domingo, 29 de novembro de 2020

Reflete aquilo que é reflexo no espelho, mas, para o olho mais penetrante, é visível o reflexo que ele mesmo carrega do mundo, nesse olho que ele vê no espelho. Numa palavra, não há necessidade de dois espelhos opostos para que logo sejam criados os reflexos infinitos do palácio dos espelhos. A partir do momento em que existem o olho e um espelho, produz-se um desdobramento infinito de imagens entrerefletidades.
Lacan 1962-1963
 
Comp. pg. Marcel Power Oliveira

sábado, 28 de novembro de 2020

O poeta nos ensina antes, nos diz Lacan, aquilo que faz a poética do analista:

′′ Há na escrita, como ato íntimo de emergência do sujeito, a insistência de um saber que se reproduz além da vontade do autor: a sua verdade. Relato do autor que, na sua dimensão artística, evoca a tentativa de apanhar em campo literário o inefável; instância onde a literatura diz o que a psicanálise procura na palavra do sujeito: Os poetas, que não sabem o que dizem, sem Mas eles sempre dizem, como é sabido, as coisas antes dos outros ".

Jacques Lacan, Seminário 2, 17 novembro 1954

 

O Solitário
Para mim é odioso seguir e também guiar.
Obedecer? Não! E tampouco — governar!
Quem não é terrível para si, a ninguém aspira terror:
E somente quem aspira terror é capaz de comandar.
Para mim já é odioso comandar a mim mesmo!
Gosto, como os animais da floresta e do mar,
De por algum tempo me perder,
De permanecer num amável recanto a cismar,
E enfim me chamar pela distância,
Seduzindo-me para — voltar a mim.
— Friedrich Wilhelm Nietzsche, in A Gaia Ciência – poema 33, p. 33. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

Foto: Martin Heidegger caminhando pela Floresta Negra, na pequena cidade de Meßkirch [sua cidade natal], distrito de Kaden, no interior da Alemanha.

Compartilhado do FB, pg. Literatus


 

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Transgressões ou acima do bem e do mal...

"Às vezes você cai porque há algo lá embaixo que você pressupõe encontrar".

Na verdade nunca caímos em circunstâncias, isso é questão perspectiva. Qualificamos como "queda" quando nossa expectativa não é alcançada. "Caindo" ou não, sempre "subimos" os degraus da consciência rumo a um, talvez distante, doce acalanto embalo de Lucidez Plena a que todos, em seus profundos recônditos interiores, aspiram respirar. O crescimento espiralado de nossas percepções, ampliando em intensidade, a cada experiência, os significados de prazer e dor, nos torna sempre maiores do que aquilo que, circunstancialmente Somos, nos dá o dom da Vida e demonstra que, assim como o Universo, estamos todos, em Expansão, acima do "bem" e do "mal" que experimentamos a cada "pedra" ou a cada "névoa" do Caminho.

Gildo Fonseca.

 "Você é aquilo que ninguém vê. Uma coleção de histórias, memórias, dores, delícias, pecados, bondades, tragédias , sucessos, sentimentos e pensamentos. Se definir é se limitar, você é um eterno parênteses em aberto... Enquanto sua eternidade durar."

Machado de Assis


 

Duas frases de Drummond

 "Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram".

"É cada vez mais difícil vender a alma ao diabo, por excesso de oferta".


 


 

 "A pior dor é aquela que não tem nome, a dor inominável. Quando posso dizer o que sinto meio caminho andado."

Leitura em tempos do inominável

Comp. da pág. Psicanálise, poesia, literatura, fotografias e abstrações

RESILIÊNCIA - Qualquer semelhança não é mera coincidência....

Vindo de um termo da física, resiliência é a capacidade que um material tem de suportar grandes impactos de temperatura e pressão, se deformar ao extremo com isto, mas pouco a pouco conseguir se recuperar e voltar à sua forma anterior. Ou seja, resiliência é a capacidade que um material possui de sofrer muitos impactos, seja de pressão ou temperatura, se deformar inteirinho, quase “morrer”, mas depois conseguir ir voltando ao que era antes e se refazer e se reconstruir. A memória da experiência vivida fica e acresce ao ser sua história e maturidade.

"O que não nos destrói nos fortalece", já dizia Nietzsche.

