segunda-feira, 20 de abril de 2009

Os Deuses não suportam a arte...


Criar é querer ser imortal. Para criar é necessário ter revolta, desespero ou absurdo como diria Camus. O criador cria sua obra de arte para se imortalizar, um gesto para imortalizar, como diz Kundera em A Imortalidade. Só é possível a Arte porque existe morte, é somente pela morte que o criador insufla no caos para criar uma obra de arte: um mundo criado por ele e portanto, imortal, ao menos que ele queira destrui-lo. Quer ser deus e na obra de arte torna-se um deus. O criador sente-se um Titã. A religião judaico-cristã proibe que os homens façam esculturas ou imagens do homem e de tudo que está sobre a terra, água e céu; proibe também a adoração de imagens: esses mandamentos não são por acaso, sabiam os sacerdotes que uma obra de arte pode fazer do homem um ser com coragem de se explodir junto com o indizível da obra de arte: uma obra de arte dispensa os deuses. Um artista contemplando sua obra de arte não precisa de Zeus porque se sente ele próprio acima de Zeus. Os deuses podem despertar a criação de uma obra de arte, mas para ser obra de arte o criador precisa sentir-se o próprio Criador, do contrário não é Arte, é oferenda. A coragem criativa do homem, sua obra de arte concretizada e sua contemplação causam inveja aos deuses. A Arte ameaça a ordem e a autoridade, tão poderosa é que pode levar os criadores ao suicidio: suicidas por amor fati. Não se pode explicar a contemplação, o sentir-se tudo no nada. Não é necessário uma pintura, uma música ou uma escultura para ser obra de arte, embora todas elas podem ser expressões de Arte o criador pode fazer de sua própria vida uma obra de arte: para isso é necessário ter coragem criativa, a coragem para ser um criador é o sentimento de continuar caminhando frente à irracionalidade do Universo apesar do desespero.

The Wanderer. Caspar David, F.

Goethe


"Não nos falta coragem para começar certas coisas porque são difíceis....
São difíceis, exatamente porque nos falta a coragem para começá-las..."


A dor nos deixa mais alertas....

Izabel Telles

Todas as manhãs ao acordar gosto muito de meditar. Mas medito de uma forma diferente. Pego o Tarô Zen do Mestre Osho, fecho meus olhos, embaralho vagarosamente mentalizando que lâmina vai sair para eu meditar o dia todo sobre seu conteúdo. Hoje me saiu o Sofrimento. Olhando para a carta, ela revelava a figura de um monge contraído sobre si mesmo, olhar triste, sentado num canto de um local escuro. Fui ler o que Mestre Osho diz desta imagem. E ele fala sobre a importância de tomarmos consciência da dor para podermos evoluir no caminho da nossa cura. Reproduzo aqui um trecho do que está escrito no livro que orienta a interpretação das lâminas:"A dor não existe para fazê-lo infeliz: ela está aí para torná-lo mais consciente! E quando você se torna consciente, a infelicidade desaparece". Nos tempos em que vivemos não está difícil encontrar pessoas no estado de sofrimento: a traição da pessoa amada, a perda do emprego, a decepção, o distanciamento dos filhos, os males do corpo, as separações a que todos estamos expostos. Tenho visto isso todos os dias na minha prática: imagens de seres contorcidos, isolados, presos em gaiolas estreitas; corações transpassados por espadas, flechas, amarrados com espinhos ou arames farpados. Imagens que a mente humana reproduz dos ícones que sempre viu nas igrejas católicas, por exemplo, onde o sofrimento é revelado em cenas de homens e mulheres transpassados por espadas, como São Sebastião ou o próprio Jesus Cristo que leva na cabeça uma coroa de espinhos: imagens de dor e sofrimento-limites. Como nossa mente gosta muito de copiar, ela entende que esta imagem do coletivo pode bem qualificar o seu sofrimento pessoal e usa-a como indicador de seu estado de espírito. Mestre Osho nos ensina que não temos que negar estas imagens, nem desprezar seu significado. Devemos usá-las para meditar sobre o que nos levou a atrair aquele ou aqueles sofrimentos, uma vez que somos totalmente responsáveis por tudo que nos acontece. E, para terminar, o Mestre nos envia este pensamento valioso: " Tempos de grande sofrimento trazem em si, potencialmente, tempos de grande transformação. Para que a transformação aconteça, porém, é preciso ir fundo às raízes da nossa dor, vivenciando-a exatamente como ela é, sem culpa e sem autopiedade.

Somos todos espelhos

Todos espelhos.
Espelho de Todos.
A imagem é somente a "soma".
Daquilo que se quer ver...
Partes unidas...
Uma nova parte, que parte.....
Para ver, aquilo que "pode".
Fragmentos de si.
Fragmentos em si.
Fragmentos de Alma.
Pedaços... de Ti.

Leão pirata....





Vejam a que ponto chegou a pirataria no Brasil!

