sábado, 11 de agosto de 2012

Dor, eco e o "outro"


Sobre a tristeza de criar dor, para, pelo eco, conhecer-me.

Em nossas tentativas de afirmarmo-nos, geramos, com palavras, coisas e fatos, dores e prazeres ao del redor, pois somente pela ressonância desse eco encontramos companhia para o desterro de nossas almas, confinadas ao isolamento das singularidades.

Conhecemos a dor e prazer, ferindo-nos nos outros.
A alegria que geramos no outro é nossa.
A dor que geramos no outro é nossa.

Nosso é o outro, assim como do outro somos nós e talvez seja esse o verdadeiro significado de amor, essa construção interativa desses eternos bebês contidos em todos nós e chamado singularidades, que grita por colo, reconhecimento, que só podem vir de nós mesmos. Levantemo-nos e sigamos em busca das dinâmicas verdades. 

by Gildo.


Animais Absolutos

Enquanto os homens, desgarrados do Ser, tem um destino a fazer, os animais permanecem no seio da ralidade que os engendrou. São fios inseparáveis da trama que o Absoluto tece. Rainer Maria Rilke escreveu na Oitava Elegia: "Oh santidade das pequenas criaturas que sempre permanecem no ventre que as gerou"

Em A Paixão Segundo G.H. encontramos essa confissão da personagem: "Uma barata é maior que eu porque sua vida se entrega tanto a Ele que ela vem do infinito e passa para o infinito sem perceber, ela nunca se descontinua". (pág. 127).


Paixão segundo G.H.

"(A nostalgia não é do Deus que nos falta, é a nostalgia de nós mesmos que não somos bastante, sentimos falta de nossa grandeza impossível - minha atualidade inalcançável é o meu paraíso perdido)".


Lispector, (A Paixão segundo G.H., pg. 151)


Amada Lispector....

"E agora eu estava como diante Dele e não entendia - estava inutilmente de pé diante Dele, e era de novo diante do nada.

A mim, como a todo o mundo, me fora dado tudo, mas eu quisera mais: quisera saber desse tudo. E vendera a minha alma para saber. Mas agora eu entendia que não a vendera ao demônio, mas muito mais perigosamente a Deus, que me deixara ver.


Pois Ele sabia que eu não saberia ver o que visse: a explicação de um enigma é a repetição do enigma. O que És? E a resposta é: És. O que existes? E a resposta é: o que existes. Eu tinha a capacidade da pergunta, mas não a de ouvir a resposta".


(A Paixão Segundo G.H., pg. 135).



Benedito Nunes, maravilhoso, sobre Sartre e Lispector

Não nos angustiamos como sentimos medo.
Tem-se medo de algo definido, de um ser particular (intramundano), tem-se angústia sem saber de quê.
É que o seu objeto é o próprio ser-no-mundo.

O sentimento da existência humana, instantaneamente revelada, põe-nos a sós, numa penosa experiência de isolamento metafísico, que Pascal realizou e exprimiu. Isolamento essencial e paradoxal através da angústia o homem encontra a sua realidade de ser existente, e não podendo suportá-la, refugia-se no mundo, decai para o cotidiano, onde passa a existir de modo público, impessoal, protegido por uma crosta de palavras, por interesses fugidios e perspectivas limitadas, que não o satisfazem completamente e apenas disfarçam o cuidado (sorge) em que vive.

(Benedito Nunes, em análise de Sartre (a náusea) e Lispector (Paixão segundo G.H.)

Realidades inexprimíveis


SOBRE A INCOMUNICABILIDADE DO INDIZÍVEL

O texto abaixo é um fragmento de Benedito Nunes sobre Lispector

A oposição entre existência e pensamento, focalizada por Kierkegaard equivale à oposição entre existência e linguagem.

Sucede, porém, que essa tensão, intensificada, levada à suas últimas consequências, pode tornar-se representativa dos problemas metafísicos inerentes à condição humana. É o que ocorre nos romances de Clarice Lispector.

Neles a inquietação que tortura os indivíduos é o desejo de ser, completa e autenticamente - o desejo de superar a aparência, conquistando algo assim como um estado definitivo, realização das possibilidades latentes em nós. Aspiração contraditória! Realizar essas possibilidades é dar-lhes forma e, consequentemente, expressa-las. Não nos contentamos em viver, precisamos saber o que somos, necessitamos compreende-lo e dizer, mesmo em silêncio, para nós mesmos, aquilo em que vamos nos tornando. Alcançamos, pois, expressões parciais da existência indefinida, imagens sucessivas do nosso ser, que aparecem num momento para desfazer-se em outro. A realidade alcançada agora, mostra-se depois como aparência - a única aparência possível no instante em que a engendramos e que outro instante revogará.

O ser que conquistamos não é, pois, aquele para o qual o nosso desejo tende, mas aquele que a expressão capta ou constrói, e que é, de qualquer modo, uma realidade provisória, mutável, substituível que oferecemos aos outros e que nos representa perante eles. Daí a relativa falência da expressão, afetando a comunicação entre os homens. Não nos comunicamos plenamente de ser para ser, segundo o ideal da reciprocidade das consciências, porque cada qual está se construindo, cada qual está fabricando, com o auxílio de palavras, velhas ou novas, a idéia de si mesmo.