quarta-feira, 31 de outubro de 2018
A reinvenção do amor - Alain Badiou
(contribuição de Carlos Alberto Vieira)
- Você [Alain Badiou] é um dos poucos filósofos contemporâneos que introduziu em sua reflexão algo único, quer dizer o amor. Você repete freqüentemente que é preciso reinventar o amor. Como se faz isso?
- O amor é um gesto muito forte porque significa que é necessário aceitar que a existência de outra pessoa se converta em nossa preocupação. Minha ideia sobre a reinvenção do amor quer dizer o seguinte: uma vez que o amor se refere a essa parte da humanidade que não está entregue à competição, à selvageria; uma vez que, em sua intimidade mais poderosa, o amor exige um tipo de confiança absoluta no outro; uma vez que vamos aceitar que esse outro esteja totalmente presente em nossa própria vida, que nossa vida esteja ligada de maneira interna a esse outro, pois bem, já que tudo isto é possível, isto nos prova que não é verdade que a competitividade, o ódio, a violência, a rivalidade e a separação sejam a lei do mundo. O amor está ameaçado pela sociedade contemporânea. Essa sociedade bem que gostaria de substituir o amor por um tipo de regime comercial de pura satisfação sexual, erótica, etc. Então, o amor deve ser reinventado para defendê-lo. O amor deve reafirmar seu valor de ruptura, seu valor de quase loucura, seu valor revolucionário como nunca o fez antes. Não se deve deixar que o amor seja domesticado pela sociedade atual - que sempre busca domesticá-lo-. Em outros tempos, as sociedades clericais e tradicionais buscaram domesticá-lo pelo matrimônio e a família. Hoje se busca domesticar o amor com uma mescla de pornografia livre e de contrato financeiro. Mas devemos preservar a potência subversiva do amor e afastá-lo dessas ameaças. E isso é extensivo a outras coisas: a arte também deve afastar-se da potência do mercado, a ciência igualmente. Ali onde há um pensamento humano ativo e desinteressado há um combate para libertá-lo dos interesses.
Compartilhado do FB, pg. Marcel Oliveira
domingo, 28 de outubro de 2018
"Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só."
Florbela Espanca
Comp. do FB, pg. Jorge Sesarino
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi a ser só."
Florbela Espanca
Comp. do FB, pg. Jorge Sesarino
sábado, 27 de outubro de 2018
"Posso não concordar com uma só palavra do que dizes, mas defenderei até a morte o seu direito de dizê-las". Voltaire
Gosto muito também de um velho axioma cristão: "Eu te amo, eu te aceito, mesmo que não te entenda direito".
Que as esperanças sejam sempre renovadas quaisquer que sejam os resultados de nossas transitórias paixões políticas. Lembre-se: Você vai vencer, independentemente dos resultados do seu candidato.
Boa eleição a todos(as).
Canção das Baleias...
As baleias emitem sons que se espalham por milhares de quilômetros mar adentro. Dizem os cientistas que são os machos que cantam para cortejar as fêmeas. O ouvido humano, limitado, precisa da ajuda de aparelhos para ouvir pelo menos alguns sonidos que ressoam distantes. Não podemos saber qual beleza se esconde nas profundezas desses cantos que vagam pelos oceanos sem fim. Aliás, sabemos muito pouco de tudo e quase tudo de nada. Estamos, no bem da verdade, é perdendo a capacidade de ouvir, de sentir mesmo. Chegará o dia em que as músicas mais sublimes da humanidade, aquelas que requerem sensibilidade de espirito, simplesmente não serão ouvidas. Não só por falta de vontade, mas porque os ouvidos não conseguirão captá-las. A sonata ao luar ou a aria da quarta corda se tornarão canção de baleias. Só saberemos que existem com a ajuda de aparelhos medidores, como o que acontece com a radiação. Os filmes clássicos deixarão de ter trilha sonora e as orquestras serão apenas braços se movimentando como numa engrenagem silenciosa. As canções da alma serão para os ouvidos o que os mendigos e crianças de rua são para os olhos: admiravelmente inexistentes. E aquele que ainda conseguir ouvir, será considerado uma anomalia, um louco que ouve vozes do além. Então numa tarde silenciosa, alguém colocará uma bela canção no último volume e não incomodará o vizinho crasso que é incapaz de gostar de boa música. Este alguém dançará ao som de algo que só existe em sua alma, para que nadando nas profundezas de si mesmo finalmente possa ouvir o que diz a canção das baleias.