A fala, sem voz


Vem.
Conversemos através da alma.
Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.
Sem exibir os dentes, sorri comigo, como um botão de rosa.
Entendamos-nos pelos pensamentos, sem língua, sem lábios.
Sem abrir a boca, contemo-nos todos os segredos do mundo, como faria o intelecto divino.
Fujamos dos incrédulos que só são capazes de entender se escutam palavras e vêem rostos.
Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um, falemos desse outro modo.
Como podes dizer a tua mão : "toca", se todas as mãos são uma?
Vem, conversemos assim.
Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.
Fecho pois a boca e conversemos através da alma.
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.
Vem, se te interessas, posso mostrar-te.

Absurdos....

Não acredito que um homem possa viver sem jamais sentir o absurdo de estar vivo. Ele pode não se dar conta disso, mas o revela através das artes, das suas ações e da ganância por páginas e mais páginas de conhecimentos. Mas é absurdo se isso for visto como uma verdade.
Ainda, absurdo seria querer definir o absurdo. Camus tenta, mas não se pode dizer que ele o define pois antes se preocupa com as consequências do absurdo. É possível dizer sobre o absurdo mas impossível apreendê-lo em uma categoria. Sentimentos profundos das quais as palavras não conseguem dizer, a consciência sempre deixa de dizer algo sobre, diz o autor dando-nos pistas sobre esse sentimento. Tal como um vento repentino, o sentimento do absurdo pode bater no rosto de um homem em qualquer lugar, em qualquer situação: esse sentimento é inapreensível, diz Camus que diante da dificuldade de apreender o absurdo senão pelo indizível do sentimento, se envereda pelas reflexões sobre as duas faces do absurdo: o suicídio ou a reconciliação.
Mas Camus não foi o único a tratar de tal sentimento. O “absurdo” de Nietzsche se revelou num modo de apreensão do devir onde a vida se torna possível com toda sua beleza: o eterno retorno - daí a dificuldade que os exegetas encontram em definir o que é isso, pois se trata de um sentimento do qual as palavras ficam emudecidas. Pode-se dizer que o filósofo também encontrou esse sentimento diante da linguagem, pois ela por si só já é caduca.
Heidegger também encontrou o “absurdo”. A filosofia para ele deveria ser capaz de fazer o homem sentir o horror de existir: o absurdo de existir. O ser que se lança no tempo e que nunca é se depara com o nada e encontra a angústia, mas para Heidegger esta revelação reconcilia o homem com a vida, este reconhece os seus potenciais quando encontra a finitude.
Sartre chamou o “absurdo” de náusea. A angústia que nos invade repentinamente não se trata de um sintoma que os médicos, os psicanalistas e os psicólogos possam resolver. Assim como Heidegger, o homem jamais pode ser senão o não-ser, não sendo nunca está diante da possibilidade de se encontrar com o nada e ser tomado pela angústia, assim sentimos a náusea de estar vivo diante do mundo. Estar vivo pode causar náuseas.
Camus nos dá vários exemplos onde o absurdo pode se revelar. “Cenários desabarem é coisa que acontece. Acordar, bonde, quatro horas no escritório ou na fábrica, almoço, bonde, quatro horas de trabalho, jantar, sono e segunda terça quarta quinta sexta e sábado no mesmo ritmo, um percurso que transcorre sem problemas a maior parte do tempo.” (O Mito de Sísifo). Nesse aparente cotidiano perfeitamente cabível na vida de qualquer homem, é um dos muitos possíveis cenários para o absurdo nos pegar.
O absurdo pode se revelar no amor. No rosto da amada que paralisamos em alguma perspectiva e percebemos quão horrorosa é aquela carne macia que almejamos devorar. Mas o rosto da amada também pode se revelar na coisa mais bela que já nos revelou, nem por isso o absurdo não se revela.
Um olhar paralisante sobre qualquer lugar com seus transeuntes indo e vindo, rostos diferentes, ações diferentes, o que cada bípede daquele pensa? Homens e mulheres buscando suas diferenças podem ser nada mais do que uma massa só, todos iguais, pálidos, inocentes sendo lentamente esfaqueados pela morte: absurdo!
E o que dizer de todo nosso esforço na busca pelo conhecimento, vários sempre achando que irão desvelar o mundo, os seres, o homem e a vida: absurdo!
Mas podemos nos esconder nas trincheiras feitas com livros e artigos científicos. Em um casamento com filhos e uma atmosfera de ideais. Na religião com seus exércitos de personagens do outro mundo. Há várias formas de se dizer que somos normais. Há várias formas de negar o absurdo.
Mas será que se pode dizer que nenhum homem jamais foi visitado pelo horror de existir? Que ninguém já deitou e foi abraçado pelo vazio recebendo um beijo sufocante da angústia? Que ninguém já explodiu de prazer simplesmente por viver sabendo que irá morrer ou simplesmente por estar vivo?
Em toda beleza podemos encontrar o horror, e em todo horror a beleza. Em qualquer lugar podemos encontrar o absurdo. Mas este não é natureza, não é essência, não existe. Como pode então surgir o absurdo do absurdo? Mas ele nasce, é certo, do confronto dos clamores do homem com o indizível do mundo.
Se for possível viver uma vida inteira, um absurdo inteiro sem sentir o absurdo, eu é que não gostaria de ser esse absurdo.