quarta-feira, 29 de junho de 2022

“Freud conta nas Introduções a psicanálise, 1923: 
Um menino, angustiado por estar no escuro, chama a tia, que está num quarto ao lado. 
“Tia, fala comigo; estou com medo;”
De que te serve que eu fale, se, no escuro você não me enxergaria?
Responde a tia.
E o menino:
“Quando alguém fala, tem sempre um pouco de luz.””

“Tudo aquilo em que ponho afeto, fica mais rico e me devora”.   Rainer Maria Rilke

segunda-feira, 27 de junho de 2022

"Não há despertar de consciências sem dor.
As pessoas farão de tudo,
chegando aos limites do absurdo
para evitar enfrentar a sua própria alma.
Ninguém se torna iluminado
por imaginar figuras de luz,
mas sim por tornar consciente a escuridão."

Carl Jung

 
A meta da lagarta é comer a planta onde ela está. Ela não olha em volta, não percebe nem o sol nem o horizonte. Ela não tem tempo para essas bobagens! Ela dirige seu olhar guloso para a luz solar indireta que está dentro da folha. Essa gula me lembra de nossa fome insaciável por conhecimento, verdade e sabedoria. Uma lagarta devora tudo até que dentro dela já não caiba nada.

Só então é que começa uma mudança em seu comportamento: ela já não come. Então, começa a fiar, tece um casulo ao seu redor, e se recolhe.
Depois, longe de todos os olhares que vêm de fora, ela inicia um processo maravilhoso. Pouca gente entende que dentro daquele casulo acontece um intenso conflito até que uma esplêndida borboleta possa libertar-se.
 
Compartilhado de Rosacruz Áurea.

UM OLHAR PARA NOSSAS OBSCURIDADES INTERIORES.
 
Athena, a deusa grega da sabedoria, possuía uma Coruja de estimação que permanecia sempre em seu ombro e lhe revelava as verdades invisíveis. Essa Coruja tinha o poder de iluminar o lado obscuro da deusa, capacitando-a a perceber toda a verdade e não apenas aquela parcela de verdade que podia discernir sem seu auxílio. Em função disso a coruja ficou associada à deusa da Sabedoria.
 
Uma outra característica que a associa com a sabedoria é a sua alta capacidade de ver no escuro, como se ela conseguisse ver o que os outros não veem.
A coruja tem a capacidade de ver uma quantidade de luz 100 vezes a mais que o ser humano. Ela também tem uma ótima audição. A disposição de seus olhos permite uma ótima percepção do relevo e da distância. A coruja é capaz de piscar um olho e também girar a cabeça até três quartos da rotação total, para poder enxergar as coisas que estão ao seu lado.
 
Em latim é Noctua, “ave da noite”. Noturna, relacionada com a lua, a coruja incorpora o oposto solar.
 
Olhar e enfrentar, de maneira indômita, nossas obscuridades interiores, permite, pelo atrito experimental com a "nossa" realidade, gerar Luz para a Consciência, permitindo um aparente e momentâneo domínio de nossas trevas, através da descoberta de uma Força nos pertence, que nos empurra, inexoravelmente, para o devir. Somos todos, uma "Força do Olhar", cavalgando em seu trânsito pelas impermanências, escolhendo Caminhos. Um olhar de coruja que se percebe nas lentes, nas pupilas de tantos mosaicos, fragmentos de coloridos e múltiplos espelhos cotidianos.

Gildo Fonseca.

domingo, 26 de junho de 2022


 

“Ver um mundo num grão de areia. E um céu numa flor silvestre. Ter o infinito na palma da sua mão E a eternidade numa hora.” (...)

Augúrios de inocência – William Blake

sábado, 25 de junho de 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PERDAS E DANOS, ENTRE QUIMERAS VÃS.

O QUE NORTEIA A SUA CONSCIÊNCIA?

O incomensurável desamparo da plena consciência do existir é uma das dores mais fortes que se pode conhecer. Ela dilacera a alma com sua pretensa lucidez. Diuturnamente ancoramos nossa caminhada em necessidades e desejos, em coisas, pessoas e fatos para que eles inebriem a intensa, profunda, infinita desolação de estarmos completamente sós na vida, no universo, cercados apenas pelas fantasmagóricas imagens de nossos cotidianos entornos.

