terça-feira, 24 de julho de 2018

O Homem e o Mar

O HOMEM E O MAR

Homem livre, o oceano é um espelho fulgente Que tu sempre hás-de amar. 

No seu dorso agitado,
Como em puro cristal, contemplas, retratado, 
Teu íntimo sentir, teu coração ardente.
Gostas de te banhar na tua própria imagem.
Dás-lhe beijo até, e, às vezes, teus gemidos
Nem sentes, ao escutar os gritos doloridos,
As queixas que ele diz em mística linguagem.
Vós sois, ambos os dois, discretos tenebrosos;
Homem, ninguém sondou teus negros paroxismos,
Ó mar, ninguém conhece os teus fundos abismos;
Os segredos guardais, ávaros, receosos!
E há séculos mil, séculos inumeráveis,
Que os dois vos combateis numa luta selvagem,
De tal modo gostais numa luta selvagem,
Eternos lutadores, ó irmãos implacáveis!

Charles Baudelaire

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