"Compreendeu de repente o que era a angústia e soube que ela só podia
ser vencida por aqueles que a reconhecessem. Sentia-se angústia por mil
motivos, em face da dor, da justiça, do
próprio coração. Tinha-se um medo angustioso de dormir, de acordar, de
ficar sozinho, de sentir frio, de ser atacado de loucura, da morte. Mas
todas essas coisas eram apenas máscaras e disfarces. Na realidade, só se
sentia medo e angústia de uma coisa: deixar-se cair, dar o passo para a
incerteza, o pequeno passo para fora de qualquer segurança que pudesse
haver. E quem tivesse uma vez, uma única vez, abandonado, quem tivesse
praticado o grande ato de confiança e se entregasse ao destino, estaria
libertado. Ele não pertencia mais às leis da terra; caíra no espaço e
era levado pela dança das constelações. Era assim. Tudo era tão simples
que até uma criança podia compreender e saber. "
Hermann Hesse. In: O Último Verão de Klingsor
terça-feira, 31 de março de 2020
sábado, 28 de março de 2020
O
rabino Nilton Bonder, no seu maravilhoso Livro Alma Imoral, que depois
virou peça de sucesso nacional, tem uma citação interessante: "Aqueles
que se permitem transgressões da alma com certeza são vistos e recebidos
pelos outros como estrangeiros. Os que mudam de emprego radicalmente,
os que refazem relações amorosas, os que abandonam vícios, os que perdem
medos, o que se libertam e os que rompem
experimentam a solidão que só pode ser quebrada por outro que conheça
essas experiências. A natureza da experiência pode ser totalmente
distinta, mas eles se tornarão parceiros enquanto 'forasteiros'." - pág.
66. Lacan também dizia que podemos saber o que dissemos mas nunca o que
o outro escutou. Eu acredito que no vácuo das percepções se
cristalizam, como um mosaico, os contrastes dos entendimentos que
brilham com as cores que neles colocamos. O pulsar da Vida se dá na
pupila do coração. Assim como "todo barro pede uma escultura", toda
compreensão pede uma transcendência para além, muito além, de quaisquer
triviais superficialidades. Gratidão a todos os "forasteiros de alma",
companheiros de viagem. Gildo Fonseca
terça-feira, 24 de março de 2020
segunda-feira, 23 de março de 2020
Jorge
Luis Borges escreveu certa vez o seguinte: “penso que em toda
biblioteca há espíritos. E são os espíritos dos mortos, que só despertam
quando o leitor os busca.” Nesse momento de reclusão forçada um
espírito que constantemente desperta e vem me visitar é Dostoiévski.
Recordo aqui uma passagem maravilhosa daquele que é considerado o seu maior clássico: “Os Irmãos Karamázov”. Trata-se da narrativa da vida do hieromonge Stárietz Zossima, redigida a partir das suas próprias palavras por Alieksiêi Fiódorovitch Karamázov (Ed. 34, p. 426/427):
“Ai, não credes nessa união dos homens. Compreendendo a liberdade como a multiplicação e o rápido saciamento das necessidades, deformam sua natureza porque geram dentro de si muitos desejos absurdos e tolos, os hábitos e as invenções mais disparatadas. Vivem apenas para invejar uns aos outros, para a luxúria, a soberba. Dar jantares, viajar, possuir carruagens, posição social e criados escravos eles já consideram uma necessidade, e para saciá-la sacrificam até a vida, a honra, o amor ao homem, e até se matam se não conseguem saciá-la.
(...)
E não é de se admirar que em vez da liberdade tenham afundado na escravidão, e em vez de servir ao amor fraterno e à união dos homens afundarem, ao contrário, na desunião e no isolamento, como me disse em minha mocidade o meu visitante misterioso e mestre. É por isso que no mundo vem-se extinguindo cada vez mais a ideia de servir à humanidade, a ideia da fraternidade e da integridade dos homens, pois, em verdade, essa ideia já está sendo recebida até com zombaria; porque, como esse escravo se afastaria de seus hábitos, para onde iria se está tão acostumado a saciar as infinitas necessidades que ele mesmo inventou? Ele está isolado e pouco se importa com o todo. Eles chegaram a um ponto em que acumularam objetos demais, porém ficaram com alegria de menos.”