Somos jogados na vida e de imediato cobrados por uma existência em que fomos inseridos e não conseguimos compreender. Temos que, como escravos, lutarmos (ou seria enlutarmos?) para a sobrevivência, buscar forças, fora e dentro de nós para, de forma cambaleante, caminhar em direção a um não sei o quê e nem saber porque. Os contrastantes aspectos de nossas percepções da realidade nos conduzem, como marionetes, nos desenlaces dos entroncamentos das nossas pretensas interpretações, nossas “verdades” individuais, tonalizadas pelas culturas que nos envolvem.

A existência, tal qual um fantasma de Hamlet, bate forte à porta, clama seu direito ao seu império da insensatez, ao reino da falta de sentido sobre nossas cabeças, sobre nossos pretensos conhecimentos, nossa pretensa sabedoria, nossas pretensas respostas para tudo, sempre baseadas em recortes de cantos de sereias, teorias, abstrações e tentativas, muitas vezes vãs, de embriagar a sensação de estarmos, inexoravelmente perdidos, como náufragos nos mares da consciência, tentando caminhar às apalpadelas num universo de cegos.

Sartre dizia que estamos condenados à liberdade mas a verdade é que, lembrando Lacan, estamos condenados às nossas faltas. Estamos sobretudo, condenados à falta de respostas exceto aquelas que, paliativamente amenizam nossa dor existencial, com crenças, fé, sonhos, pretensa sabedoria, problemas, afetos e outros alucinógenos. Precisamos colocar, muitas vezes, sob nossos ombros, muitas atividades, envolvimentos, pesos que funcionam como âncoras, sobre nossos ombros para assim, intensamente envolvidos com elas, abstermo-nos de enfrentar a questão essencial: para que serve tudo isso? Esse decifra-me ou te devoro cotidiano coloca seu véu, soturno, sagaz, mascarado em sonhos, desejos, alegrias ou angustias que se alternam na caminhada da vida e assim continua senhor absoluto de nosso destino.

A dor existencial, quando bate forte com seu martelo, renovando a cadência de batidas anteriores, cobra de nós aquilo que não podemos dar, respostas ao porquê de existirmos, de estarmos aqui, muitas vezes respondidos, insanamente por tantos, com inúmeros “para que...”, “para isso...”, “para aquilo...” com o necessário envolvimento com o que ainda não somos, ou não temos, ou deveríamos ter para esquecer ainda mais profundamente aquilo que também não se sabe. Surreal, patética, é a própria consciência em sua quimera vã da tentativa de explicar a si mesma. É e ao mesmo tempo não É. Não pode também ser pois, em seu perene processo, ainda não É. E não É pois ainda também vai Ser. Então não É e talvez nunca será. Uma miragem em movimento talvez, uma miragem é movimento, talvez.

O envolvimento com as imagens do cotidiano, com todos os seus flertes, de todas as espécies, o nosso colírio alucinógeno de cada pretenso e instantâneo despertar, será mais uma vez a única saída. Bukowski, Camus, Baudelaire entre outros, sentindo o dedo na ferida da alma, “realmente” estavam certos quando afirmavam a necessidade da alienação, do delírio, da loucura, da embriaguez, seja de vinho, de poesia ou de virtude, ao nosso gosto. O ópio consciencial é inexorável. Como diz uma Amiga querida, “uma lúcida embriaguez”.

Mas, estar sobriamente inconsciente talvez seja a única forma de sobrepujar a própria consciência, carrasca eterna da nossa danação. Sobreviveremos, embora o próprio significado dessa palavra ainda esteja por ser descoberto, se, e quando o Ser for descoberto. Esperemos que se abram afinal, um dia, qualquer dia, as cortinas no palco de nossas ansiedades, esperanças e desalentos. Como dizia Chico Buarque: "Pra mim, basta um dia..." Esse dia da Resposta. Uma resposta aos ecos de nossas almas que bradam no escuro. Podemos então imitar o poeta: "faz escuro mas eu canto". Enquanto isso, continuamos esperando Godot. Até quando suportaremos? A indignação é sulco que flui nas veias da alma, ela respira o oxigênio de alguns passos, sobre um tapete voador chamado Esperança.

