sexta-feira, 31 de março de 2023

Nietzsche, direto na veia...

"Fabrico significados para enfrentar de alguma maneira o pavor de ser frágil dentro de um universo sem sentido." 
 
Friedrich Nietzsche


 

Oxigênio da impermanência...

Uma pessoa é um processo fluido, não é uma entidade fixa e estática; é um rio de mudança fluindo, não é um bloco de material sólido; é uma constelação de potencialidades em constante mudança, não uma quantidade fixa de traços.
 
Carl R. Rogers

O processo nauseante, por Roquentin...

“Existo, e sei que o mundo existe. Isso é tudo. Mas tanto faz para mim. É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta. Gostaria tanto de me abandonar, me esquecer, dormir. Mas não posso, eu sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… E subitamente, num instante, o véu se rasga: eu compreendi, eu vi. Não posso dizer que me sinta aliviado ou contente; ao contrário, isso me esmaga. Mas minha finalidade foi atingida: eu sei o que eu queria saber. A náusea não me abandonou e não creio que me abandone tão cedo; mas já não sofro, não é mais uma doença ou uma febre passageira, eu sou a náusea". 
 
Reflexões do "angustiado" personagem Roquentin em A Náusea, de Jean Paul Sartre.
 
Sartre era um desconhecido até 1938 quando Gallimard decidiu publicar "A náusea". Tinha completado 26 anos e tinha passado um ano e meio em Berlim, coincidindo com a chegada de Hitler ao poder. Durante essa fase, Sartre dedicou o seu tempo a ler Husserl e Heidegger, os dois pensadores sem os quais a sua obra não pode ser compreendido.

segunda-feira, 27 de março de 2023

(August Rodin, escultura "Danaid", Paris - FRANÇA, 1885.)
 
O espírito esboça, mas é o coração que modela.
 
Auguste Rodin.

domingo, 26 de março de 2023

 "Tudo é caro demais quando não é necessário". James Joyce

sábado, 25 de março de 2023

Shakespeare, Kafka, Beckett. Contrastes...

“Se compararmos Shakespeare e Kafka, deixando de parte o grau de genialidade de cada um, e considerando ambos apenas opositores do sofrimento do homem e da alienação cósmica, é Kafka quem faz o relato mais intenso e completo. E, de fato, o julgamento pode estar correto, exatamente porque, para Kafka, o sentimento do mal não é contraposto ao sentimento da identidade pessoal. O mundo de Shakespeare, tanto quanto o de Kafka, é aquela cela de prisão que Pascal diz ser o mundo, e, da qual diariamente, os prisioneiros são levados para morrer; Shakespeare, não menos que Kafka, impõe-nos a irracionalidade cruel das contradições da vida humana, a história contada por um idiota, os deuses pueris que nos torturam, não para nos castigarem mas por esporte; e não menos que Kafka, Shakespeare se revolta contra o mau cheiro da prisão que é esse mundo, e nada lhe é mais característico do que sua imagística do aborrecimento. Mas na cela de Shakespeare, a companhia é muito melhor que a de Kafka; os capitães e reis, amantes e palhaços de Shakespeare são vivos e completos antes de morrer. Em Kafka, muito antes de ser uma sentença executada, muito antes mesmo de ser iniciado o maléfico processo legal, algo de terrível foi feito ao acusado. Todos sabemos o que é — foi despojado de tudo que az um homem exceto sua humanidade abstrata que, como seu esqueleto, nunca serve realmente a um homem. Ficou sem pais, lar, mulher, filhos, missão ou anseios, não tem qualquer ligação com o poder, a beleza, o amor, a inteligência, a coragem, a lealdade ou a fama, o orgulho que deles pode provir[...] O esforço de comunicar o que significa ser na ausência de tais seguranças parece caracterizar a obra de vários autores e artistas de nossa época. Vida, sem sentir-se vivo.
Com Samuel Beckett, por exemplo, penetra-se num mundo em que não há nenhum sentimento contraditório do eu em sua ‘sanidade e validez’ para mitigar o desespero, o terror e o tédio da existência. É dessa forma que os dois vagabundos que esperam Godot estão condenados a viver:
ESTRAGON: Sempre achamos alguma coisa, que nos dá a impressão de existirmos, não é, Didi?
VLADMIR: (com impaciência): Sim, sim, somos mágicos. Mas perseveremos no que decidimos, antes de esquecer. ”
 
