quarta-feira, 31 de março de 2021

"Fabrico significados para enfrentar de alguma maneira o pavor de ser frágil dentro de um universo sem sentido." 

Friedrich Nietzsche

“Existo, e sei que o mundo existe. Isso é tudo. Mas tanto faz para mim. É estranho que tudo me seja tão indiferente: isso me assusta. Gostaria tanto de me abandonar, me esquecer, dormir. Mas não posso, eu sufoco: a existência penetra em mim por todos os lados, pelos olhos, pelo nariz, pela boca… E subitamente, num instante, o véu se rasga: eu compreendi, eu vi. Não posso dizer que me sinta aliviado ou contente; ao contrário, isso me esmaga. Mas minha finalidade foi atingida: eu sei o que eu queria saber. A náusea não me abandonou e não creio que me abandone tão cedo; mas já não sofro, não é mais uma doença ou uma febre passageira, eu sou a náusea".

(Jean Paul Sartre in A Náusea)


 

terça-feira, 30 de março de 2021

Sim, bem sei donde provenho:
Insatisfeito, como chama em seco lenho
Vou ardente e me consumo.
Tudo o que toco faz-se luz e fumo,
Fica em carvão o que foi minha presa:
Sou chama com certeza”

Nietzsche, Gaia Ciência, Rima Alemãs, §62

NO LIMBO DA NEBULOSIDADE

Entre uma e outra percepção, nesse exato interstício, a vida existe. A Vida não é sístole. A Vida não é diástole. Da alternância das duas vem o oxigênio. Assim também, da alternância entre contrastes flui, diáfana, difusa, a consciência. A Singularidade é uma sucessão infinita de percepções fragmentadas que criam um mosaico onde ficam marcadas nossas experiências. Mosaico esse que nunca poderá ser visto em sua completude pela nossa particularidade eis que é um somatório vivo e colorido do nosso pulsar como ritmo cósmico a fluir pelo Universo. Ao retornarmos ao seio de nossa origem seremos um novo número, soma de tudo que passamos. Não mais um, não mais dois ou sequer qualquer uma de suas sucessões. Seremos absolutos na soma de nossas relatividades. Nunca saberemos quem realmente somos pois, como cometas que vão se desintegrando no atrito de suas passagens pelos caminhos do infinito, vamos nos fragmentando em cada nova observação, em cada nova análise, em cada nova passagem. Nova luz surge em cada atrito, em cada sinapse, mas morre também, nesse instante, a parte que carregávamos de nós mesmos como crenças que são sistematicamente superadas, de instante a instante, pela evolução da compreensão. Nascemos e morremos, a todo instante, em meio a tentativas de encontrar no relativo, o Absoluto. Decifra-me ou te devoro, já dizia a Esfinge.

Gildo Fonseca.

segunda-feira, 29 de março de 2021

"O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio".

Clarice Lispector.

sábado, 27 de março de 2021

Os vácuos entre as percepções podem conter respostas surpreendentes para o olhar viciado que supoe sempre,  presunçosamente, ter respostas para suas expectativas pois essas respostas são lastreadas em seu passado cultural com todos os seus enquadramentos. O Ser pode não ser aquilo que supõe ser pois racionaliza a partir da soma de seus relativos fragmentos de vida e constrói sua imagem a partir do seu próprio barro, da sua própria nebulosidade, criando a escultura caminhante em que habita. A Vida se desnuda quando não cobrimos nossos olhos com pretensas respostas. A resposta nunca é. Ela é um eterno vir-a-ser. Amanhã, a resposta já será outra. Nós também, no Instante seguinte, já seremos Outros. Como dizia Foucault: "não me perguntes quem sou e não me peças para permanecer o mesmo".