Machado de Assis estava certo quando disse: “leio por instruir-me; às vezes por consolar-me. Creio nos livros e adoro-os.” Nesse momento, leio para consolar-me. Também para buscar esperança, de que tudo vai passar, e que depois dessa tempestade nos tornaremos mais humanos.
Na imagem: uma gravura de passagem clássica do livro (“O grande inquisitor).
Recordo aqui uma passagem maravilhosa daquele que é considerado o seu maior clássico: “Os Irmãos Karamázov”. Trata-se da narrativa da vida do hieromonge Stárietz Zossima, redigida a partir das suas próprias palavras por Alieksiêi Fiódorovitch Karamázov (Ed. 34, p. 426/427):
“Ai, não credes nessa união dos homens. Compreendendo a liberdade como a multiplicação e o rápido saciamento das necessidades, deformam sua natureza porque geram dentro de si muitos desejos absurdos e tolos, os hábitos e as invenções mais disparatadas. Vivem apenas para invejar uns aos outros, para a luxúria, a soberba. Dar jantares, viajar, possuir carruagens, posição social e criados escravos eles já consideram uma necessidade, e para saciá-la sacrificam até a vida, a honra, o amor ao homem, e até se matam se não conseguem saciá-la.
(...)
E não é de se admirar que em vez da liberdade tenham afundado na escravidão, e em vez de servir ao amor fraterno e à união dos homens afundarem, ao contrário, na desunião e no isolamento, como me disse em minha mocidade o meu visitante misterioso e mestre. É por isso que no mundo vem-se extinguindo cada vez mais a ideia de servir à humanidade, a ideia da fraternidade e da integridade dos homens, pois, em verdade, essa ideia já está sendo recebida até com zombaria; porque, como esse escravo se afastaria de seus hábitos, para onde iria se está tão acostumado a saciar as infinitas necessidades que ele mesmo inventou? Ele está isolado e pouco se importa com o todo. Eles chegaram a um ponto em que acumularam objetos demais, porém ficaram com alegria de menos.”
Machado de Assis estava certo quando disse: “leio por instruir-me; às vezes por consolar-me. Creio nos livros e adoro-os.” Nesse momento, leio para consolar-me. Também para buscar esperança, de que tudo vai passar, e que depois dessa tempestade nos tornaremos mais humanos.
Na imagem: uma gravura de passagem clássica do livro (“O grande inquisitor).
domingo, 22 de março de 2020
VIVA A VIDA !!!
Os existencialistas não temem a morte. Aliás não temem nada. Ao contrário da grande maioria que se embriaga sob o véu da superfície das coisas eles vivem sob o fogo constante da transcendência numa chama viva de consciência da nossa finitude, nossos limites, nossas pretensões.
Esse tipo de clausura imposta a todos por esse novo vírus sempre foi companheira daqueles que reconhecem as singularidades, próprias e alheias. Como dizia Jorge Luis Borges, “somos tudo aquilo que vemos e vivemos”. É verdade, mas somos, acima de tudo, individualidades, com pulsões de alma e a proporção dessa percepção mede a sensibilidade de cada um.
Os existencialistas não temem a morte. Aliás não temem nada. Ao contrário da grande maioria que se embriaga sob o véu da superfície das coisas eles vivem sob o fogo constante da transcendência numa chama viva de consciência da nossa finitude, nossos limites, nossas pretensões.
Esse tipo de clausura imposta a todos por esse novo vírus sempre foi companheira daqueles que reconhecem as singularidades, próprias e alheias. Como dizia Jorge Luis Borges, “somos tudo aquilo que vemos e vivemos”. É verdade, mas somos, acima de tudo, individualidades, com pulsões de alma e a proporção dessa percepção mede a sensibilidade de cada um.
