Gildo Fonseca.
Aí
de pé, a obra arquitetônica repousa sobre o solo rochoso. Este assentar
da obra extrai da rocha a obscuridade do seu suportar rude e, no
entanto, a nada impelido. Aí de pé, a obra arquitetônica resiste à
tempestade furiosa que sobre ela se abate, e, desta forma, revela pela
primeira vez a tempestade em toda a sua violência. Só o brilho e o
fulgor da rocha, que aparecem eles mesmos apenas graças ao Sol, fazem,
no entanto, aparecer brilhando a claridade do dia, a amplitude do céu, a
escuridão da noite. O erguer-se seguro torna visível o espaço invisível
do ar. O caráter imperturbado da obra destaca-se ante a ondulação da
maré e deixa aparecer, a partir do seu repouso, o furor dela. A árvore e
a erva, a águia e o touro, a serpente e o grilo conseguem, pela
primeira vez, alcançar a sua figura mais nítida e, assim, vêm à luz como
aquilo que são. Desde cedo, os gregos chamaram a este mesmo surgir e
irromper, no seu todo, a Φύσις [phýsis].
Martin Heidegger "Origem da Obra de Arte", p. 39. Lisboa: Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 1998. Escultura: Fonte Netuno, por Bartolomeo Ammannati, em Piazza Della Signoria, Florença, Itália.
Compartilhado de Martin Heidegger in Art.
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