sábado, 30 de abril de 2022

PÃES NOSSOS
DE CADA DIA...
 
A alma é um corpo em formação alimentado pelas proteínas do líquido amniótico das circunstâncias. Ora como protagonista ora como coadjuvante, nossa pretensiosa lucidez flui pelo cordão umbilical das realidades onde bebe do cálice da busca de todo entendimento. Embriaguemo-nos em cada olhar, em cada vivência, no mergulho profundo de cada instante extraindo, sementes que germinam, permanentemente, nossa Construção.
 
Gildo Fonseca.

A INDIVIDUALIDADE DO FLUXO
 
A dor é uma Individualidade que não pode ser expressada enquanto personalidade. Seus ecos refletirão somente na permeabilidade das ressonâncias das alteridades na equivalência de suas intensidades perceptivas. A alegria também é assim. Nosso, é o Sentir. Sua ampliação, pela propagação vibratória envolvente com outros corpos, seres ou entes, mescla nossa alma com essas Interações. Assim, nos tornamos, conscientemente, o Fluxo, que reina na medida em que se descobre através de toda transitória e volátil relatividade.
 
Gildo Fonseca

Evoé Loucura e Liberdade...

"Eu percebo que se fosse estável, prudente e estático viveria na morte. Portanto, aceito confusão, incerteza, medo e altos e baixos emocionais, porque esse é o preço que estou disposto a pagar por uma vida fluída, perplexa e emocionante". Carl Rogers

“Numa grande alma, tudo é grande".

(Blaise Pascal).

"(...) Minha nascente é obscura... Meu pensamento com a enunciação de palavras mentalmente brotando, este meu pensamento de palavras é precedido por uma instantânea visão sem palavras do pensamento, palavra que se seguirá quase imediatamente, diferença espacial de menos de um milímetro... Eu escrevo por meio de palavras que ocultam outras – as verdadeiras. É que as verdadeiras não podem ser denominadas. Mesmo que eu não saiba quais são as verdadeiras palavras, eu estou sempre me aludindo a elas... Às vezes a sensação de pré-pensar é agônica: é a tortuosa criação que se debate nas trevas e que só se liberta depois de pensar com palavras.(...)"
Clarice Lispector, em Um sopro de Vida ( pulsações) 
 
Compartilhado do mural de Rita Mendonça no FB. 
 

“As palavras como as abelhas, têm mel e ferrão.”
 
Provérbio suíço

 

 Texto de Eterno Retorno:

A MEIA-NOITE DA RAZÃO
 
Tememos o não sentido. Somos viciados no sentido. Ser no lugar do não-ser. Cadê o meu ser! – gritamos desesperados no tempo. A ciência é a mais carente de sentido, se não houver sentido não há ciência. Eu sei, a nobreza diz que a ciência dá sentido ao sem sentido, e assim caminhamos – verniz ilusório, quem dá sentido é o homem que faz ciência. Sentido arbitrário mas que não se diz arbitrário por que segue uma lógica, gira em torno de sistemas e outras lógicas… mas também arbitrários. A lógica é o empacotamento do arbitrário para que um dependa do outro – cria-se uma rede de dependência e como as origens são esquecidas, cria-se a ilusão de coerência e sentido. Ou você para no sentido que tem, ou vai ficar escavando fundos em busca de sentidos, e como todo fundo pode ter seu fundo retirado, escavamos. Escavamos em busca de resolver o mistério, o desconhecido, o assombroso do mundo? O universo é indiferente, o mundo nos esmaga com sua brutalidade incognoscível.
A questão não é tanto escavar ou deixar de escavar, um sentido por outro sentido, ambos são buscas incessantes de sentidos. Nem razão nem irrazão. Irrazão! Palavra selvagem aos dicionários. O despotismo do sentido nos faz bichos incomodados com o silêncio, é como se precisássemos falar o tempo todo, e falamos. Se pudéssemos imaginar um mundo onde a maior parte do que comunicamos fosse realmente aquilo que gostaríamos de dizer, talvez houvesse somente uma pequena biblioteca no mundo, e o silêncio seria a partitura por onde irromperia alguns ruídos vocálicos. Compreender a tagarelice que somos, espermatozóides verborrágicos conforme chamado por Cioran, possibilita-nos deixar de viver nas trincheiras de coerência e clareza de palavras com que se trava a batalha contra nossa ruína, ruína no tempo, na morte, na dissolução… em vão. Possibilita-nos a deixar de morrer pelo sentido. Morremos a cada vez que algo sai fora da órbita do sentido. Não compreendo isso, ou isso não me faz sentido ou isso não poderia ter acontecido comigo. E quem disse que nossos encontros no mundo devem vir carimbados com uma justificativa? A história dos homens é a história da aspereza do homem contra o mundo. Também podemos acariciá-lo, delirando e devaneando sob o manto lunar.
 
