O REVESTIMENTO DE NOSSAS CRENÇAS. EVOÉ PIRRO !!!
Aquilo que acreditamos baseia-se no que supomos preencher as
fluídicas expectativas de nossos olhares, sobre o também fluídico, e às vezes
nebuloso, cotidiano.
A percepção é fluxo, todo pretenso entendimento é fluxo. Toda
singular e instantânea verdade sempre será substituída pela instantânea verdade
do momento seguinte que sepulta o entendimento anterior. O portentoso Devir,
sob o arcabouço e vestimentas do Imponderável, à revelia da lucidez que achamos
possuir, segue majestoso, oculto sob o véu de todo futuro que se apresenta.
É interessante observar crenças que se alardeiam como o
centro do universo, “essência” que supostamente estruturaria todo o universo
perceptível fornecendo âncoras e luminares seguros para os caminhantes da
existência, forasteiros de si mesmos, sempre embriagados pelos cantos das
sereias travestidas em desejos, circunstâncias, situações e ponderabilidades.
Cômico ou trágico? O sabor da circunstância é
circunstancial. Saudemos então a lúcida embriaguez que nos faz acreditar que,
acalentosamente estamos cumprindo, em cada momento, nossa “missão” ou então, no
delírio da liberdade que acreditamos possuir, supomos ter o controle do que vai
acontecer no instante seguinte. As tragédias de todos os tipos que de repente
parecem surgir do nada desmascaram a presunção de toda volátil onipotência.
Meu respeito a todos aqueles que, nadando na superfície das
trivialidades, são preenchidos em cada instante pelos olhares da pretensa
compreensão, pois são permanentemente tragados e preenchidos pelas
circunstâncias, afogando-se em supostos entendimentos, mas em contrapartida,
conseguem assim inebriar a consciência de si mesmos, sua unilateralidade e
obliterar seu Olhar para os universos profundos de todos nós. São “felizes”
assim.
Fluamos acima do bem e do mal, tão circunstanciais de acordo
com as necessidades e voláteis juízos de cada um, pois assim seremos neutros
nos contrastes que reinam sobre nosso caminhar pelos desertos, cheios de mares
bravios, de cada nova percepção.
Todo julgamento é porta de naufrágio de naus frágeis. Viva a
acatalepsia !!!
Gildo Fonseca