R.D. Laing, O Eu Dividido

quinta-feira, 23 de março de 2023

A CÓPULA DIALÉTICA DE PRETENSIOSAS VERDADES
 
"O excesso de verdades é pior que o erro". Pascal
 
O êxtase das contradições, semente da dinâmica espiral de novas verdades, vive no interlúdio, no lapso da consciência, entre vácuos de pretensa lucidez, no intervalo de fracionadas realidades, entre elos de contrastes que alimentam fugazes, contraditórias, voláteis, fugidias e pretensiosas percepções.
 
O erro, coadjuvante de tantas verdades individuais, alicerça nossos passos de navegantes nauseabundos no oceano do existir.
 
Nos interstícios de todos os sistemas binários, ou quânticos, em todas as manifestações, está, oculta, sob o véu da loucura e insensatez, a patética tentativa do Ente de levantar-se, de afirmar o "seguro" dentro de dinâmicas tão inseguras, um ponto dentro de retas, um finito dentro de tantos infinitos, "porquês" dentro de tantos "como".
 
A suposta razoabilidade, extasiante, do Instante Perceptivo é gozo embriagador, morfínico, da Consciência em trânsito, no ventre de Infinitos possíveis contidos em todo finito presente. Nossa Consciência, mera coadjuvante, é delimitada pelo protagonismo da cerca limitadora da percepção em cada evento, cerca carrasca, da danação onde queimam todas as nossas amarras e porquês. Escravos da Liberdade. Soberanos de nossas próprias limitações. Absolutos em cada Relatividade.
 
Gildo Fonseca.

“O lobo sempre será cruel se apenas ouvirmos a versão de Chapeuzinho Vermelho”.

Toda moeda tem duas faces.

"Por fim amamos o próprio desejo, e não o desejado".


Friedrich Nietzsche (1844 - 1900).

A Filosofia — diante do abismo de si
 
A filosofia é uma estrada que percorre os pontos mais elevados dos Alpes; para chegar até lá, é preciso galgar uma senda abrupta, que atravessa rochas pontiagudas e espinhaços poderosos; é um caminho solitário que se torna cada vez mais desolado a medida em que nos aproximamos do cume; quem o segue, não deve temer o assombro, mas deixa-lo inteiramente atrás de si, enquanto abre seu próprio caminho com perseverança através da fria neve. Com frequência o filosofo se depara subitamente diante um abismo hiante e, descendo ao longo dele, consegue dirigir o olhar até o vale verde que se estende muito além, lá embaixo nas planuras. Sofre então uma terrível sensação de vertigem; mas precisa superá-la, mesmo que para isso tenha de fixar as solas de seus pés sobre as rochas com o adesivo de seu próprio sangue. Passado esse momento, verá que todo o mundo se encontra abaixo de si, perceberá como desaparecem todas as terras pantanosas e a multidão dos desertos de areia, como se afastam todas as irregularidades, como todas as discordâncias ficam contidas no conjunto e não sobem até ele e é então que percebe realmente como o mundo é redondo. Enquanto isso, ele permanece sempre no ar puro e frio das alturas e pode contemplar o Sol, enquanto o mundo inferior domina ainda a negra escuridão da noite.
 
Arthur Schopenhauer,   in "Primeiros Manuscritos".