Gildo Fonseca.

Não se vê, sente-se. Não se mede, não se pesa, não se toca, não se cheira. Sente-se! Aquilo que é realmente importante acontece num plano não palpável. Não visível. É de dentro. É o que transborda sem se ver. É o que nos move. Ou deveria mover.
 
Antoine de Saint-Exúpery

quarta-feira, 22 de junho de 2022

domingo, 19 de junho de 2022

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"O tempo é a substância de que sou feito. O tempo é um rio que me arrebata, mas eu sou o rio; é um tigre que me devora, mas eu sou o tigre; é um fogo que me consome, mas eu sou o fogo". J.L. Borges.

Como dizia Rubem Alves: "Eu sou muitos."

Foi dito que o poeta é o grande terapeuta. Nesse sentido, o trabalho poético implicaria exorcisar, conjurar e, além disso, reparar. Escrever um poema é reparar a ferida fundamental, o rasgamento. Porque estamos todos feridos. (Alejandra Pizarnik)

"Até Deus tem um inferno: é o seu amor pelos homens."

Friedrich Nietzsche

PERCEPÇÃO TRANSGRESSORA,
LIVRE PARA VOAR !!!
 
Toda perspicácia é transgressora. Toda transgressão, oxigênio da perspicácia. Existir, essa dinâmica auto superação é ruptura, um prescindir de cada imagem, cada cristal, cada dimensão, cada entendimento, onde tentam ancorar os voos de nossas almas. Somente a consciente morte de cada passado presente gera, no líquido amniótico da alma, o criativo e libertário palpitar de uma nova Percepção. O vácuo aspira nosso preenchimento. Nosso impulso, inexorável, gera o quadro em que nos tornamos e que se apresenta para nossa própria degustação. Rolam os dados e entre o tudo que se foi e o tudo que pode ser, somos. O imponderável flerta com toda expectativa demonstrando que oceanos cósmicos e suas profundezas transcendem as gotas da nossa consciência. Sentir, sentir apenas, pois entender é limitar e confinar nosso universo desconhecido de Possibilidades. Gildo Fonseca.

sábado, 18 de junho de 2022

 

 

"Nenhum homem vai para o túmulo sem levar no corpo a marca de um pontapé dado por um amigo".
 
Tímon de Atenas - Ato II, Cena 3 - Shakespeare
 
Comp. pg. Shakespeare indignado

Ovidio: livro A arte de amar.
 
"Se queres prolongar o amor, não permitas que a desconfiança te domine em relação à pessoa amada".

Évoé, ceticistas pirrônicos...


 

sexta-feira, 17 de junho de 2022

    Federico Fellini sobre Borges

    Borges me comunica siempre una singular exaltación pacificadora a causa de su prodigiosa vocación de aprisionar, aunque sea por un instante, entidades tan ambiguas y enrarecidas como el tiempo, el destino, la muerte, los sueños, en operaciones mentales portentosas y refinadas, en mecanismos conceptuales poderosamente simplificados, libres de los oropeles de la lógica, de los juegos de equilibrio de la dialéctica. Sobre todo para un hombre de cine, Borges es un autor particularmente estimulante en cuanto a que lo excepcional de su literatura consiste en ser muy parecida al sueño, como una extraordinaria visión onírica al evocar del subconsciente imágenes innatas donde la cosa y su significado coexisten simultáneamente, exactamente como en una película. Y justamente como en los sueños, también lo incongruente de Borges, lo absurdo, lo contradictorio, lo arcaico, lo repetitivo, aún conservando toda su virulenta carga fantástica, son igualmente iluminados como los rigurosos detalles de un dibujo más amplio e ignorado, son los elementos impecables de un mosaico atrozmente perfecto e indiferente. También, Borges, me hace pensar en un flujo onírico discontinuo, y la heterogeneidad de esta misma producción —relatos, ensayos, poesías— prefiero imaginármelas, no como el fruto de los múltiples resortes de un talento impaciente, sino más bien como el signo sin descifrar de una metamorfosis infatigable.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUTILEZAS QUASE IMPERCEPTÍVEIS !!!!!
 