A morte e a vida são companheiras constantes de todos que sentem a
intensidade e a profundidade da existência em cada momento. Morremos em
cada limitação. Nascemos em cada superação, em cada rebeldia, em cada
transgressão. Talvez essa experiência global deste momento seja um
chamamento à autoconsciência, de nossos limites e de nossas forças.
Já dizia Epicuro sobre a morte: “enquanto somos, ela não existe, e quando ela chegar, nós nada mais seremos”. Então para que se preocupar. Sigamos as ponderações e orientações dos especialistas em epidemias mas sem novas aflições, sem preocupações, vamos ver que emocionantes aventuras nos esperam mais à frente.
Que o pulsar da vida seja intenso em cada instante de nossas percepções para que vejamos que somos a própria transcendência em ação, se auto superando em cada desafio, em cada experiência, em cada oportunidade de mergulharmos profundamente em novas circunstâncias, novos conhecimentos, novos horizontes.
Somos e seremos sempre maiores que nossos próprios pântanos. Nascemos e somos vencedores, pois vitória é buscar entender o significado de cada experiência. Força, Amor e Luz é o que desejo para todos.
Gildo Fonseca.
Já dizia Epicuro sobre a morte: “enquanto somos, ela não existe, e quando ela chegar, nós nada mais seremos”. Então para que se preocupar. Sigamos as ponderações e orientações dos especialistas em epidemias mas sem novas aflições, sem preocupações, vamos ver que emocionantes aventuras nos esperam mais à frente.
Que o pulsar da vida seja intenso em cada instante de nossas percepções para que vejamos que somos a própria transcendência em ação, se auto superando em cada desafio, em cada experiência, em cada oportunidade de mergulharmos profundamente em novas circunstâncias, novos conhecimentos, novos horizontes.
Somos e seremos sempre maiores que nossos próprios pântanos. Nascemos e somos vencedores, pois vitória é buscar entender o significado de cada experiência. Força, Amor e Luz é o que desejo para todos.
Gildo Fonseca.
Lispector, intensa...
"Olhe
para todos ao seu redor e veja o que temos feito de nós e a isso
considerado vitória nossa de cada dia. Não temos amado, acima de todas
as coisas. Não temos aceito o que não se entende porque não queremos
passar por tolos. Temos amontoado coisas e seguranças por não nos termos
um ao outro. Não temos nenhuma alegria que não tenha sido catalogada.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de
fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam
armadilhas. Não nos temos entregue a nós mesmos, pois isso seria o
começo de uma vida larga e nós a tememos.
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."
Clarice Lispector, in Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres.
Arte: Pablo Picasso
Temos evitado cair de joelhos diante do primeiro de nós que por amor diga: tens medo. Temos organizado associações e clubes sorridentes onde se serve com ou sem soda. Temos procurado nos salvar mas sem usar a palavra salvação para não nos envergonharmos de ser inocentes. Não temos usado a palavra amor para não termos de reconhecer a sua contextura de ódio, de amor, de ciúme e de tantos outros contraditórios. Temos mantido em segredo a nossa morte para tornar a nossa vida possível. Muitos de nós fazem arte por não saber como é a outra coisa. Temos disfarçado com falso amor a nossa indiferença, sabendo que nossa indiferença é angústia disfarçada. Temos disfarçado com o pequeno medo o grande medo maior e por isso nunca falamos no que realmente importa. Falar no que realmente importa é considerado uma gafe.
Não temos adorado por termos a sensata mesquinhez de nos lembrarmos a tempo dos falsos deuses. Não temos sido puros e ingênuos para não rirmos de nós mesmos e para que no fim do dia possamos dizer «pelo menos não fui tolo» e assim não ficarmos perplexos antes de apagar a luz. Temos sorrido em público do que não sorriríamos quando ficássemos sozinhos. Temos chamado de fraqueza a nossa candura. Temo-nos temido um ao outro, acima de tudo. E a tudo isso consideramos a vitória nossa de cada dia."
Clarice Lispector, in Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres.
Arte: Pablo Picasso
sábado, 21 de março de 2020
sexta-feira, 20 de março de 2020
Oportunidade para criar...