 


 

Arte de Lucinda Brown
 

 


Não há verdades absolutas. Todas as verdades são relativas e sujeitas a mudanças, conforme evolui nossa concepção de mundo e com o contato direto com as coisas pelos cinco sentidos.
O que você pensa hoje, não era o que pensava quando criança; e o que pensava, deseja e buscava na adolescência, não é o mesmo que busca na maturidade, tampouco o será na velhice. Somos todos sujeitos a influências várias que modificam e modelam o nosso pensamento em cada época. Fechar os olhos a isso, sem primeiramente refletir, seria escapar ao dinamismo que atua no Universo e no mundo. Tudo é mutável e está em constante mutação.

COSMOS HUMANOS, de Einstein
 
Nós tentamos fazer por nós mesmos e da forma que melhor nos convém, uma imagem simplificada e inteligível do mundo, para, em seguida, tentar, de alguma maneira, "transferir" este cosmos nosso para o nosso mundo da experiência e, assim, superá-lo.
Isto é o que o pintor, o poeta, o filósofo especulativo e o cientista natural fazem, cada um da sua própria maneira. Ele faz com o cosmos e sua construção, o pivô de sua vida emocional, a fim de encontrar, desta forma a paz e a serenidade que ele não consegue encontrar no turbilhão estreito da experiência pessoal ... É minha convicção [que] ... as leis gerais em que a estrutura da física teórica é baseada, deve apresentar-se válida para qualquer fenômeno natural. Com eles, deve ser possível chegar à descrição, isto é, a teoria, de cada processo natural, incluindo a vida, por meio de pura dedução, se esse processo de dedução não for muito além da capacidade do intelecto humano. A renúncia do físico sobre a completude do seu cosmo não é, portanto, apenas uma questão de princípio fundamental. A tarefa suprema do físico é chegar a essas leis universais elementares de que o cosmos pode ser construído por pura dedução. Não há nenhum caminho lógico para essas leis; intuição apenas, repousar, em uma simpática compreensão da experiência, pode permitir alcançá-las.
 
Albert Einstein, "Prinzipien der Forschung: Rede zum 60. Geburtstag von Max Planck "em Mein Weltbild pp 107-110 (1918) em The Collected Papers de Albert Einstein, vol. 7, é. 7 (2002) (S.H. trad.) Foto: Dream Sul por Kwon Chul

domingo, 19 de março de 2023

AN CORAGEM NAQUILO QUE SE ACREDITA.
UM CAIS NO CAOS. 
UM CAOS NO CAIS.
 
É preciso coragem para saber que se está perdido. A nebulosidade do incriado, ventre do porvir, flerta com o fantasma das culturas anteriores subjacentes que rodeiam nossas paragens.
 
Somos o torno de nossos entornos. Somos o tornar-se pois quando achamos que já somos, que encontramos, já não somos mais devido a estarmos no instante consciencial seguinte. O que se é, já se foi..
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Sou o que acredito que sou. Talvez soul. Mas minha crença me limita pois me define e me enquadra aniquilando assim, nesse instante, a essência tão volátil, flexível e ilimitada que apenas pode ser sentida. Tudo aquilo que ainda não sou, sou, ou posso ser.
 
O enquadrar-se, o explicar-se, o aculturar-se provoca a autofagia na proporção que engarrafa um infinito de possibilidades de tudo aquilo que ainda não se é, aliás nunca se é, porque se é apenas um tornar-se.
 
Ser e estar. Estar para ser. Ser para estar. Ao definirmos alguma coisa matamos todas as possibilidades de ser dessa coisa. Carregamos o finito limitado de nossas definições num conflito com o infinito ilimitado de todas as possibilidades que como um líquido amniótico nos envolve.
 
Se é aquilo que se acredita, apenas uma sinapse perceptiva. Talvez Potência como dizia Nietzsche. Qualquer pretensa suposição de uma verdade é limitada pelo infinito de possíveis ainda desconhecidos pela unilateralidade da concepção dessa imaginária verdade. 
 