O post A meia-noite da razão apareceu primeiro em Eterno Retorno.


 

sábado, 23 de abril de 2022

"Quando a própria vida parece lunática, onde está a loucura?" Cervantes

sexta-feira, 22 de abril de 2022

“O presente me foge, a atualidade me escapa, a atualidade sou eu sempre no já. Só no ato do amor pela límpida abstração de estrela do que se sente capta-se a incógnita do instante...”

 Clarice Lispector, in “Água Viva”

"Só se ama o que não se possui completamente."

Marcel Proust

"Somos de fato pobres se formos apenas sãos."
 
Winnicott


 

"A porta da verdade estava aberta
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir a verdade
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade voltava igualmente
com meio perfil
e os meios perfis não coincidiam.
Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar.
Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia."
 
Carlos Drummond de Andrade - 'Verdade

terça-feira, 19 de abril de 2022

 

Quando curiosamente te perguntarem, buscando
saber o que é aquilo,
Não deves afirmar ou negar nada.
Pois o que quer que seja afirmado não é a verdade,
E o que quer que seja negado não é verdadeiro.
Como alguém poderá dizer com certeza o que
Aquilo possa ser
Enquanto por si mesmo não tiver compreendido
plenamente o que É?
E, após tê-lo compreendido, que palavra deve ser
enviada de uma Região
Onde a carruagem da palavra não encontra uma
trilha por onde possa seguir?
Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes
apenas o silêncio,
Silêncio — e um dedo apontando o caminho.
 
(Verso budista)

“De todos os diagnósticos, a normalidade é o mais grave, porque ela é sem esperança”. Jacques Lacan (1901-1981).

O insuportável não é só a dor, mas a falta de sentido da dor, mais ainda, a dor da falta de sentido.
 
Filósofo Oswaldo Giacóia Júnior, in "Friedrich Wilhelm Nietzsche em "Para Além do Bem e do Mal".

 

A CÓPULA DIALÉTICA DA VERDADE

"O excesso de verdades é pior que o erro". Pascal
 
O êxtase das contradições, semente da dinâmica espiral de novas verdades, vive no interlúdio, no lapso da consciência, entre vácuos de pretensa lucidez, no intervalo de fracionadas realidades, entre elos de contrastes que alimentam fugazes, contraditórias e contrastantes Percepções.
O erro, coadjuvante de tantas verdades individuais, alicerça nossos passos de navegantes nauseabundos no oceano do existir.
Nos interstícios de todos os sistemas binários, em todas as manifestações, está, oculta, sob o véu de loucuras insensatas, a patética tentativa do Ente de levantar-se, de afirmar o "seguro" dentro de dinâmicas tão inseguras, o ponto dentro de retas, o finito dentro de tantos infinitos, porquês dentro de tantos como.
A razoabilidade extasiante do Instante Perceptivo é o gozo da Consciência, no ventre de Infinitos possíveis de todo Infinito presente, na união entre atemporais, transcendências e irracionalidades de amplas finitudes presentes nas possibilidades delimitadas pela nossa própria "cerca", essa protagonista carrasca da danação de nossos porquês, dentro da eterna condenação à liberdade de nós mesmos. Gildo Fonseca.

 


 

segunda-feira, 18 de abril de 2022

"Continua a bater à porta e a alegria que há dentro de ti, acabará por abrir uma janela e espreitar para ver quem é." 
 
Emily Dickinson.
 

O mais forte sempre acha justo o que o mais fraco considera injusto, e se mudam de posição, ambos ao mesmo tempo mudam igualmente a maneira de pensar.

Marquês de Sade.

 Se meus demonios me abandonarem, temo que os meus anjos desapareçam também. Rainer Maria Rilke


 

domingo, 17 de abril de 2022

 

"A tensão é quem você pensa que deveria ser. 

O relaxamento é quem você é."
 
Provérbio Chinês

Sobre a finitude, o transitório, a insanidade...

 

"Homenzinhos miseráveis, loucos, insensatos, não vedes que sois mortais? Não vedes que haveis de acabar amanhã? Não vedes que vos hão de meter debaixo de uma sepultura, e que de tudo quanto andais afanando e adquirindo, não haveis de lograr mais do que sete pés de terra? Que doidice, e que cegueira é logo a vossa?"

Padre Antônio Vieira (1608-1697), Sermões - Tomo I, Hedra Editora.
 
 
Postagem compartilhada do FB, pg. de Jorge Sesarino.

sábado, 16 de abril de 2022

ENTRE...

ENTRE...

