segunda-feira, 31 de maio de 2021

Fernando Pessoa, sobre a finitude...

 

Não tenhas nada nas mãos, nem uma memória na alma,

Que quando te puserem nas mãos o óbolo último,

Ao abrirem-te as mãos, nada te cairá.

Que trono te querem dar que Átropos(1) te não tire?

Que louros que não fanem(2) nos arbítrios de Minos?

Quais as horas que te não tornam da estatura da sombra?

Que serás quando fores na noite e ao fim da estrada?

Colhe as flores mas larga-as, das mãos mal as olhaste.

Senta-te ao sol. Abdica. E sê rei de ti próprio.

Fernando Pessoa

 

1. Átropos, mitologia grega, a última das moiras que cortava o fio da vida.

2. fanem, do verbo fanar, aparar, cortar.


 

« Il y a toujours quelque chose d'absent qui me tourmente ».
Camile Claudel.
 
"Há sempre algo de ausente que me atormenta".
Camile Claudel.
 
 
Compartilhado de Jorge Sesarino

domingo, 30 de maio de 2021

"Você tem o direito de se achar quando conseguir achar onde se encontra".

Gildo Fonseca.
 

sábado, 29 de maio de 2021

.. uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida.

 

Clarice Lispector,  Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres (1969)

sexta-feira, 28 de maio de 2021


 


 

Para refletir: o que nos aproxima?

"Para a criança no ser humano, a noite permanece a costureira de estrelas. Ela junta sem costura, sem bainha e sem linha. Ela é costureira porque só trabalha com a proximidade. 
 
(Heidegger, filósofo alemão)
 

Foto: Nasa - Comp. pg. Experiências filosóficas.

terça-feira, 25 de maio de 2021

"Mentia com tanta ênfase que até mesmo o contrário do que dizia estava longe de ser a verdade.". 

STANISLAW P. PRETA

domingo, 23 de maio de 2021

Sensibilidade em Bukowski

A dor é uma coisa estranha. Um gato mata um pássaro, um carro acidentado, um incêndio... chega a dor e pronto, ali se instala, se introduz em você. É real. E para qualquer um que te veja parecerás um imbecil. Como se você caísse numa idiotice repentina. Não há cura para isso enquanto você não encontrar alguém que compreenda como você está se sentindo e saiba como te ajudar. Charles Bukowski.

sábado, 22 de maio de 2021

Solidão e solitudes...

 

"No meio da multidão vivo como a maioria e não penso por mim mesmo. Depois de um tempo acabo tendo a sensação de que meu entorno quer me banir de mim mesmo e tirar a minha alma, e começo a me ressentir e a temer a todos. Portanto, preciso do deserto pois ele me será bom novamente."   Nietzsche


 

 “A felicidade é a aceitação corajosa da vida.”  Erich Fromm

"A alma move toda a massa do mundo."

Virgílio

 

sexta-feira, 21 de maio de 2021


 

O Ser, em seus inúmeros esforços para existir, bebe da sua inexorável Coragem subjacente !!!

Coragem
 
“A semente não pode saber o que lhe vai acontecer, a semente jamais conheceu a flor. E a semente não pode nem mesmo acreditar que traga em si a potencialidade para transformar-se em uma bela flor. Longa é a jornada. E sempre será mais seguro não entrar nela, porque o percurso é desconhecido, e nada é garantido... mil e uma são as incertezas da jornada, muitos são os imprevistos - e a semente sente-se em segurança, escondida no interior de um caroço resistente. Ainda assim ela arrisca, esforça-se; desfaz-se da carapaça dura que é a sua segurança, e começa a mover-se. A luta começa no mesmo momento: a batalha com o solo, com as pedras, com a rocha. A semente era muito resistente, mas a plantinha será muito, muito delicada, e os perigos serão muitos.
 
Não havia perigo para a semente, a semente poderia ter sobrevivido por milênios, mas para a plantinha os perigos são muitos. O brotinho lança-se, porém, ao desconhecido, em direção ao sol, em direção à fonte de luz, sem saber para onde, sem saber por quê. Enorme é a cruz a ser carregada, mas a semente está tomada por um sonho e segue em frente. 
 
Semelhante é o caminho para o homem. É árduo. Muita coragem será necessária”. 
 
Esta descrição da carta me faz refletir sobre todos os momentos em que precisamos ser como a semente: aceitar o campo em que caímos e, mesmo dentro de um casca rija, acreditar nos nossos sonhos e romper esta casca, olhando em volta, intuindo onde estamos e para onde vamos
.
Se o ambiente for inóspito, temos que, pacientemente, esperar pela chuva e pelo sol que vêm fortalecer nosso crescimento. Temos que encontrar uma brecha entre as pedras e os espinhos para serpentear nosso caule e abrir nossa copa e nossas flores debaixo do vasto céu azul que nos espera.
 