Caminhamos para aquilo que ainda não se é, e que, e se, quando for, deixará de ser o que era pois já não é mais pela sua nova posição. Somos o fluxo. Envoltos em pueris capas, esboços de miragens cantadas por sereias de tantos desejos, verdades e pretensões.
 
Sou aquele que ainda não é. Talvez nunca seja pois se for, uma vez definido, estático, estarei morto. Já, se souber que não sou, serei aquele (ou aquilo) que passa pelo caminho emanado de nossas próprias percepções metamorfoseadas em cada circunstância, tateando em nebulosidades.
 
Ancorar pressupõe cais. Mas o caís da existência é volátil, circunstancial, fluídico, relativo. Um pretensioso conhecer. Achando um cais morro na inércia do instante conhecido que, no instante seguinte já ficou para trás, já virou passado, não existe mais. Se ficar, serei então um barco amarrado. Sou, mas o que fui já era e o que serei ainda não sou.
 
No vasto oceano do existir, qualquer protagonismo nosso é pretensão. No máximo coadjuvantes do imponderável devir. As bengalas das paixões, desejos, crenças, certezas e pressuposições demonstram que o caminhar por si mesmo é obra para o gigantismo interior de cada um a ser descortinado no esforço de um eterno vir a ser.
 
Existir é inenarrável pois o simbolismo perceptivo, tão relativo, flui, evolui, se transforma em cada fragmento de instante e a inexorabilidade da consciência é um pulsar, uma sinapse absoluta de uma pretensa lucidez em trânsito por eternas, talvez ternas, impermanências. Viva o Imponderável !!!
 
Gildo Fonseca

sexta-feira, 17 de março de 2023

Habitar e Salvar a Terra
 
Os mortais habitam à medida em que salvam a terra, tomando-se a palavra salvar em seu antigo sentido, ainda usado por Lessing. Salvar não diz apenas erradicar um perigo. Significa, na verdade: deixar alguma coisa livre em seu próprio vigor. Salvar a terra é mais do que explorá-la ou esgotá-la. Salvar a terra não é assenhorar-se da terra e nem tampouco submeter-se à terra, o que constitui um passo quase imediato para a exploração ilimitada.
 
Os mortais habitam à medida que acolhem o céu como céu. Habitam quando permitem ao sol e à lua a sua peregrinação, às estrelas a sua via, às estações dos anos as suas bênçãos e o seu rigor, sem fazer da noite dia e nem do dia uma agitação açulada. 
 
Os mortais habitam à medida em que aguardam os deuses como deuses. Esperando, oferecendo-lhes o inesperado. Aguardam o aceno de sua chegada sem deixar de reconhecer os sinais de suas errâncias. Não fazem de si mesmos deuses e não cultuam ídolos. No infortúnio, aguardam a fortuna então retraída. 
 
Os mortais habitam à medida que conduzem seu próprio vigor, sendo capazes da morte como morte, fazendo uso dessa capacidade com vistas a uma boa morte. 
 
Conduzir os mortais ao vigor essencial da morte não significa, de modo algum, ter por meta a morte, entendida como nada vazio; também não significa ofuscar o habitar através de um olhar rígido e cegamente obcecado pelo fim. 
 
Salvando a terra, acolhendo o céu, aguardando os deuses, conduzindo os mortais, é assim que acontece propriamente o habitar.
 
HEIDEGGER, Martin. Construir, Habitar, Pensar. [Ensaios e Conferências]. Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 130. - Obra de arte por Vincent Van Gogh, 1887.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Percepção, essa Força Infinita que preenche o Incriado, transcende as trivialidades e descortina seus véus nos interstícios das manifestações binárias.
 A Vida verdadeira, profunda, intensa, acontece além, muito além do espectro de mesclas e contrastes racionalizados de 0 e 1.
O vácuo, ventre da Consciência, aguarda sempre a semente do nosso próximo Devir. Nascemos nos Atos. Crescemos dos Atos.
Uma grande transa cósmica em pleno transe cósmico...
 