"As adversidades provocam em nós forças que em outras circunstâncias teriam ficado adormecidas". Horácio

"A falta de saídas ativa de uma forma gigantesca a nossa criatividade". Henry Kissinger

Os melhores diamantes nada mais são que carvão submetido a pressões por milhares de anos. Suportando as pressões, todos nós, vamos descobrindo que possuímos forças inimagináveis e que através do calor dos atritos cotidianos vão temperando nosso aço. 

Como dizia He Man "nós temos a Força", VAMOS SOBREVIVER !!!!!!

Gildo Fonseca.
 

domingo, 22 de novembro de 2020


 


 

A persona
A persona é um complicado sistema de relação entre a consciência individual e a sociedade; é uma espécie de máscara destinada, por um lado, a produzir um determinado efeito sobre os outros e por outro lado a ocultar a verdadeira natureza do indivíduo. Só quem estiver totalmente identificado com a sua persona até o ponto de não conhecer-se a si mesmo, poderá considerar supérflua essa natureza mais profunda. No entanto, só negará a necessidade da persona quem desconhecer a verdadeira natureza de seus semelhantes. A sociedade espera e tem que esperar de todo indivíduo o melhor desempenho possível da tarefa a ele conferida; assim, um sacerdote não só deve executar, objetivamente, as funções do seu cargo, como também desempenhá-las, sem vacilar a qualquer hora e em todas as circunstâncias.
Esta exigência da sociedade é uma espécie de garantia: cada um deve ocupar o lugar que lhe corresponde, um como sapateiro, outro como poeta. Não se espera que alguém seja ambas as coisas. Nem é aconselhável que o seja, pois seria estranho demais para os outros. Tal indivíduo, por ser "diferente", suscitaria a desconfiança.
A construção de uma persona coletivamente adequada significa uma considerável concessão ao mundo exterior, um verdadeiro auto-sacrifício, que força o eu a identificar-se com a persona. Isto leva certas pessoas a acreditarem que são o que
imaginam ser. A "ausência de alma" que essa mentalidade parece acarretar é só aparente, pois o inconsciente não tolera de forma alguma tal desvio do centro de gravidade. Se observarmos criticamente casos dessa espécie, descobriremos que a máscara perfeita é compensada, no interior, por uma "vida particular".
C. G. JUNG -O Eu e o Inconsciente 

sábado, 21 de novembro de 2020


Compartilhado de Amelia Figueiredo Botelho


 

São os passos que fazem os caminhos.
Mario Quintana


 

Nós somos o Amanhã...

Nossa amada Clarice tinha razão, "gostar de estar vivo dói". Gostar de estar vivo exige a custosa e laboriosa criação de necessidades mil através de uma "voluntariosa" (ou seria inexorável?) embriaguez da consciência,  morfinizando as inquietações angustiosas e nauseantes do pulsar da alma. Todo "para quê", "brilha ao sol" enquanto todo "por quê?", como criatura personificada em buraco negro de tantas inquirições humanas, busca nuances de luz, lapsos de lucidez, respiros nas contradições contidas nos arcabouços de nossas próprias contrapartes, nessa dialética íntima de luz e sombras, nossos contrastes ainda tão desconhecidos dessa dinâmica gangorra binaria do nosso pretensioso compreender. Existir é um paradoxo onde uma coisa só existe pela outra fluindo em consciência, "Se É, apenas quando, de uma forma perceptível, dialética e absolutamente intrínseca também "não se É". Somos coadjuvantes, mutantes vazios a serem preenchidos pelo protagonismo das infinitas Possibilidades de todo Amanhã, esse  Devir, com tantos imponderáveis ainda desconhecidos. Amanhã que se transformará em nós, talvez por nós, através de nós. Essa frase é provocadoramente dúbia, tanto vale para nós (seres) como nós (laços). Então, nosso será o próprio Amanhã cristalizado em cada Percepção do Instante Presente. O Sol brilhará sempre, em cada Amanhecer. Navegar é preciso embora muitas vezes, impreciso...

Gildo Fonseca.

sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Redondo sem início e sem fim, eu sou o ponto antes do zero e do ponto final. Do zero ao infinito vou caminhando sem parar.”

Clarice Lispector

quinta-feira, 19 de novembro de 2020


 

"Estou saindo de férias, volto assim que me encontrar."

Martha Medeiros
 


 


 Compartilhado de Edilene Torino


 


ABISMOS, PONTES E SINGULARIDADES.