Entre. Agora que entrou, entre mais ou entre menos, entre tantos entretantos. Entre uma percepção e outra, flui, oculto, o Infinito Incriado em perene gestação. Nosso olhar, cativo de nossas necessidades, nem sempre percebe que por trás desse véu, solene, discreto, vive o Novo, o Devir, a Potência, Múltiplos Caminhos. Essa ampulheta, em forma de Instante, onde flui o infinito para nosso infinitesimal, cristaliza o tempo e o espaço onde se descortina a imensa responsabilidade de definirmos a nós mesmos, a encontrar respostas onde todas as respostas são novas perguntas pela eterna condenação à Liberdade. As formas que vemos são fôrmas que esculpem cada passo do fluir da nossa consciência. Somos o escultor. Somos o mármore. Entre um Olhar e Outro existem Outros, que não são poucos, que nos deixam loucos.

Gildo Fonseca.

"Se me explico, me implico: Não posso a mim mesmo interpretar."

Friedrich Wilhelm Nietzsche, in prelúdio de A Gaia Ciência

O buraco ensina a caber.
A semente ensina a não caber em si. (Arnaldo Antunes).
 
Experiências são apenas "cercas" que nos envolvem. Transgredir, com novas percepções, novos olhares, toda momentânea nebulosidade é perceber que a Vida pulsa em nós, através de nós, desatando nós.
 
Gildo Fonseca

"Não é à toa que entendo os que buscam caminho. Como busquei arduamente o meu! E como hoje busco com sofreguidão e aspereza o meu melhor modo de ser, o meu atalho, já que não ouso mais falar em caminho. Eu que tinha querido. O Caminho, com letra maiúscula, hoje me agarro ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde eu seja finalmente eu, isso não encontrei. Mas sei de uma coisa: meu caminho não sou eu, é o outro, é os outros. Quando eu puder sentir plenamente o outro estarei salva e pensarei: eis o meu porto de chegada." Clarice Lispector.
 
Compartilhado de Viciados em Livros

"Vi um anjo no bloco de mármore e simplesmente fui esculpindo até libertá-lo".


Michelangelo (1475 -1564).

LUZ, ATRITO DE DENSAS ASPEREZAS...
 
Agir é sedação, embriaguez necessária da alma, fluindo em impermanências.
A Consciência, em sua percepção de incertezas, quase absolutas, respira essa relativa lucidez, fluídica, volátil, insana e fugidia.
Embriague-nos ó Vida !!!
Levantemos as âncoras de todo entendimento pois, da simbiose dos contrastes, surge nau, em novos mares.
Viver é seguir em frente, atrás das portas da gente, na busca do ideal.
Alento que acalento.
 
Gildo Fonseca.

Nietzsche


 

"O «isto» é também «aquilo». O «aquilo» é também «isto»... A essência do Tao é que o «isto» e o «aquilo» cessem de ser opostos. Apenas esta essência, atuando como um eixo, é o centro de um círculo que representa a mudança incessante."

 
Chuang Tzu
 
 
Imagem: Papoilas azuis do Himalaia

sábado, 2 de abril de 2022

Desordens mentais cativantes...


 

Maravilhas de Sexto Empírico

 

Amada, amada, amada Clarice...

"O que sou então? Sou uma pessoa que tem um coração que por vezes percebe, sou uma pessoa que pretendeu pôr em palavras um mundo ininteligível e um mundo impalpável. Sobretudo uma pessoa cujo coração bate de alegria levíssima quando consegue em uma frase dizer alguma coisa sobre a vida humana ou animal.” Clarice Lispector

TRANSGREDIR O IMPONDERÁVEL É NASCER DE NOVO, SEMPRE. G.F.
 
"A força que mata é uma forma sumária, grosseira, de força. Quanto mais variada em seus processos, quanto mais surpreendente em seus efeitos é a força, a que não mata; isto é, a que não mata ainda. Vai seguramente matar, ou vai matar, talvez, ou então está apenas suspensa sobre o ser que pode matar a qualquer momento; seja como for, ela transforma o homem em pedra. Do poder de transformar um homem em coisa fazendo-o morrer procede um outro poder – prodigioso sob uma outra forma –, o de transformar em coisa um homem que continua vivo. Está vivo, tem uma alma; no entanto, é uma coisa. Ser estranho: uma coisa que tem uma alma; estado estranho para a alma. Quem dirá quanto custa, a cada momento, conformar-se, torcer-se, dobrar-se sobre si mesmo? A alma não foi feita para viver numa coisa; quando é constrangida, tudo nela padece de violência".
 
Simone Weil.

sexta-feira, 1 de abril de 2022

"Há dias de tanta angústia
Que não sei do que ela é.
Não sei se me sobra o sonho.
Não sei se me falta a Fé."

Fernando Pessoa
 
 
 
Compartilhado de Ana Caglioti