Shakespeare criou Rei Lear e Macbeth durante um período de quarentena da peste na Inglaterra. Newton descobriu a gravidade, a famosa história da maçã, também durante uma quarentena de uma pandemia. Vamos pelo viés positivo permitindo que nesse momento aflore o melhor de cada um.
quinta-feira, 19 de março de 2020
A CÓPULA DIALÉTICA DA PRETENSIOSAS VERDADES
"O excesso de verdades é pior que o erro". Pascal
O êxtase das contradições, semente da dinâmica espiral de novas verdades, vive no interlúdio, no lapso da consciência, entre vácuos de pretensa lucidez, no intervalo de fracionadas realidades, entre elos de contrastes que alimentam fugazes, contraditórias, voláteis, fugidias e pretensiosas Percepções.
O erro, coadjuvante de tantas verdades individuais, alicerça nossos passos de navegantes nauseabundos no oceano do existir.
Nos interstícios de todos os sistemas binários, ou quânticos, em todas as manifestações, está, oculta, sob o véu de loucuras insensatas, a patética tentativa do Ente de levantar-se, de afirmar o "seguro" dentro de dinâmicas tão inseguras, um ponto dentro de retas, um finito dentro de tantos infinitos, "porquês" dentro de tantos "como".
A suposta razoabilidade, extasiante, do Instante Perceptivo é gozo embriagador, morfínico, da Consciência em trânsito, no ventre de Infinitos possíveis contidos em todo finito presente. Nossa Consciência, mera coadjuvante, é delimitada pelo protagonismo da cerca limitadora da percepção de cada um, cerca carrasca, da danação onde queimam todos os nossos porquês. Escravos da Liberdade. Soberanos de nossas próprias limitações. Absolutos em cada Relatividade.
Gildo Fonseca.
quarta-feira, 18 de março de 2020
Arte, sempre libertária...
"A arte é perigosa, a arte não é casta; não são feitos para a arte os inocentes, os ignorantes. A arte que é casta não é arte."
Pablo Picasso
Comp. de Marcel Oliveira
Pablo Picasso
Comp. de Marcel Oliveira
terça-feira, 17 de março de 2020
"Para a mente primitiva, tudo é amigável ou hostil; Mas a experiência demonstrou que a simpatia e hostilidade não são as concepções pelas quais o mundo pode ser entendido".
Bertrand Russell, misticismo e lógica (1917)
imagem: Bertrand Russell (1872-1970) foi um filósofo, matemático, reformador educacional e sexual, pacifista, escritor prolífico, autor e colunista. Bertrand Russell foi um dos mais influentes e amplamente conhecidas figuras intelectuais do século XX. Em 1950 ele foi premiado com o Nobel de literatura por suas extensas contribuições para a literatura mundial e por sua "racionalidade e humanidade, como um destemido paladino da liberdade de expressão e de pensamento livre no Ocidente." Russell morreu em sua casa em Penrhyndeudraeth, país de Gales, Reino Unido, em 2 de fevereiro de 1970, onde suas cinzas foram espalhadas sobre as montanhas galesas.
Existem três tipos de portas: as emparedadas, as trancadas e as que tornamos abertas por nossa volátil, forasteira, pretensiosa e fugidia Lucidez. Ela abre, cria, perfuma e inebria, oniricamente, os Caminhos deste Instante.
Transgredir-Se é inexorável polinização de coloridos contrastes, doce néctar, doce náusea, respiro da Liberdade.
Gildo Fonseca
Transgredir-Se é inexorável polinização de coloridos contrastes, doce néctar, doce náusea, respiro da Liberdade.
Gildo Fonseca
segunda-feira, 16 de março de 2020
Maravilha de William James
"A principal diferença entre o homem e os brutos está no excesso exuberante da sua propensão subjetiva.
Sua superioridade sobre eles repousa simples e unicamente no número, no fantástico e desnecessário caráter de seus desejos físicos, morais, estéticos e intelectuais.
Sua superioridade sobre eles repousa simples e unicamente no número, no fantástico e desnecessário caráter de seus desejos físicos, morais, estéticos e intelectuais.