Texto Tarô Osho

"As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros."
 
Oscar Wilde
 
 
Compartilhado de Alma de Borboleta

Heidegger, sempre maravilhoso: "O erguer-se seguro torna visível o espaço invisível do ar". O texto abaixo é uma análise profunda sobre o emergir da criação e sua cristalização perante nossa percepção, repleto de expressões sutis nas entrelinhas. Uma dança de contrastes entre Consciência e o que a consubstancia.
 
Gildo Fonseca.
 
 
Aí de pé, a obra arquitetônica repousa sobre o solo rochoso. Este assentar da obra extrai da rocha a obscuridade do seu suportar rude e, no entanto, a nada impelido. Aí de pé, a obra arquitetônica resiste à tempestade furiosa que sobre ela se abate, e, desta forma, revela pela primeira vez a tempestade em toda a sua violência. Só o brilho e o fulgor da rocha, que aparecem eles mesmos apenas graças ao Sol, fazem, no entanto, aparecer brilhando a claridade do dia, a amplitude do céu, a escuridão da noite. O erguer-se seguro torna visível o espaço invisível do ar. O caráter imperturbado da obra destaca-se ante a ondulação da maré e deixa aparecer, a partir do seu repouso, o furor dela. A árvore e a erva, a águia e o touro, a serpente e o grilo conseguem, pela primeira vez, alcançar a sua figura mais nítida e, assim, vêm à luz como aquilo que são. Desde cedo, os gregos chamaram a este mesmo surgir e irromper, no seu todo, a Φύσις [phýsis].
 
Martin Heidegger: "Origem da Obra de Arte", p. 39. Lisboa: Edição Fundação Calouste Gulbenkian, 1998.
 
Escultura: Fonte Netuno, por Bartolomeo Ammannati, em Piazza Della Signoria, Florença, Itália.

quarta-feira, 19 de maio de 2021

Um sentido para os sentidos...

 

O sentido só pode surgir da obscuridade, do Incriado em nós,  pois o sentido é dinâmico, filho de um instante perceptivo e se esvai no  momento seguinte, prenhe de novas concepções.

Gildo Fonseca.

Os pássaros voam porque não têm ideologias.
 
Millôr Fernandes

O Nascimento do Prazer (trecho)

O prazer nascendo dói tanto no peito que se prefere sentir a habituada dor ao insólito prazer. A alegria verdadeira não tem explicação possível, não tem a possibilidade de ser compreendida – e se parece com o início de uma perdição irrecuperável. Esse fundir-se total é insuportavelmente bom – como se a morte fosse o nosso bem maior e final, só que não é a morte, é a vida incomensurável que chega a se parecer com a grandeza da morte. Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos – pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida. Essa película pode consistir em qualquer ato formal protetor, em qualquer silêncio ou em várias palavras sem sentido. Pois o prazer não é de se brincar com ele. Ele é nós.
 
Clarice Lispector - A descoberta do mundo: crônicas – Página 159.

 
Se rejeitares qualquer percepção dos sentidos e não distinguires entre aquilo que supuseste em razão da simples expectativa e aquilo que realmente pudeste perceber, ou seja, entre sensação e imaginação, rejeitarás igualmente, pela tua opinião errônea, todas as outras percepções dos sentidos e perderás, desse modo, todo o critério.
 
Se por outro lado, aceitares como positivas as mesmas percepções, considerando como duvidosas as noções baseadas nas expectativas e tudo aquilo que não for confirmado pelos sentidos, não terás dúvida sobre aquilo que é ilusório, de maneira que será capaz de controlar qualquer discórdia no teu íntimo, e também a decisão sobre o que estiver certo ou errado.
 
Epicuro. In: Pensamentos - Aforismos

terça-feira, 18 de maio de 2021

"É preciso que um espírito destemido flerte com o insano a fim de que, ingressando no labirinto do inconsciente, retorne dessa jornada com percepções inusitadas e relevantes sobre a condição humana."

segunda-feira, 17 de maio de 2021

Um doce acalanto para nossa alma cansada, nosso interior, nosso coração...