Gildo Fonseca.

É que o instrumento anímico não é fácil de tocar. Nessas ocasiões, não posso deixar de pensar nas palavras de um neurótico mundialmente famoso, que decerto nunca esteve em tratamento com um médico, pois viveu apenas na fantasia de um poeta. Refiro-me a Hamlet, Príncipe da Dinamarca. O Rei enviara dois cortesões para sondá-lo e arrancar dele o segredo de seu desgosto. Ele os repele; aparecem então algumas flautas no palco. Tomando uma delas, Hamlet pede a um de seus alfozes que a toque, o que seria tão fácil quanto mentir.
 
"Pois verde agora em que mísera coisa me transformais! Quereis tocar-me; (...) quereis arrancar o cerne de meu mistério; pretendeis extrair-me sons, de minha nota mais grave até o topo de meu diapasão; e embora haja muita música, excelente voz neste pequenino instrumento, não podeis fazê-lo falar. Pelo sangue de Cristo, julgais que sou mais fácil de tocar do que uma flauta? Chamai-me do instrumento que quiseres, pois se podeis desafinar-me, ainda assim não me podeis tocar" (Ato III, Cena 2) 
 
Freud (1905) "Sobre a Psicoterapia"

"O lúdico não é um luxo, algo agregado ao ser humano, que pode ser útil para se divertir: o lúdico é uma das armas centrais pelas quais o ser humano se conduz ou pode se conduzir pela vida a fora. O lúdico, não entendido como jogo de cartas ou partida de futebol: entendido como uma visão na qual as coisas deixam de ter suas funções estabelecidas para assumir muitas vezes funções bem diferentes, inventadas. O homem que habita um mundo lúdico é um homem colocado dentro de um mundo combinatório, de invenção combinatória, que está continuamente criando formas novas."
 
Julio Cortazar em "PREGO, Omar. 'O fascínio das palavras – entrevistas com Julio Cortázar'". [tradução de Eric Nepomuceno]. R de Janeiro: José Olympo, 1991, p 126.

 

O relógio de Hegel "particularidade pura".

"O agora que é apontado já deixou de ser, quando apontado."

 

"O que é a verdade? Um exército móvel de metáforas, metonímias, antropomorfismos, em uma palavra, uma soma de relações humanas que foram realçadas, extrapoladas, ornamentadas poética e retóricamente e que, após um longo uso, um povo parece fixo, canônico, obrigatório:... "
 
F. Nietzsche. Sobre verdade e mentira no sentido extra-moral (1873)

 

Lutei toda a minha vida contra a tendência ao devaneio, sempre sem jamais deixar que ele me levasse até as últimas águas. Mas o esforço de nadar contra a doce corrente tira parte de minha força vital. E, se lutando contra o devaneio, ganho no domínio da ação, perco interiormente uma coisa muito suave de ser e que nada substitui. Mas um dia hei de ir, sem me importar para onde o ir me levará.

(Clarisse Lispector, "Aprendendo a viver", 2004)

Existem três tipos de portas. As emparedadas, as trancadas e as que tornamos abertas por nossa volátil, forasteira, pretensiosa e fugidia Lucidez. Ela abre, cria, perfuma e inebria, oniricamente, os Caminhos deste Instante. Transgredir-Se é inexorável polinização de coloridos contrastes, doce néctar, doce náusea, respiro da Liberdade.

Gildo Fonseca

"A linguagem é a etiqueta das coisas ilusórias."
 
(Parmênides)

segunda-feira, 13 de março de 2023

“O que vemos depende principalmente do que procuramos.”

(Sir J.Lubbock)

domingo, 12 de março de 2023

ESPERANDO GODOT !!!
 
