Carta a uma jovem poeta (por Hélio Pellegrino)
domingo, 30 de julho de 2023
Texto maravilhoso de Hélio Pellegrino
sábado, 29 de julho de 2023
FAZ DE CONTA...
faz de conta que fiava com fios de ouro as sensações,
faz de conta que a infância era hoje e prateada de brinquedos,
faz de conta que uma veia não se abrira e faz de conta que que dela não estava em silêncio alvíssimo escorrendo sangue escarlate, e que ela não estivesse pálida de morte mas isso fazia de conta que estava mesmo de verdade, precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante,
faz de conta que amava e era amada,
faz de conta que não precisava de morrer de saudade,
faz de conta que estava deitada na palma transparente da mão de Deus,...,
faz de conta que vivia e que não estivesse morrendo pois viver afinal não passava de se aproximar cada vez mais da morte,
faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio,
faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos,
faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos húmidos de gratidão,
faz de conta que tudo o que tinha não era faz de conta,
faz de conta que se descontraía o peito e a luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranquilas mortalidades,
faz de conta que ela não era lunar,
faz de conta que ela não estava chorando por dentro...
Clarice Lispector
ilustração de Gohar Harutyunyan
Levantar (ou tentar) é lutar para superar quaisquer densidades...
As duas frases contidas na imagem tem profundos significados, em vários sentidos. Vale a pena refletir...
quinta-feira, 27 de julho de 2023
quarta-feira, 19 de julho de 2023
terça-feira, 18 de julho de 2023
sábado, 8 de julho de 2023
terça-feira, 4 de julho de 2023
domingo, 2 de julho de 2023
"O
ego exige sucesso. Mas, como disse Clarice Lispector, numa carta a uma
jovem que pretendia tornar-se escritora: 'Quando você fizer sucesso,
fique contentinha, mas não contentona. E preciso ter sempre uma simples
humildade, tanto na vida como na literatura'. Contentinha, mas não
contentona: em quatro palavras, Clarice disse tudo, o que não é de
admirar, em se tratando de uma grande escritora. É interessante, aliás,
que tenha usado a expressão "contente", mas não "feliz". Não é a mesma
coisa. Felicidade é uma coisa transcendente, imaterial. Contente é
aquele que contém: sua carência foi preenchida com elogios, com tapinhas
nas costas. No Brasil temos a expressão "o bloco dos contentes".
Usa-se em geral para pessoas que, ligadas à administração pública,
conseguem favores, privilégios, mordomias. O que as contenta vem de
fora.
Literatura não é fonte de contentamento. Nem é coisa que possa
ser feita pelo membro de um bloco. Ela é, essencialmente, um vício
solitário. "
MOACYR SCLIAR - In: Prefácio a "Max e os Felinos".
("Smile', 1955 - Foto: Walter Chandigarh)
Compartilhado de Arspoetica_art
sábado, 1 de julho de 2023
Faz teias de eu não pensar.
Não soube o que era em menino,
Sou adulto sem o achar.
É que a teia, de espalhada
Apanhou-me o querer ir...
Sou uma vida baloiçada
Na consciência de existir
A aranha da minha sorte
Faz teia de muro a muro...
Sou presa do meu suporte.
Fernando Pessoa
Comp. de Artes & Poesias
Na singularidade de todo fragmento está contida a pluralidade de todos os possíveis. Tornar-Se é processo, cristalização de nossos berços, onde somos embalados por nossas fascinações, afetos e pretenso compreender. Como dizia Nietzsche: "não existem fatos, somente interpretações". Viva o Sentimento alucinógeno da Interpretação.