Caminhar “lucidamente”, sobre fragmentos, para conhecer tudo aquilo que ainda não se É. Eis a fatídica sina da parcial consciência em desenvolvimento e no acúmulo de forças de seus olhares, suas perspectivas, seu espaço, seu tempo, seu “Ser”, seu “Existir”.
Na volatilidade de suas diáfanas, fluídicas e pretensiosas ancoragens, desprovidas de essenciais e desconhecidos propósitos, mas lastreadas apenas em circunstâncias e necessidades efêmeras de tantas transitoriedades, a Consciência, tal como a ostra, sofre ao sal das relatividades.
O peso de cada relatividade é de uma proporção absoluta. A percepção absoluta de cada instante, contrasta, terrivelmente, com a consciência do fluir em multiplicidades. Se cada instante é intrínseco em possibilidades, cada uma de suas realizações neutraliza todas as outras num determinado instante dado.
Quando escolho sou rei, mas paradoxalmente, ao escolher sou escravo de minhas próprias materializações e caminhos, intrínsecos em suas limitações e também simultaneamente ceifador de infinitas outras escolhas.
O nascimento e a morte são onipresentes em cada sinapse. A consciência, iluminada pelos atritos das densidades exteriores é, por vezes, onisciente. A Vida, inexorável, é onipotente ao colocar na mesa dos banquetes de nossas escolhas, o livre arbítrio de ousar no caminho que pretensamente supomos ser o melhor, mesmo que desancorado de lastros que transcendam as vulgares experiências sensoriais cotidianas. Esses “ancoradouros da verdade”.
Num lapso instantâneo consciencial as palavras também buscam, às apalpadelas, vida em si mesmas. Em fugazes brilhos sinápticos, tantos “cantos de sereia”, transitórios em sua essência, caminha a alma, da relatividade absoluta para absolutos essencialmente relativos.
Transcender a consciência de nossas próprias limitações é inexorável desde que possamos perceber que somos a potência pura. Para que? Não se sabe. Talvez isso permita compreender o que Nietzsche queria dizer quando dizia: “eu não sou um homem, sou dinamite pura...”. Talvez “explodindo” o mundo, talvez “explodindo” a si mesmo.
Gildo Fonseca.