Gildo Fonseca.

sexta-feira, 26 de março de 2021

"...os dramas mais impressionantes, e o mais excêntricos, não são desempenhados no teatro, mas no coração dos homens comuns, pelos os quais passamos sem prestar atenção e que, no máximo, mostram ao mundo, através, de um colapso nervoso, as batalhas que se desferem em seu íntimo. Além disso, o que é mais difícil para a compreensão dos leigos é que, em geral, os doentes não tem qualquer pressentimento da batalha que se trava em seu inconsciente. Se considerarmos, no entanto, o número de homens que nada sabem acerca de si mesmos, não devemos nos admirar de que também haja os que nada pressintam acerca de seus verdadeiros conflitos".
 
Carl Gustav Jung  -  Artist: Vitali Trocin -"Tendinte de Cariatide"

quinta-feira, 25 de março de 2021

Por outro lado, como dizia Lispector:

"Escrevo como se fosse salvar a vida de alguém, provavelmente a minha mesmo"...
 

quarta-feira, 24 de março de 2021

"Olhe o mundo com a coragem do cego, entenda as palavras com a atenção do surdo, fale com as mãos e com os olhos, como fazem os mudos!”
 
(Cazuza)

terça-feira, 23 de março de 2021

COSMOS HUMANOS, de Einstein

 
Nós tentamos fazer por nós mesmos e da forma que melhor nos convém, uma imagem simplificada e inteligível do mundo, para, em seguida, tentar, de alguma maneira, "transferir" este cosmos nosso para o nosso mundo da experiência e, assim, superá-lo.
 
Isto é o que o pintor, o poeta, o filósofo especulativo e o cientista natural fazem, cada um da sua própria maneira. Ele faz com o cosmos e sua construção, o pivô de sua vida emocional, a fim de encontrar, desta forma a paz e a serenidade que ele não consegue encontrar no turbilhão estreito da experiência pessoal ... É minha convicção [que] ... as leis gerais em que a estrutura da física teórica é baseada, deve apresentar-se válida para qualquer fenômeno natural. Com eles, deve ser possível chegar à descrição, isto é, a teoria, de cada processo natural, incluindo a vida, por meio de pura dedução, se esse processo de dedução não for muito além da capacidade do intelecto humano. A renúncia do físico sobre a completude do seu cosmo não é, portanto, apenas uma questão de princípio fundamental. A tarefa suprema do físico é chegar a essas leis universais elementares de que o cosmos pode ser construído por pura dedução. Não há nenhum caminho lógico para essas leis; intuição apenas, repousar, em uma simpática compreensão da experiência, pode permitir alcançá-las.
 
Albert Einstein, "Prinzipien der Forschung: Rede zum 60. Geburtstag von Max Planck "em Mein Weltbild pp 107-110 (1918) em The Collected Papers de Albert Einstein, vol. 7, é. 7 (2002) (S.H. trad.) Foto: Dream Sul por Kwon Chul.

A Filosofia — diante do abismo de si
 
A filosofia é uma estrada que percorre os pontos mais elevados dos Alpes; para chegar até lá, é preciso galgar uma senda abrupta, que atravessa rochas pontiagudas e espinhaços poderosos; é um caminho solitário que se torna cada vez mais desolado a medida em que nos aproximamos do cume; quem o segue, não deve temer o assombro, mas deixa-lo inteiramente atrás de si, enquanto abre seu próprio caminho com perseverança através da fria neve. Com frequência o filosofo se depara subitamente diante um abismo hiante e, descendo ao longo dele, consegue dirigir o olhar até o vale verde que se estende muito além, lá embaixo nas planuras. Sofre então uma terrível sensação de vertigem; mas precisa superá-la, mesmo que para isso tenha de fixar as solas de seus pés sobre as rochas com o adesivo de seu próprio sangue. Passado esse momento, verá que todo o mundo se encontra abaixo de si, perceberá como desaparecem todas as terras pantanosas e a multidão dos desertos de areia, como se afastam todas as irregularidades, como todas as discordâncias ficam contidas no conjunto e não sobem até ele e é então que percebe realmente como o mundo é redondo. Enquanto isso, ele permanece sempre no ar puro e frio das alturas e pode contemplar o Sol, enquanto o mundo inferior domina ainda a negra escuridão da noite.
 