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dorme, meu amor, que o mundo já viu morrer mais
este dia e eu estou aqui, de guarda aos pesadelos.
Fecha os olhos agora e sossega — o pior já passou
há muito tempo; e o vento amaciou; e a minha mão
desvia os passos do medo. Dorme, meu amor —
a morte está deitada sob o lençol da terra onde nasceste
e pode levantar-se como um pássaro assim que
adormeceres. Mas nada temas: as suas asas de sombra
não hão-de derrubar-me — eu já morri muitas vezes
e é ainda da vida que tenho mais medo. Fecha os olhos
agora e sossega — a porta está trancada; e os fantasmas
da casa que o jardim devorou andam perdidos
nas brumas que lancei ao caminho. Por isso, dorme,
meu amor, larga a tristeza à porta do meu corpo e
nada temas: eu já ouvi o silêncio, já vi a escuridão, já
olhei a morte debruçada nos espelhos e estou aqui,
de guarda aos pesadelos — a noite é um poema
que conheço de cor e vou cantar-to até adormeceres.
 
Maria do Rosário Pedreira, em «O Canto do Vento dos Ciprestes»
 
Arte - Catherine Yastrebova - Compartilhado da página Sonhar a realidade

domingo, 16 de maio de 2021

Todo barro é semente de escultura...

"Não desespereis com a espécie humana. Com o tempo, o barro converte-se em mármore". Pitágoras.

"Talvez devamos amar o que não conseguimos compreender".

Albert Camus

O DESTINO É UMA SINAPSE.
 
“Quando a dor de não estar vivendo for maior que o medo da mudança, a pessoa muda” já dizia Freud.
 
Mudanças são inexoráveis.
 
Dos 50 trilhões de células do nosso organismo pelo menos 300 milhões são renovadas a cada minuto, assim também, em cada instante, em cada fragmento perceptivo, mudamos nosso entendimento. Novas referências, novos padrões se apresentam, um infinito de possibilidades, um show de situações diferentes, sensações, momentos, afetos e racionalizações. “Não me pergunte quem sou e não me diga para permanecer o mesmo” como dizia Foucault.
 
Esse perene processo de mudança é a morfina de um pretenso compreender, encobre um desejoso olhar profundo na resposta de cada momento. Esse volátil, fugaz e transitório entendimento sempre será impactado pelos limites chocantes, alegres ou dolorosos, e por nossas reações diante das vivências anteriores ou pelas expectativas de nossa imaginação.
 
A imponderabilidade que se apresenta por fatores desconhecidos, que deslavada e jocosamente demonstra como é pretensioso o nosso controle das coisas, se demonstra senhora do destino. Quando o “doente”, conscientemente terminal ou não, atinge os limites da dor, então lhe são concedidos opióides, fascinadores, para que consiga suportar o momento e voltar à uma relativa “normalidade” consciencial.
 
A botânica define “muda” como “planta jovem tirada do viveiro para plantação definitiva ou pequeno galho retirado de planta adulta e introduzido na terra em outro local, onde se transformará num novo espécime da planta original”.
 
Também somos todos perenes sementes, mudas de consciências mudas, pelo impacto das impermanências que nem chegam a permitir a racionalização da intensidade de cada momento presente, em cada um de nossos mergulhos nas águas voláteis de todo entendimento. No esterco fértil de cada fascinação nos transformamos, em cada instante, em novo espécime da nossa planta original.”
 
Gildo Fonseca.

"Com o tempo, o ovo se tornou um ovo de galinha. Não o é. Mas, adotado, usa-lhe o sobrenome. Deve-se dizer 'o ovo da galinha'. Se se disser apenas 'o ovo', esgota-se o assunto, e o mundo fica nu."

 O ovo e a galinha, Clarice Lispector
 
Comp. do FB, Tempo de Morangos

 "O inferno nada pode contra os pagãos."

 
ARTHUR RIMBAUD - 'Noite no Inferno' - In: "Uma Estadia no Inferno"

"Tua memória e teus sentidos serão o único alimento de teu impulso criativo."

(ARTHUR RIMBAUD - 'III Vinte Anos' - In: "Iluminuras")

"Ex Nihilo" (detalhe), 1978-1984 - Frederick Hart
 
Comp. do FB, pg. Ars Poetica

"Nossas possibilidades de felicidade sempre são restringidas por nossa própria constituição. Já a infelicidade é muito menos difícil de experimentar. O sofrimento nos ameaça a partir de três direções: de nosso próprio corpo, condenado à decadência e à dissolução, e que nem mesmo pode dispensar o sofrimento e a angústia como sinais de advertência; do mundo externo, que pode voltar-se contra nós com forças de destruição  esmagadoras e impiedosas; e, finalmente, de nossos relacionamentos com os outros homens. O sofrimento que provém dessa última fonte talvez nos seja mais penoso do que qualquer outro. Tendemos a encará-lo como uma espécie de acréscimo gratuito, embora ele não possa ser menos fatidicamente inevitável do que o sofrimento oriundo de outras fontes".
 
Sigmund Freud, O mal estar na cultura.
 
Compartilhado do FB, pg. Jorge Sesarino