As notas (títulos de vários governos) podem não ter lastro em qualquer coisa de valor real em toda a economia. Baseiam-se num fluxo de confiança que só existe por causa da crença de que ela é real, tem retaguarda e consistência e, devido a isso, empresas privadas assumem as ofertas de dinheiro das emissões públicas e permitem que as impagáveis dívidas nacionais continuem, indefinidamente a existir. Dívidas que nunca poderão ser, efetivamente, resgatadas, pois seu lastro talvez seja tão volátil quanto as intenções de seus administradores. Um sutil controle sobre o fluxo onde todos os eixos da vida são dependentes. O fluxo da própria sobrevivência e suas nuances de expectativas e necessidades individuais são subjugadas e manipuladas pelo sutil controle do fluxo do oxigênio financeiro que banca as necessidades e aspirações feitas pelos senhores do mundo, senhores da vida, à revelia de consciências, sempre sobrepujadas por pequenas e triviais "emergências" cotidianas de caráter interior e exterior. E la nave va...
 
Gildo Fonseca.


 

SOBREVIVÊNCIA, RELATIVA E ABSOLUTAMENTE PROVISÓRIA.
 
Gildo Fonseca.
 
 
Tudo o que é do domínio afetivo reclama o absoluto.
O filho quer a mãe por toda a vida, os amantes querem se amar e serem amados por toda a vida, tudo em nós pede o definitivo enquanto que a vida nos ensina o provisório. O verdadeiro dilaceramento reside na necessidade de aceitarmos o provisório para sobrevivermos.
 
François Truffaut


 

quinta-feira, 16 de junho de 2022

Baudelaire em sua lúcida embriaguez...

Deve-se estar sempre bêbado.
É a única questão.
A fim de não se sentir o fardo horrível do tempo, que parte tuas espadas e te dobra sobre a terra.
É preciso te embriagares sem trégua.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude?
A teu gosto, mas embriaga-te.
E se alguma vez sobre os degraus de um palácio, sobre a verde relva de uma vala, na sombria solidão de teu quarto, tu te encontrares com a embriaguez já minorada ou finda, peça ao vento, à vaga, à estrela, ao pássaro, ao relógio,
a tudo aquilo que gira, a tudo aquilo que voa, a tudo aquilo que canta, a tudo aquilo que fala, a tudo aquilo que geme.
Pergunte que horas são. E o vento, a vaga, a estrela, o pássaro,
o relógio, te responderão.
É hora de se embriagar!!!
Para não ser como os escravos martirizados pelo tempo, embriaga-te.
Embriaga-te sem cessar.
De vinho, de poesia ou de virtude.
A teu gosto.
 
Baudelaire (1821-1867).

quarta-feira, 15 de junho de 2022


 

“Ninguém se incomoda com algo a não ser que isso seja objeto de um conflito interno.”   Contardo Calligaris

domingo, 12 de junho de 2022

Definir é limitar,

Não definas, experimente...

Duvida da luz dos astros,
de que o sol tenha calor,
Duvida até da verdade,
mas confia em meu amor.
 
William Shakespeare.
 
Lapidar Caminhos é um Processo, amoroso e criativo.
Enamorar-se pela Vida leva ao encontro do Amor, em seus Caminhos.
 
Gildo Fonseca.
 
FELIZ DIA DOS NAMORADOS !!!

Orquídeas


 

sexta-feira, 10 de junho de 2022

A argila de todo devir aspira formas através do calor gerado pelos inexoráveis movimentos dos nossos inúmeros esforços por Existir. Nessa dança entre contrários, qual olhos que, somente em união permitem o foco da alma, vamos, com as apalpadelas de nossos ensaios a cegueira cotidianos, modelando o espectro de nossa Percepção. Somos um Fluxo oxigenado por contrastes, somos inconclusivos, pois o líquido amniótico do Absoluto, dessa Totalidade de Possíveis que nos envolve, não pode ser contido, absolutamente, por singulares relatividades. Um ponto de vista será sempre um ponto, nunca o plano, embora seja um pleno plano em sua limitada e pretensiosa consciência. Suponho. Gildo Fonseca.