Se toda a sua vida não tivesse sido uma busca de supérfluos, ele não se
teria estabelecido de maneira tão inexpugnível no necessário. E da
consciência disso ele deveria extrair a lição de que deve confiar em seus
desejos, que mesmo quando a sua satisfação parece remota, o mal-estar que
ocasionam ainda é o melhor guia da sua vida, e o levará a questões
totalmente além de sua atual capacidade de ver.
Podem-se as suas extravagâncias, modere-se o homem, e ele estará desfeito."
("A Vontade de Crer", William James).
Podem-se as suas extravagâncias, modere-se o homem, e ele estará desfeito."
("A Vontade de Crer", William James).
"Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem
jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de
nadar contra a doce corrente tira parte
de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio
da ação, perco interiormente uma coisa muito suave de ser e que nada
substitui. Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me
levará". (Clarisse Lispector, "Aprendendo a viver", 2004).
sábado, 14 de março de 2020
Amada Lispector, arrebentando.....
'(...) E não esquecer, ao começar o trabalho, o estar preparada para estar enganada. Não esquecer que o erro muitas vezes tinha se tornado o meu caminho. Sempre que não era verdade o que pensava ou sentia, então se produzia um fosso. Tivesse tido coragem, já teria entrado por ele. Mas sempre senti medo do delírio e do erro. Meu erro, no entanto, deveria ser o caminho de uma verdade: Pois apenas quando me engano saio do que conheço e compreendo. Se a 'verdade' fosse aquilo que posso entender, terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.' Clarice Lispector.
'(...) E não esquecer, ao começar o trabalho, o estar preparada para estar enganada. Não esquecer que o erro muitas vezes tinha se tornado o meu caminho. Sempre que não era verdade o que pensava ou sentia, então se produzia um fosso. Tivesse tido coragem, já teria entrado por ele. Mas sempre senti medo do delírio e do erro. Meu erro, no entanto, deveria ser o caminho de uma verdade: Pois apenas quando me engano saio do que conheço e compreendo. Se a 'verdade' fosse aquilo que posso entender, terminaria sendo apenas uma verdade pequena, do meu tamanho.' Clarice Lispector.
Baudelaire
" Eu entendo por que o homem racional e espiritual é
servido de meios artificiais para chegar à beatitude poética, desde que
o entusiasmo e a vontade bastam para elevá-lo a uma existência
supernatural. Os grandes poetas, os filósofos, os profetas, são seres
que, pelo puro e livre exercício da vontade, conseguem chegar a um
estado em que são ao mesmo tempo causa e efeito, sujeito e objeto,
hipnotizador e sonâmbulo ".
Encontro de Barberau em "Os Paraísos Artificiais" (1860), de Charles Baudelaire. Trazida do Nojo
Encontro de Barberau em "Os Paraísos Artificiais" (1860), de Charles Baudelaire. Trazida do Nojo
Verdade para quem???
" O que é a verdade? Um exército móvel de metáforas,
metonimias, antropomorfismos, numa palavra, uma soma de relações
humanas que foram realçadas, extrapoladas, enfeitadas poética e
retoricamente e que, após um uso prolongado, um povo lhe parecem fixas,
canônicas, obrigatórias :..."
F. Nietzsche. Sobre verdade e mentira em sentido extramoral (1873)
F. Nietzsche. Sobre verdade e mentira em sentido extramoral (1873)
sexta-feira, 13 de março de 2020
" Ovídio, mais uma vez, em suas Metamorfoses, III, 414-428 nos relata a grande tragédia.
Deitou-se e tentando matar a sede,
Outra mais forte achou. Enquanto bebia,
Viu-se na água e ficou embevecido com a própria imagem.
Julga corpo, o que é sombra, e a sombra adora.
Extasiado diante de si mesmo, sem mover-se do lugar,
O rosto fixo, Narciso parece uma estátua de mármore de Paros.