El lenguaje es un abismo que nos divide y nos separa. Como muestra reconozcamos que dos personas no dicen lo mismo aunque escojan decir las mismas palabras. Aunque uno guarde el sueño de ser Uno con el otro, siempre se escucha otra cosa, algo más, algo menos, algo diferente, algo que incluso pudiera estar más cerca de nosotros mismos y de lo que pretendíamos decir, surgiendo un Otro para nosotros mismos. Amar no se trata de negar ese abismo al demandarle al otro que nos haga creer que entiende cada una de nuestras letras: “él sí me entiende". En todo caso, amar sería ir más allá de uno, “tener el coraje de ir en busca de la flor que se encuentra al borde del abismo" (Stendhal), reconociendo ese espacio que nos separa, al preguntar: “¿qué quisiste decir con...?"; y, con dicho acto, construir un puente que nos lleve más cerca de llevar a cabo dicha entrega. En fin, sólo podemos acercarnos desde aquello que nos separa.
Edgar Colón.

A fidelidade ao original foi mantido pois algumas palavras também mudam de sentido com a tradução, tudo a ver com o conteúdo do texto.

quarta-feira, 18 de novembro de 2020


"Creio que, desde muito pequeno, minha infelicidade, e ao mesmo tempo minha felicidade, foi não aceitar as coisas com facilidade. Não me bastava que explicassem ou afirmassem algo. Para mim, ao contrário, em cada palavra ou objeto começava um itinerário misterioso que às vezes me esclarecia e às vezes chegava a me estilhaçar"
"Em suma, desde pequeno, minha relação com as palavras, com a escrita, não se diferencia de minha relação com o mundo no geral. Eu pareço ter nascido para não aceitar as coisas tal como me são dadas."
Julio Cortázar

(texto compartilhado da pag. de Marcel Oliveira)

"Em que espelho ficou perdida a minha face?"

Cecília Meireles


Com do FB pag. de Catharina Barreto de Almeida Petersen


 


 

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

domingo, 15 de novembro de 2020

SCHOPENHAURIANDO.
NAVEGAR É PRECISO...

Embora essa imagem faça referência ao SUS a verdade é que para sobrevivermos, todos nós, precisamos de ininterruptos esforços para alimentarmos a própria percepção, o próprio "existir", esse símbolo fálico que se multiplica a cada nova necessidade na cópula entre percepções e realizações.

Trabalhar para comer, para vestir, para sonhar. Para, como Sísifo, tentar descobrir o sentido oculto de tudo isso, sentimos, sentimos muito.
Embriague-nos ó Vida em cálices contendo o desdém das pretensões pois o balanço desse mar revolto de insana realidade, causa náusea em muitos de nós, navegantes, forasteiros, que se equilibram sob forte neblina nos mares turbulentos das sensações. E la nave va...
Gildo Fonseca.


"Todo barro é semente de escultura".

Gildo Fonseca


Obra: Dali

ADORÁVEIS TRANSGRESSÕES DO FUTURO PRESENTE !!!
Transcender implica em permitir que o N ovo contido no Instante seguinte traga um abraço afetuoso demonstrando que podemos Ser, sempre, muito mais que aquilo que percebemos no momento presente. Todo caos é semente de Ordem. Todo vazio "É" útero de infinitas possibilidades a serem cristalizadas pelas vibrações inerentes a Essência da Vida contidas nas reações de nossas percepções. As imagens que compõem esse mosaico de miragens dos espelhos cotidianos são fruto da nossa transcendente e inexorável respiração cósmica que irriga o sangue de nossa alma e gera Movimento produzindo em nós e para nós a sensação de Vida fazendo com que se perceba o Existir através daquilo que, talvez, realmente somos, aspirantes de um Devir, apenas "Sinapses de dinâmicas Possibilidades Cósmicas". Fiat Lux !!! Gildo Fonseca.

sábado, 14 de novembro de 2020

Tentando entender a irracionalidade animal


 


 


 

Ascender é elevar-Se sobre as vulgaridades...

força da gravidade é equilibrada. Ela permite o movimento mas nos mantém presos à terra. Assim também são as pessoas e as circunstâncias. Quando seres inferiores ou circunstâncias inferiores nos "puxam para baixo" devemos lembrar nossa origem divina e reforçar nossa ascensão. A função daqueles que tentam nos desmoronar é desenvolver nossa força e comprovar que somos superiores a eles em consciência, espiritualidade, sensibilidade e inteligência. Como dizia Churchill "você nunca vai chegar a lugar algum se ficar atirando pedras em cada cão que late em seu caminho.". Gildo Fonseca.