Arthur Schopenhauer, in "Primeiros Manuscritos".
 
Fonte: "Schopenhauer E os Anos mais Selvagens da Filosofia" de Rudiger Safranski -Ilustração de Caspar David Friedrich

Aprenda a se preservar. A falar pouco ou quase nada. Aprenda que coisas do coração são coisas sagradas, e só devem ser ditas a quem vai ouvi-las com carinho e ficar feliz junto contigo. Alguém que, ao ouvir que algo te incomoda, vai torcer muito para que isso passe, e que você supere. Desabafo a gente faz a quem torce verdadeiramente para que os ventos mudem, e os caminhos bons apareçam na nossa frente.
 
KARLA TABALIPA 
 
(Esse texto tem sido atribuído erradamente como sendo de Clarice Lispector. Quem conhece Clarice percebe, "de cara", que esse não é o estilo dela").

segunda-feira, 22 de março de 2021

domingo, 21 de março de 2021

"Compreendeu de repente o que era a angústia e soube que ela só podia ser vencida por aqueles que a reconhecessem. Sentia-se angústia por mil motivos, em face da dor, da justiça, do próprio coração. Tinha-se um medo angustioso de dormir, de acordar, de ficar sozinho, de sentir frio, de ser atacado de loucura, da morte. Mas todas essas coisas eram apenas máscaras e disfarces. Na realidade, só se sentia medo e angústia de uma coisa: deixar-se cair, dar o passo para a incerteza, o pequeno passo para fora de qualquer segurança que pudesse haver. E quem tivesse uma vez, uma única vez, abandonado, quem tivesse praticado o grande ato de confiança e se entregasse ao destino, estaria libertado. Ele não pertencia mais às leis da terra; caíra no espaço e era levado pela dança das constelações. Era assim. Tudo era tão simples que até uma criança podia compreender e saber. "
 
Hermann Hesse. In: O Último Verão de Klingsor

sábado, 20 de março de 2021


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Acabo de receber um mapa de tesouros. Dos tesouros escondidos dentro de nós. O tesouro da lucidez e da consciência pode ser encontrado por um mapa para a prospecção de nossas vastidões interiores. Mapas de tesouros sempre foram disputados através da história e são ainda mais valiosos quando se trata de perscrutar a alma humana. Os Mapas são, verdadeiramente, os maiores tesouros pois iluminam os Caminhos que levam ao alento das necessidades de cada um. Seres que são abençoados com uma intensa fonte luminosa própria, como Edilene Torino e Eduardo Penido, conseguem tecer uma Estruturação do processo do Compreender e do Agir, um fio de Ariadne que, como uma bússola de luz, provoca o cavalgar de corações e mentes pulsantes, instiga almas ao indômito buscar de si mesmas escondido em seus recônditos, gera, pelo calor no ventre da consciência daqueles que foram por eles iluminados, o desabrochar do casulo de seda de cada um, provocando novos voos de percepção, amplitude de visão, ancoragens de identificação. Mapear o movimento e Estruturar Caminhos é Graça, dádiva dos deuses, privilégio de almas nobres, elevadas, de visão ampla, afiadas, livres, ousadas e transgressoras que descortinam antes as passagens que serão utilizadas para novos desbravadores utilizarem no porvir, no pleno amanhecer interior de cada um. Parabéns e agradecimentos aos amigos Edilene Torino e Eduardo Penido, por nortearem a todos nós, com esse novo farol de orientação que é a sua Trilogia, com novas possibilidades, novas compreensões, novos caminhos, novas percepções. Recomendo a todos os amigos e amigas que respiram Psicologia, Psicanálise, Educação e a todos aqueles que buscam o entendimento e os meios de compreensão da alma humana e da vida em todas as suas vertentes. Uma Obra REALMENTE IMPERDÍVEL. Busquemos os Mapas de tesouro e descobriremos que o Mapa, o próprio processo cartográfico, é o maior tesouro. Ele pode ser descoberto e orientado através das Obras de Edilene Torino e Eduardo Penido. Navegar é preciso mas, com mapas no leme, ele se torna muito, muito mais preciso em todos os sentidos. Gratidão Edilene e Eduardo pelo calor e pela Luz emanados de sua 

trilogia Mapeamento do Processo Psico Terapêutico. 🌻🌻🌻

As fotos que tirei tem um bordado ao fundo pois os navegadores ao discutirem as rotas escreviam sobre toalhas. Gildo Fonseca.