André Anacoreta in Folhas Soltas
Foto: Annelie Pompe - Texto e imagem compartilhados do FB, pg. Gigantes da Literatura Universal
Crianças eternas...
Hoje, perguntei a uma criança: o que você vai ser quando crescer? E ela, com toda singeleza do mundo me respondeu: maior do que eu sou agora. Que bela é a lucidez da alma. Estamos todos em eterno crescimento, nas experiências, nos julgamentos, nas percepções. O que seremos quando crescermos? Com certeza maiores do que somos agora. Gildo Fonseca.
sexta-feira, 26 de outubro de 2018
quinta-feira, 25 de outubro de 2018
Jaspers - Niilismo e Liberdade
A perda do absoluto das coisas e a teoria do conhecimento objetivo representa niilismo para aquele que nela se apoiava. Tudo o que adquire definição e, portanto, finitude através da linguagem e da objetividade perde o direito exclusivo à realidade e à verdade.
O nosso pensamento filosófico segue a via deste niilismo que é, sobretudo, uma libertação para atingir o autêntico ser. Por este nosso renascimento no filosofar surge a limitação do sentido e valor de todas as coisas finitas, certificamo-nos de que é inevitável transitar por elas, mas simultaneamente alcança-se o fundamento do qual se torna possível a livre relação com elas.
Do desmoronamento de uma solidez, que todavia era enganosa, vem a possibilidade de pairar — o que parecia um precipício tornou-se o espaço da liberdade, — e o aparente transmudou-se em algo de onde o ser autêntico responde ao apelo.
Do desmoronamento de uma solidez, que todavia era enganosa, vem a possibilidade de pairar — o que parecia um precipício tornou-se o espaço da liberdade, — e o aparente transmudou-se em algo de onde o ser autêntico responde ao apelo.
JASPERS, Karl. In Iniciação Filosófica. Editora Guimarães E C. Lisboa: 1984, p. 37 e 38. - Obra de arte por Quint Buchholz.
Comp. do FB, pg. Literatus
Eu tenho uma espécie de dever,
dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
dever de sonhar, de sonhar sempre,
pois sendo mais do que um espetáculo de mim mesmo,
eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso.
E, assim, me construo a ouro e sedas,
em salas supostas, invento palco,
cenário para viver o meu sonho
entre luzes brandas e músicas invisíveis.
[Fernando Pessoa]
quarta-feira, 24 de outubro de 2018
terça-feira, 23 de outubro de 2018
Êxtases e amarguras da Consciência...
PERCEPÇÕES
Gostaria de citar duas citações maravilhosas do saudoso Benedito Nunes onde ele mergulha nas relações entre os personagens de diversas obras de Clarice Lispector, da "Náusea" de Sartre e de "O Ser e o Nada" de Heidegger:
Gostaria de citar duas citações maravilhosas do saudoso Benedito Nunes onde ele mergulha nas relações entre os personagens de diversas obras de Clarice Lispector, da "Náusea" de Sartre e de "O Ser e o Nada" de Heidegger:
"É a vertigem da Consciência, como ser precário e que cria, devido a sua própria carência, através das possibilidades que projeto no mundo, o sentido da existência".
e"
A angústia me desnuda, ao reduzir-me aquilo que sou: uma consciência indigente, a quem coube a maldição e o privilégio da liberdade. Transpondo-me ao extremo de minhas possibilidades, revela-me a grandeza em razão da liberdade e da miséria do homem - grandeza em razão da liberdade e miséria porque, tudo podendo ser-nos imputado, a nossa responsabilidade é absoluta. Vivemos, afinal, num mundo puramente humano onde a única transcendência deriva da Consciência".