 VIVA A LIBERDADE !!!!

A transgressão é a cristalização da individualidade, a afirmação da Potência Interior e a auto reverência à Essência Vibratória que em seus múltiplas escalas, cadências e expressões personifica, alternativamente pela ação entre contrapartes de opostos a dialética da manifestação do Todo nas partes e as partes no Todo criando esse Movimento Dinâmico que chamamos Vida. Através de interstícios entre Luz e Sombras onde pulsam em lapsos e espectros, fluem as sinapses que iluminam os embriões de nossa Consciência na construção da nossa Liberdade e na Percepção de que Somos, definitiva e inexoravelmente Agentes da nossa própria Criação.
Gildo Fonseca.

Sobre arrogâncias e pretensões...

 "Ah, pobre vaidade de carne e osso chamada homem, não vês que não tens importância absolutamente nenhuma? És importante para ti, porque é a ti que te sentes. És tudo para ti, porque para ti és o universo, e o próprio universo e os outros satélites da tua subjetividade objetiva. És importante para ti porque só tu és importante para ti. E se és assim, ó mito, não serão os outros assim?"

Álvaro de Campos.


 

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Sartre - A Náusea

 "É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta. Gostaria tanto de me abandonar, de deixar de ter consciência de minha existência, de dormir. Mas não posso, sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… e subitamente, de repente, o véu se rasga: compreendi, vi.

A Náusea não me abandonou, e não creio que me abandone tão cedo; mas já não estou submetido a ela, já não se trata de uma doença, nem de um acesso passageiro: a Náusea sou eu.” – Sartre (A Náusea – 1931)

terça-feira, 3 de novembro de 2020

Escultura de bronze realizada por Malgorzata Chodakowska.

Artista polaca.


Obra: "Con amore".


Compartilhado de Silvia Pizarro

"Eu tenho à medida que designo - este é o esplendor de se ter uma linguagem. Mas eu tenho muito mais à medida que não consigo designar. A realidade é a matéria prima, a linguagem é o modo como vou buscá-la - e como não acho. Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho que ir buscar e pro destino volto com as mãos vazias. Mas - volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção, é que obtenho o que ela não conseguiu"
(A Paixão Segundo G.H.) - Clarice Lispector

Comp. de Marcel Oliveira

 

A Serenidade

A serenidade não é feita nem de troça nem de narcisismo, é conhecimento supremo e amor, afirmação da realidade, atenção desperta junto à borda dos grandes fundos e de todos os abismos; é uma virtude dos santos e dos cavaleiros, é indestrutível e cresce com a idade e a aproximação da morte. É o segredo da beleza e a verdadeira substância de toda a arte.
O poeta que celebra, na dança dos seus versos, as magnificências e os terrores da vida, o músico que lhes dá os tons de duma pura presença, trazem-nos a luz; aumentam a alegria e a clareza sobre a Terra, mesmo se primeiro nos fazem passar por lágrimas e emoções dolorosas. Talvez o poeta cujos versos nos encantam tenha sido um triste solitário, e o músico um sonhador melancólico: isso não impede que as suas obras participem da serenidade dos deuses e das estrelas. O que eles nos dão, não são mais as suas trevas, a sua dor ou o seu medo, é uma gota de luz pura, de eterna serenidade. Mesmo quando povos inteiros, línguas inteiras, procuram explorar as profundezas cósmicas em mitos, cosmogonias, religiões, o último e supremo termo que poderão atingir é essa serenidade.
Hermann Hesse, in 'O Jogo das Contas de Vidro'

 


 


“Um mundo diferente não pode ser construído por pessoas indiferentes.”


 O absurdo da Vida cansa...

segunda-feira, 2 de novembro de 2020

Amada Lispector...


 

"Os voluptuosos careiam companheiros de devassidão. Os interesseiros reúnem sócios. Os políticos congregam partidários. O comum dos homens ociosos mantém relações. Os príncipes têm cortesãos. Só os virtuosos possuem amigos."

- Voltaire, Dicionário Filosófico.

Virgilio Tojetti - Compagni di gioco addormentati

Seres desejantes...