sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

Ode à transgressão

– Toda a questão consiste em que, no artigo dele, todos os indivíduos se dividiriam em “ordinários” e “extraordinários”. Os ordinários devem viver na obediência e não têm o direito de infringir a lei porque eles, vejam só, são ordinários. Já os extraordinários têm o direito de cometer toda sorte de crimes e infringir a leia de todas as maneiras precisamente porque são extraordinários. É assim, parece, que está em seu artigo, se não me engano, não é?
– Ora, como é que pode? Não é possível que esteja assim! – balbuciou perplexo Razumíkhin.
Raskólnikov tornou a sorrir. Compreendeu num instante em que consistia a questão e para onde queriam empurrá-lo; estava lembrado do seu artigo. Decidiu aceitar o desafio.
– Não é exatamente assim que está em meu artigo – começou ele com simplicidade e modéstia. – Pensando bem, reconheço que o senhor o expôs quase fielmente; até mesmo, se quiser, com absoluta fidelidade (...) A única diferença é que eu, de modo algum, insisto em que as pessoas extraordinárias devam e sejam forçosamente obrigadas a cometer sempre toda sorte de desmandos, como o senhor diz. (...)
Eu insinuei pura e simplesmente que “o homem extraordinário têm o direito... ou seja, não o direito oficial, mas ele mesmo tem o direito de permitir à sua consciência passar... por cima de diferentes obstáculos, e unicamente no caso em que a execução da sua ideia ( às vezes salvadora, talvez, para toda a humanidade) o exija. (...) concordo que ela é um tanto arbitrária, mas acontece que eu não chego a insistir em números exatos. É só na minha ideia central que eu acredito.
Ela consiste precisamente em que os indivíduos, por lei da natureza, dividem-se geralmente em duas categorias: uma inferior (a dos ordinários), isto é, por assim dizer, o material que serve unicamente para criar seus semelhantes; e propriamente os indivíduos, ou seja, os dotados de dom ou talento para dizer em seu meio a palavra nova. Aqui as subdivisões, naturalmente, são infinitas, mas os traços que distinguem ambas as categorias são bastante nítidos: em linhas gerais, formam a primeira categoria, ou seja, o material, as pessoas conservadoras por natureza, corretas, que vivem na obediência e gostam de ser obedientes. A meu ver, elas são obrigadas a ser obedientes porque esse é o seu destino, e nisso não há decididamente nada de humilhante para elas.
Formam a segunda categoria todos os que infringem a lei, os destruidores ou inclinados a isso, a julgar por suas capacidades. Os crimes desses indivíduos, naturalmente, são relativos e muito diversos; em sua maioria eles exigem, em declarações bastante variadas, a destruição do presente em nome de algo melhor Mas se um deles, para realizar sua ideia, precisar passar por cima ainda que seja de um cadáver, de sangue, a meu ver ele pode se permitir, no seu interior, na sua consciência passar por cima do sangue – todavia, conforme a ideia e suas dimensões – observe isso. É só neste sentido que eu falo do direito deles ao crime no meu artigo. (...) Aliás não há motivo para muita inquietação: a massa quase nunca lhes reconhece esse direito, ela os justiça e enforca (mais ou menos) e assim, de forma absolutamente justa, cumpre o seu destino conservador para, não obstante, nas gerações seguintes, essa mesma massa colocar os mesmos executados no pedestal e reverenciá-los (mais ou menos).
A primeira categoria é sempre de senhores do presente, a segunda, de senhores do futuro. Os primeiros conservam o mundo e o multiplicam em número; os segundos fazem o mundo mover-se e o conduzem para um objetivo. Tantos uns quanto os outros têm o mesmo direito de existir. Numa palavra, no meu artigo todos têm direito idêntico (...)
Em linhas gerais, as pessoas de pensamento novo, mesmo aquelas com um mínimo de capacidade para dizer ao menos alguma coisa nova, nascem em número inusitadamente baixo, até estranhamente baixo. A única coisa clara é que a ordem de nascimento das pessoas de todas essas categorias e subdivisões provavelmente é determinada, de modo bastante certo e preciso, por alguma lei da natureza. Essa lei, é claro, é hoje desconhecida, mas eu acredito que ela existe e posteriormente pode vir a ser conhecida.
A imensa massa de pessoas, o material, existe unicamente no mundo para, através de algum esforço, por algum processo até hoje misterioso, por meio de algum cruzamento de espécies e raças, finalmente fazer uma forcinha e acabar gerando em mil ao menos um indivíduo com autonomia, ainda que seja pouca. Talvez em cada dez mil nasça um (falo em termos aproximados, evidentes) com autonomia ampla, e em cada cem il nasça um com autonomia ainda mais ampla. Dos indivíduos geniais nasce um entre milhões, e dos grandes gênios, os que dão acabamento à humanidade, nasce um após a passagem de muitos milhares de milhões na face da terra. Numa palavra, não dei uma olhada na retorta em que tudo isso acontece. Mas existe forçosamente e deve existir certa lei: aqui não pode haver acaso.
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[Fiódor Dostoiévski. In: Crime e Castigo - Terceira parte ]

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segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

" Na metade de uma aula em uma universidade, um dos alunos, inesperadamente perguntou ao professor:

- você sabe como se capturam os porcos selvagens?


O professor achou que era uma piada e esperava uma resposta engraçada. O jovem respondeu que não era uma piada, e com seriedade começou sua dissertação:


- você captura porcos selvagens encontrando um lugar adequado na floresta e puxando um pouco de milho no chão. Os porcos vêm diariamente a comer o milho de grátis. Quando se acostumam a vir diariamente, você constrói uma cerca ao lado do local onde eles se acostumaram a vir. Quando se acostumam com a cerca, eles voltam para comer o milho e você constrói outro lado da cerca...


Eles voltam a acostumar-se e voltam a comer. Você vai pouco a pouco até instalar os quatro lados do cercado em torno dos porcos, no final instala uma porta no último lado. Os porcos já estão habituados ao milho fácil e às cercas, começam a vir sozinhos pela entrada. É aí quando você fecha o portão e captura a todo o grupo.
Simples assim, em um segundo, os porcos perdem sua liberdade. Eles começam a correr em círculos dentro da cerca, mas já estão sujeitos. Depois, começam a comer o milho fácil e gratuito. Ficam tão acostumados a isso que esquecem como caçar por si mesmos, e por isso aceitam a escravidão; mais ainda, mostram-se gratos com os seus captores e por gerações vão felizes ao matadouro.


O jovem comentou com o professor que era exatamente isso que ele via acontecer no seu país, no seu estado, em sua cidade, no seu povo."


E também na sociedade, nas instituições que frequenta, na própria estrutura familiar.


Seja livre. Reconheça a sua Luz.
"Todo ser humano é um estranho impar".



Texto e imagem compartilhados do
Projeto Estranha Força
de Edilene Torino


domingo, 25 de dezembro de 2016

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Pra quê ????


Quando a consciência se torna uma chama, queima toda a escravidão que a mente criou."
Osho.

Compartilhado do FB página de Manuel Lourenço

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Compartilhado do FB página Projeto Estranha Força
de Edilene Torino

sábado, 10 de dezembro de 2016

Relatividades absolutas











Vivemos na intersecção de nossas relatividades afins buscando, às apalpadelas, construir o mosaico para um Devir, finalmente, Absoluto. Somos nossa própria experiência, uma eterna especialidade em construção."Eu", Gildo, creio que somos cristalizados, absolutamente, através de cada relatividade.