Conta a lenda que Samuel Beckett e James Joyce costumavam se encontrar frequentemente para longas conversas em silêncio. Joyce, aos cinquenta e tantos anos, era um mentor para o jovem Beckett – que quase se tornou genro do autor de Ulysses, empreitada que desistiu à medida em que a loucura de Lúcia Joyce se agravava.
 
A mudez, tanto das palavras quanto dos sentidos, permeia toda a obra de Beckett, se acentuando em Esperando Godot, a fábula de uma espera sem fim por alguém que nunca chega. Obra máxima do Teatro do Absurdo, escrita em 1949 e levada aos palcos quatro anos mais tarde, a peça é a síntese da expectativa pelo desconhecido e do desejo pelo desnecessário.
Em um cenário mínimo – uma árvore e uma pedra, somente –, Vladimir e Estragon descem ao inferno sem nem mesmo sair do lugar. Beckett – um estudioso de Dante – constrói uma narrativa aparentemente simples para dar voz a todo tipo de angústia e dúvida.
 
Ao elevar o absurdo à Arte, o irlandês esmiúça as humilhações e devastações que desumanizam o homem. Esperando Godot é uma experiência de autoexílio inconsciente. Isto porque, frente ao isolamento e à ausência extremos, Vladimir e Estragon se alijam de suas próprias identidades para ter conforto no invisível.
 
O texto acima é um fragmento de uma análise de Jonatan Silva. Fiz a postagem para justificar minha foto de capa no FB. Esperando Godot.

Nietzsche, direto na jugular da alma...

"A vontade de superar um afeto não é, em última análise, senão vontade de um outro ou de vários outros afetos".

Qual o seu tamanho? E o tamanho do seu entorno? Onde fica e qual a sua "régua"?

Quando você é pequeno tudo parece grande.

Quando você é grande tudo parece pequeno.

"Estando entre muitos, vivo como muitos e não penso como Eu". Nietzsche

Estou preso nesta contradição: de um lado, creio conhecer o outro melhor do que ninguém e afirmo isso triunfalmente a ele ("Eu te conheço. Só eu te conheço bem!"); e, por outro lado, sou frequentemente assaltado por essa evidência: o outro é impenetrável, raro, intratável; não posso abri-lo, chegar até a sua origem, desfazer o enigma. De onde ele vem? Quem é ele? Por mais que eu me esforce não o saberei nunca.

Roland Barthes, Fragmentos de um discurso amoroso, pag. 134

"A árvore não nega sua sombra nem ao lenhador." 


provérbio hindu

 

terça-feira, 7 de março de 2023

“O simples viver de um dia cria na alma o mesmo que a poeira e o suor produzem no corpo. Trata-se do desgaste das interações do dia, dos sonhos, das frustrações, das realizações e das expectativas. O refinamento da música está para a alma como a água esta para o corpo. O solvente universal que é a água limpa, descarrega e recicla. O mesmo faz a música que pode dissolver energias — trazer alegria aos tristes, afeto aos racionais, sonhos aos acomodados e leveza aos pesados. Todo mundo antes de chegar em casa deveria ouvir música para que sua alma não chegasse suada e com mau hálito. É profunda falta de refinamento não ouvir música com constância. É como não tomar banho. Não subestime a poeira da rotina, se não houver asseio constante ela se torna insalubre.”Niltom Bonder

Compartilhado do FB, página de Rita de Cássia Oliveira Lima

segunda-feira, 6 de março de 2023

 

Como o sonho, o objeto plástico é pensado segundo a função de representação alucinatória e de ludíbrio. Aproximar-se desse objeto com palavras que permitem a apreensão de seu sentido significa dissipá-lo, assim como a conversão da imagem onírica em discurso conduz a significação para o espaço da racionalidade, rasgando o véu das representações sob o qual essa significação se ocultava. O objeto plástico, enquanto construção muda e visível, situa-se no espaço de realização imaginária do desejo. E é nisto que reside a função da arte, conforme aparece no ensaio Escritores criativos e devaneio (1908), quando Freud distingue dois componentes do prazer estético: um prazer propriamente libidinal que provém do conteúdo da obra à medida que esta nos permite realizar nosso desejo (o que fazemos por identificação com o personagem ou com algum elemento do assunto tratado na obra) e um prazer proporcionado pela forma ou posição da obra que se oferece à percepção não como um objeto real, mas como uma espécie de brinquedo, de objeto intermediário, a propósito do qual são permitidos pensamentos e condutas com os quais o espectador pode se deleitar.