Em tempos de pandemia até Sísifo trabalha em casa...

 "A imaginação é a metade da doença;

 

A tranquilidade é a metade do remédio;

 

E a paciência é o primeiro passo para cura".

 
 
Ibn Sina, com nome latinizado de Avicena, médico e filósofo árabe, pai da medicina moderna.

 


sexta-feira, 19 de março de 2021

AN CORAGEM NAQUILO QUE SE ACREDITA.

UM CAIS NO CAOS.

UM CAOS NO CAÍS.

É preciso coragem para saber que se está perdido.  A nebulosidade do incriado, ventre do porvir, flerta com o fantasma das culturas anteriores subjacentes que rodeiam nossas paragens.

Somos o torno de nossos entornos. Somos o tornar-Se pois quando achamos que já somos, que encontramos, já não somos mais devido a estarmos no instante consciencial seguinte. O que se é, já se foi...

Sou o que acredito que sou. Talvez soul. Mas minha crença me limita pois me define e me enquadra aniquilando assim, nesse instante, a essência tão volátil, flexível e ilimitada que apenas pode ser sentida. Tudo aquilo que ainda não sou, sou ou posso ser.

O enquadrar-se, o explicar-se, o aculturar-se provoca a autofagia na proporção que engarrafa um infinito de possibilidades de tudo aquilo que ainda não se é, aliás nunca se é, porque se é apenas um tornar-se.

Ser e estar. Estar para ser. Ser para estar. Ao definirmos alguma coisa matamos todas as possibilidades de ser dessa coisa. Carregamos o finito limitado de nossas definições num conflito com o infinito ilimitado de todas as possibilidades que como um líquido amniótico nos envolve.

Se é aquilo que se acredita, apenas uma sinapse perceptiva. Talvez Potência como dizia Nietzsche. Qualquer pretensa suposição de uma verdade é limitada pelo infinito de possíveis ainda desconhecidos pela unilateralidade da concepção dessa imaginária verdade. Caminhamos para aquilo que ainda não se é, e que, e se, quando for, deixará de ser o que era pois já não é mais pela sua nova posição.  Somos o fluxo. Envoltos em pueris capas, esboços de miragens cantadas por sereias de tantos desejos, verdades e pretensões.

Sou aquele que ainda não é. Talvez nunca seja pois se for, uma vez definido, estático, estarei morto. Já, se souber que não sou, serei aquele (ou aquilo) que passa pelo caminho emanado de nossas próprias percepções metamorfoseadas em cada circunstância, tateando em nebulosidades.

Ancorar pressupõe cais. Mas o caís da existência é volátil, circunstancial, fluídico, relativo. Um pretensioso conhecer. Achando um cais morro na inércia do instante conhecido que, no instante seguinte já ficou para trás, já virou passado, não existe mais. Se ficar, serei então um barco amarrado. Sou, mas o que fui já era e o que serei ainda não sou.

No vasto oceano do existir, qualquer protagonismo nosso é pretensão. No máximo coadjuvantes do imponderável devir. As bengalas das paixões, desejos, crenças, certezas e pressuposições demonstram que o caminhar por si mesmo é obra para o gigantismo interior de cada um a ser descortinado no esforço de um eterno vir a ser. Existir é inenarrável pois o simbolismo perceptivo, tão relativo, flui, evolui e se transforma em cada fragmento de instante e a inexorabilidade da consciência é um pulsar, uma sinapse absoluta de uma pretensa lucidez em trânsito por eternas, talvez ternas, impermanências. Viva o Imponderável !!!    Gildo Fonseca.