"O
ego exige sucesso. Mas, como disse Clarice Lispector, numa carta a uma
jovem que pretendia tornar-se escritora: 'Quando você fizer sucesso,
fique contentinha, mas não contentona. E preciso ter sempre uma simples
humildade, tanto na vida como na literatura'. Contentinha, mas não
contentona: em quatro palavras, Clarice disse tudo, o que não é de
admirar, em se tratando de uma grande escritora. É interessante, aliás,
que tenha usado a expressão "contente", mas não "feliz". Não é a mesma
coisa. Felicidade é uma coisa transcendente, imaterial. Contente é
aquele que contém: sua carência foi preenchida com elogios, com tapinhas
nas costas. No Brasil temos a expressão "o bloco dos contentes".
Usa-se em geral para pessoas que, ligadas à administração pública,
conseguem favores, privilégios, mordomias. O que as contenta vem de
fora.
Literatura não é fonte de contentamento. Nem é coisa que possa
ser feita pelo membro de um bloco. Ela é, essencialmente, um vício
solitário. "
MOACYR SCLIAR - In: Prefácio a "Max e os Felinos".
("Smile', 1955 - Foto: Walter Chandigarh)
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