sexta-feira, 3 de março de 2023

" ... todo ato verdadeiro é um ato inaugural e, portanto transgressor.... o ato modifica o sujeito: tudo muda, nada será como antes..."

Maria Anita Carneiro Ribeiro, " Um certo tipo de mulher: mulheres obsessivas e seus rituais", editora 7 letras, p. 104.

"...os dramas mais impressionantes, e o mais excêntricos, não são desempenhados no teatro, mas no coração dos homens comuns, pelos os quais passamos sem prestar atenção e que, no máximo, mostram ao mundo, através, de um colapso nervoso, as batalhas que se desferem em seu íntimo. Além disso, o que é mais difícil para a compreensão dos leigos é que, em geral, os doentes não tem qualquer pressentimento da batalha que se trava em seu inconsciente. Se considerarmos, no entanto, o número de homens que nada sabem acerca de si mesmos, não devemos nos admirar de que também haja os que nada pressintam acerca de seus verdadeiros conflitos" .Carl Gustav Jung 
 
Artist: Vitali Trocin -  "Tendinte de Cariatide"

 

O "Outro" que nos Habita

Enfim, o existir não me confunde nada. O que me confunde é a vontade súbita de me dizer, de me confessar, às vezes eu penso que alguém está dentro de mim, não alguém totalmente desconhecido, mas alguém que se parece a mim mesmo, que tem delicadas excrescências, uns pontos rosados, outros mais escuros, um rosado vermelho indefinido, e quando chego bem perto dos pequenos círculos, quando tento fixá-los, vejo que eles têm vida própria, que não são imóveis como os poros de Mirtza, que eles se contraem, se expandem, que eles estão à espera... de quê? De meus atos" 
 
Hilda Hilst

"Sonhar o sonho impossível, sofrer a angústia implacável, pisar onde os bravos não ousam, reparar o mal irreparável, amar um amor casto à distância, enfrentar o inimigo invencível, tentar quando as forças se esvaem, alcançar a estrela inatingível: Essa é a minha busca." Dom Quixote
 
É a partir do impossível que o real toma lugar " Darmon (1994)
 
Geli Korzhev (Russian, 1925 - 2012)
Dom Quixote's Doubt 1994

Existir é isso, beber-se a si próprio sem sede. (Sartre)
 

 “Todo ato exige o esquecimento”.

“O homem que é incapaz de se sentar no limiar do instante, esquecendo todos os acontecimentos passados, aquele que não pode sem vertigem e sem medo pôr-se de pé um instante, como uma vitória, jamais saberá o que é felicidade e, o que é pior, nunca fará nada para dar felicidade aos outros.”
 
 (Nietzsche)

Um aglomerado de centenas de galáxias com 800 trilhões de sóis


A beleza do universo: 
 
Astrônomos descobriram o maior aglomerado de galáxias já visto até hoje, a uma distância de 7 bilhões de anos-luz da Terra. Esse aglomerado,  suportaria cerca de 800 trilhões de sóis e centenas de galáxias. 
 Localizado no sul da constelação de Pictor (O pintor), a distância de cerca de 7 bilhões de anos-luz significa que os seres humanos podem ver o aglomerado da forma como ele se parecia 7 bilhões de anos atrás, quando o universo tinha metade da idade que tem agora, e o nosso sistema solar ainda não existia. 
 
Via: ScienceDaily   -  Traduzido por Julio Cesar