quarta-feira, 29 de junho de 2022
segunda-feira, 27 de junho de 2022
domingo, 26 de junho de 2022
sábado, 25 de junho de 2022
PERDAS E DANOS, ENTRE QUIMERAS VÃS.
O QUE NORTEIA A SUA CONSCIÊNCIA?
O incomensurável desamparo da plena consciência do existir é uma das dores mais fortes que se pode conhecer. Ela dilacera a alma com sua pretensa lucidez. Diuturnamente ancoramos nossa caminhada em necessidades e desejos, em coisas, pessoas e fatos para que eles inebriem a intensa, profunda, infinita desolação de estarmos completamente sós na vida, no universo, cercados apenas pelas fantasmagóricas imagens de nossos cotidianos entornos.
Somos jogados na vida e de imediato cobrados por uma existência em que fomos inseridos e não conseguimos compreender. Temos que, como escravos, lutarmos (ou seria enlutarmos?) para a sobrevivência, buscar forças, fora e dentro de nós para, de forma cambaleante, caminhar em direção a um não sei o quê e nem saber porque. Os contrastantes aspectos de nossas percepções da realidade nos conduzem, como marionetes, nos desenlaces dos entroncamentos das nossas pretensas interpretações, nossas “verdades” individuais, tonalizadas pelas culturas que nos envolvem.
A existência, tal qual um fantasma de Hamlet, bate forte à porta, clama seu direito ao seu império da insensatez, ao reino da falta de sentido sobre nossas cabeças, sobre nossos pretensos conhecimentos, nossa pretensa sabedoria, nossas pretensas respostas para tudo, sempre baseadas em recortes de cantos de sereias, teorias, abstrações e tentativas, muitas vezes vãs, de embriagar a sensação de estarmos, inexoravelmente perdidos, como náufragos nos mares da consciência, tentando caminhar às apalpadelas num universo de cegos.
Sartre dizia que estamos condenados à liberdade mas a verdade é que, lembrando Lacan, estamos condenados às nossas faltas. Estamos sobretudo, condenados à falta de respostas exceto aquelas que, paliativamente amenizam nossa dor existencial, com crenças, fé, sonhos, pretensa sabedoria, problemas, afetos e outros alucinógenos. Precisamos colocar, muitas vezes, sob nossos ombros, muitas atividades, envolvimentos, pesos que funcionam como âncoras, sobre nossos ombros para assim, intensamente envolvidos com elas, abstermo-nos de enfrentar a questão essencial: para que serve tudo isso? Esse decifra-me ou te devoro cotidiano coloca seu véu, soturno, sagaz, mascarado em sonhos, desejos, alegrias ou angustias que se alternam na caminhada da vida e assim continua senhor absoluto de nosso destino.
A dor existencial, quando bate forte com seu martelo,
renovando a cadência de batidas anteriores, cobra de nós aquilo que não podemos
dar, respostas ao porquê de existirmos, de estarmos aqui, muitas vezes respondidos,
insanamente por tantos, com inúmeros “para que...”, “para isso...”, “para
aquilo...” com o necessário envolvimento com o que ainda não somos, ou não
temos, ou deveríamos ter para esquecer ainda mais profundamente aquilo que também
não se sabe. Surreal, patética, é a própria consciência em sua quimera vã da tentativa de explicar a
si mesma. É e ao mesmo tempo não É. Não pode também ser pois, em seu perene processo,
ainda não É. E não É pois ainda também vai Ser. Então não É e talvez nunca será. Uma
miragem em movimento talvez, uma miragem é movimento, talvez.
O envolvimento com as imagens do cotidiano, com todos os seus flertes, de todas as espécies, o nosso colírio alucinógeno de cada pretenso e instantâneo despertar, será mais uma vez a única saída. Bukowski, Camus, Baudelaire entre outros, sentindo o dedo na ferida da alma, “realmente” estavam certos quando afirmavam a necessidade da alienação, do delírio, da loucura, da embriaguez, seja de vinho, de poesia ou de virtude, ao nosso gosto. O ópio consciencial é inexorável. Como diz uma Amiga querida, “uma lúcida embriaguez”.
Mas, estar sobriamente inconsciente talvez seja a única forma de sobrepujar a própria consciência, carrasca eterna da nossa danação. Sobreviveremos, embora o próprio significado dessa palavra ainda esteja por ser descoberto, se, e quando o Ser for descoberto. Esperemos que se abram afinal, um dia, qualquer dia, as cortinas no palco de nossas ansiedades, esperanças e desalentos. Como dizia Chico Buarque: "Pra mim, basta um dia..." Esse dia da Resposta. Uma resposta aos ecos de nossas almas que bradam no escuro. Podemos então imitar o poeta: "faz escuro mas eu canto". Enquanto isso, continuamos esperando Godot. Até quando suportaremos? A indignação é sulco que flui nas veias da alma, ela respira o oxigênio de alguns passos, sobre um tapete voador chamado Esperança.
Gildo Fonseca.
quarta-feira, 22 de junho de 2022
Haja lúcida embriaguez para tantas fugas
É impossível enfrentar a realidade o tempo todo sem nenhum mecanismo de fuga. Sigmund Freud.
domingo, 19 de junho de 2022
sábado, 18 de junho de 2022
sexta-feira, 17 de junho de 2022
Borges me comunica siempre una singular exaltación pacificadora a causa de su prodigiosa vocación de aprisionar, aunque sea por un instante, entidades tan ambiguas y enrarecidas como el tiempo, el destino, la muerte, los sueños, en operaciones mentales portentosas y refinadas, en mecanismos conceptuales poderosamente simplificados, libres de los oropeles de la lógica, de los juegos de equilibrio de la dialéctica. Sobre todo para un hombre de cine, Borges es un autor particularmente estimulante en cuanto a que lo excepcional de su literatura consiste en ser muy parecida al sueño, como una extraordinaria visión onírica al evocar del subconsciente imágenes innatas donde la cosa y su significado coexisten simultáneamente, exactamente como en una película. Y justamente como en los sueños, también lo incongruente de Borges, lo absurdo, lo contradictorio, lo arcaico, lo repetitivo, aún conservando toda su virulenta carga fantástica, son igualmente iluminados como los rigurosos detalles de un dibujo más amplio e ignorado, son los elementos impecables de un mosaico atrozmente perfecto e indiferente. También, Borges, me hace pensar en un flujo onírico discontinuo, y la heterogeneidad de esta misma producción —relatos, ensayos, poesías— prefiero imaginármelas, no como el fruto de los múltiples resortes de un talento impaciente, sino más bien como el signo sin descifrar de una metamorfosis infatigable.