
que está sonhando com um labirinto claro.
Não é perturbado pela fama, esse reflexo
dos sonhos no sonho de outro espelho,
nem o temente amor das donzelas.
Livre da metáfora e do mito
crie um árduo cristal: o infinito
mapa daquele que é todas as suas estrelas. ”
Jorge Luis Borges, “Spinoza”.
Compartilhado do FB, página de Moacir Xavier
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