Deitado, contempla dois astros: seus olhos e seus cabelos,
Dignos de Baco, dignos também de Apolo;
Suas faces ainda imberbes, seu pescoço de marfim,
A boca encantadora, o leve rubor que lhe colore a nívea pele.
Admira tudo quanto admiram nele.
Em sua ingenuidade deseja a si mesmo.
A si próprio exalta e louva. Inspira ele mesmo os ardores sente.
Deitou-se e tentando matar a sede,
Outra mais forte achou. Enquanto bebia,
Viu-se na água e ficou embevecido com a própria imagem.
Julga corpo, o que é sombra, e a sombra adora.
Extasiado diante de si mesmo, sem mover-se do lugar,
O rosto fixo, Narciso parece uma estátua de mármore de Paros.
Deitado, contempla dois astros: seus olhos e seus cabelos,
Dignos de Baco, dignos também de Apolo;
Suas faces ainda imberbes, seu pescoço de marfim,
A boca encantadora, o leve rubor que lhe colore a nívea pele.
Admira tudo quanto admiram nele.
Em sua ingenuidade deseja a si mesmo.
A si próprio exalta e louva. Inspira ele mesmo os ardores sente.
É uma chama que a si própria alimenta.
Quantos beijos lançados às ondas enganadoras!
Para sustentar o pescoço ali refletido, quantas vezes
Mergulhou inutilmente suas mãos nas águas.
O mesmo erro que lhe engana os olhos, acende-lhe a paixão.
Crédulo menino, por que buscas, em vão, uma imagem fugitiva?
O que procuras não existe. Não olhes e desaparecerá o objeto de teu amor.
A sombra que vês é um reflexo de tua imagem.
Nada é em si mesma: contigo veio e contigo permanece.
Tua partida a dissiparia, se pudesses partir …
Inútil: sustento, sono, tudo esqueceu.
Estirado na relva opaca, não se cansa de olhar seu falso enlevo,
E por seus próprios olhos morre de amor."
Citação: Junito Brandão - Mitologia Grega / Vol II
Imagem: Michelangelo Merisi da Caravaggio
Narciso (1598-1599) - Óleo sobre tela (122 x 92) - Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma
Quantos beijos lançados às ondas enganadoras!
Para sustentar o pescoço ali refletido, quantas vezes
Mergulhou inutilmente suas mãos nas águas.
O mesmo erro que lhe engana os olhos, acende-lhe a paixão.
Crédulo menino, por que buscas, em vão, uma imagem fugitiva?
O que procuras não existe. Não olhes e desaparecerá o objeto de teu amor.
A sombra que vês é um reflexo de tua imagem.
Nada é em si mesma: contigo veio e contigo permanece.
Tua partida a dissiparia, se pudesses partir …
Inútil: sustento, sono, tudo esqueceu.
Estirado na relva opaca, não se cansa de olhar seu falso enlevo,
E por seus próprios olhos morre de amor."
Citação: Junito Brandão - Mitologia Grega / Vol II
Imagem: Michelangelo Merisi da Caravaggio
Narciso (1598-1599) - Óleo sobre tela (122 x 92) - Galleria Nazionale d'Arte Antica, Roma
quinta-feira, 12 de março de 2020
Estou preso nesta contradição: de um lado, creio conhecer o outro melhor
do que ninguém e afirmo isso triunfalmente a ele ("Eu te conheço. Só eu
te conheço bem!"); e, por outro lado,
sou frequentemente assaltado por essa evidência: o outro é impenetrável,
raro, intratável; não posso abri-lo, chegar até a sua origem, desfazer o
enigma. De onde ele vem? Quem é ele? Por mais que eu me esforce não o
saberei nunca.
Roland Barthes. Fragmentos de um discurso amoroso, pag. 134.
Roland Barthes. Fragmentos de um discurso amoroso, pag. 134.
