Não nos angustiamos como sentimos medo.
Tem-se medo de algo definido, de um ser particular (intramundano), tem-se angústia sem saber de quê.
É que o seu objeto é o próprio ser-no-mundo.
O sentimento da existência humana, instantaneamente revelada, põe-nos a sós, numa penosa experiência de isolamento metafísico, que Pascal realizou e exprimiu. Isolamento essencial e paradoxal através da angústia o homem encontra a sua realidade de ser existente, e não podendo suportá-la, refugia-se no mundo, decai para o cotidiano, onde passa a existir de modo público, impessoal, protegido por uma crosta de palavras, por interesses fugidios e perspectivas limitadas, que não o satisfazem completamente e apenas disfarçam o cuidado (sorge) em que vive.
(Benedito Nunes, em análise de Sartre (a náusea) e Lispector (Paixão segundo G.H.)
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