A angústia me desnuda, ao reduzir-me aquilo que sou: uma consciência indigente, a quem coube a maldição e o privilégio da liberdade. Transpondo-me ao extremo de minhas possibilidades, revela-me a grandeza em razão da liberdade e da miséria do homem - grandeza em razão da liberdade e miséria porque, tudo podendo ser-nos imputado, a nossa responsabilidade é absoluta. Vivemos, afinal, num mundo puramente humano onde a única transcendência deriva da Consciência".
Acredito que é essa percepção, equidistante, sob o atroz verdugo das próprias possibilidades latentes, onde a inexorável criação dos fantasmas do tempo e instantes seguintes impera, matando com a subsequência de tantas transitórias "verdades" de todo devir, quaisquer certezas, é que flui, volátil, o que eu podemos chamar de Consciência.
A nominação e qualificação dimensional de toda percepção se dá na intersecção de sensações culturais afins, onde vivemos e nos deliciamos ou sofremos nesse mundo onírico do nosso existir, com todas as suas pretensas certezas e leis.
Como condenados à danação pela sobreposição de tantas incertezas subsequentes às pretensas verdades de todo agora, tomamos "consciência" da nossa embriaguez existencial, visto que, toda percepção sempre será relativa pois, se somos "um ponto de um plano ou de uma reta", também somos o plano, onde estão contidos, a reta e o ponto. Na interconexão entre a percepção do infinitesimal com o infinito, manifesta-se a luz que permite o nosso "olhar", em qualquer direção pois Somos apenas Possibilidades latentes no Processo contínuo do "existir".
O "Penso logo existo" Descartiano, pressupõe saber (...) o que é pensar e o que é existir para cada um, pois são "entes" nominados por um processo cultural onde adamicamente estamos inseridos e de onde tentamos, desesperadamente, desde o início da "civilização' tirar respostas que nunca terão efeito definitivo eis que foram trazidas à "superfície' num determinado tempo-espaço do relativo processo existencial e onde, paradoxalmente, a própria resposta é avassaladora pela singularidade superior de uma nova resposta, mais abrangente, do tempo-espaço seguinte.
Nunca poderemos saber quem realmente somos, enquanto partes, pois "estamos", dinâmica e absolutamente relativos dentro de uma relatividade absoluta.
Seria cômico se não fosse trágico...
Gildo Fonseca
segunda-feira, 22 de outubro de 2018
E não esqueça dos canolli...
Achei o texto do link abaixo, da revista Bula, uma delícia para o atual momento político. Vale a pena conferir;
https://www.revistabula.com/17701-manual-de-sobrevivencia-do-poderoso-chefao-para-a-politica-brasileira/?fbclid=IwAR0sxE9aWiSRHmpzn-Pke85T049blOJJunGw-kSfdiipaM2ZaPzdBEcyy6k
https://www.revistabula.com/17701-manual-de-sobrevivencia-do-poderoso-chefao-para-a-politica-brasileira/?fbclid=IwAR0sxE9aWiSRHmpzn-Pke85T049blOJJunGw-kSfdiipaM2ZaPzdBEcyy6k
domingo, 21 de outubro de 2018
Amplitude do Universo e a amplitude de nossas paixões
Essa é a imagem da nebulosa IC 433. O que ela tem de especial? Pois bem, tomando em conta a velocidade da luz que é de 300 mil quilômetros por segundo, essa nebulosa tem um diâmetro de 70 anos luz. Para que tenhamos uma vaga noção do tamanho do universo a nebulosa de "medusa" se encontra a 5000 anos luz da constelação de gêmeos, uma maravilhoso corpo celeste do Universo.
Comp. de Sputnik Universe
E ficamos todos aí, brigando por querelas passageiras e transitórias.
Tratado geral das grandezas do ínfimo!
“A poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.”
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.”
Manoel de Barros.
sábado, 20 de outubro de 2018
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