“ Freud reconheceu o valor fálico do amor... " Para Lacan " o ser
fálico, única identificação que sustenta o ser mulher, sustenta-se no
amor. Não é o que acontece com o homem,
cuja virilidade se afirma pelo lado de ter, pela potência sexual. O ser
mulher sustenta-se duplamente no amor, na medida em que o “ser amada”
equivale a “ser o falo” e também na medida em que só se ama a partir da
própria falta . Assim, podemos dizer: o amor, feminino.” Colette Soler ,
“O que Lacan dizia das mulheres “
Obra de Claude Monet
"O homem, ao nascer, é suave e flexível; ao morrer, fica rígido
e duro. As plantas, ao nascer, são tenras e flexíveis; ao morrer,
ficam duras e secas. O duro e rígido são propriedades da morte.
O flexível e o brando são propriedades da vida. Por isso, a fortaleza das armas é a causa da sua derrota e a árvore robusta é abatida.
O duro e o forte são inferiores. O brando e o frágil são superiores."
Tao Te Ching
e duro. As plantas, ao nascer, são tenras e flexíveis; ao morrer,
ficam duras e secas. O duro e rígido são propriedades da morte.
O flexível e o brando são propriedades da vida. Por isso, a fortaleza das armas é a causa da sua derrota e a árvore robusta é abatida.
O duro e o forte são inferiores. O brando e o frágil são superiores."
Tao Te Ching
quarta-feira, 11 de março de 2020
Naufrágio
Após um naufrágio, o único sobrevivente agradeceu a Deus por estar vivo e ter conseguido se agarrar a parte dos destroços para poder ficar boiando. Este único sobrevivente foi parar em uma pequena ilha desabitada e fora de qualquer rota de navegação, e ele agradeceu novamente.
Com muita dificuldade e restos dos destroços, ele conseguiu montar um pequeno abrigo para que pudesse se proteger do sol, da chuva e de animais e para guardar seus poucos pertences, e como sempre agradeceu.
Nos dias seguintes a cada alimento que conseguia caçar ou colher, ele
agradecia. No entanto um dia quando voltava da busca por alimentos, ele
encontrou o seu abrigo em chamas, envolto em altas nuvens de fumaça.
Terrivelmente desesperado ele se revoltou, gritava chorando: “O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?” Chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado.
No dia seguinte bem cedinho, foi despertado pelo som de um navio que se aproximava.
- “Viemos resgatá-lo”, disseram.
- “Como souberam que eu estava aqui?”, perguntou ele.
- “Nós vimos o seu sinal de fumaça”.
(Autor desconhecido)
Terrivelmente desesperado ele se revoltou, gritava chorando: “O pior aconteceu! Perdi tudo! Deus, por que fizeste isso comigo?” Chorou tanto, que adormeceu, profundamente cansado.
No dia seguinte bem cedinho, foi despertado pelo som de um navio que se aproximava.
- “Viemos resgatá-lo”, disseram.
- “Como souberam que eu estava aqui?”, perguntou ele.
- “Nós vimos o seu sinal de fumaça”.
(Autor desconhecido)
terça-feira, 10 de março de 2020
"FLEXIBILIDADE"
"A primeira virtude do ar é a flexibilidade. Por esse motivo, o ar nunca colide com nada. Seja qual for o obstáculo, o ar sempre passará ao redor. Isto nos ensina a evitar confrontos com as pessoas. Mesmo quando temos diferentes opiniões, se optamos por acomodá-las em nossa mente, nunca entraremos em conflito. Sempre é melhor passar por cima dos obstáculos do que bater nossa cabeça contra eles. Essa atitude permite economizar tempo, energia e paz na mente."
Brahma Kumaris.
Compartilhado de Renata Mendes
"A primeira virtude do ar é a flexibilidade. Por esse motivo, o ar nunca colide com nada. Seja qual for o obstáculo, o ar sempre passará ao redor. Isto nos ensina a evitar confrontos com as pessoas. Mesmo quando temos diferentes opiniões, se optamos por acomodá-las em nossa mente, nunca entraremos em conflito. Sempre é melhor passar por cima dos obstáculos do que bater nossa cabeça contra eles. Essa atitude permite economizar tempo, energia e paz na mente."
Brahma Kumaris.
Compartilhado de Renata Mendes
Assinar:
Postagens (Atom)