domingo, 21 de abril de 2024

O Torno, tornando-Se...

Na fluição dos interregnos, nos interstícios das percepções, onde prepondera o dilatar de nossas pupilas pelo choque anafilático ante contrastes simétricos ou dissonantes, frente a asquerosas asperezas, que pelo atrito geram sinapses de espectro de luz, nosso espírito borda o seu destino, na grande tela do oceano de nossas almas, buscando encontrar pelo menos nuances das verdadeiras faces de Si mesmo.


Gildo Fonseca.

Essência pirrônica...

 Quando curiosamente te perguntarem, buscando saber o que é aquilo,

Não deves afirmar ou negar nada. Pois o que quer que seja afirmado não é a verdade, E o que quer que seja negado não é verdadeiro.
Como alguém poderá dizer com certeza o que Aquilo possa ser
Enquanto por si mesmo não tiver compreendido plenamente o que É?
E, após tê-lo compreendido, que palavra deve ser enviada de uma Região
Onde a carruagem da palavra não encontra uma trilha por onde possa seguir?
Portanto, aos seus questionamentos oferece-lhes apenas o silêncio,
Silêncio — e um dedo apontando o caminho.

(Verso budista)

Pressuposições de pretensos poderes...


 

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Eu simplesmente não sou deste mundo… Eu habito a lua com frenesi. Não tenho medo de morrer; tenho medo desta terra estrangeira e agressiva… Não consigo pensar em coisas concretas; elas não me interessam. Eu não sei falar como todo mundo. As minhas palavras são estranhas e vêm de muito longe, de onde não é, de encontros com ninguém… O que farei quando mergulhar em meus sonhos fantásticos e não conseguir voltar? Porque isso terá que acontecer algum dia. Partirei e não saberei como voltar”.

Alejandra Pizarnik

domingo, 7 de abril de 2024

Morfinizando a Sensibilidade...

TENTAR TRANSGREDIR O IMPONDERÁVEL É NASCER DE NOVO, TODOS OS INSTANTES, DESENVOLVENDO A MUSCULATURA DA RESILIÊNCIA, MORFINIZANDO A SENSIBILIDADE DE NOSSAS ALMAS VAGANTES, FORASTEIRAS, POR TERRAS ESTRANHAS DA VIDA, DESERTOS DA COMPREENSÃO, CAMUFLADOS EM SUSPIROS MOMENTÂNEOS, TRANSITÓRIOS, PRETENSAMENTE LÚCIDOS, QUE ALENTAM, POR SUPOSTAS LUZES DO PASSAGEIRO COMPREENDER, NOSSO INEXORÁVEL CAMINHAR, NOSSA INEXORÁVEL CONSCIÊNCIA DA EXISTÊNCIA. GILDO FONSECA.

 
"A força que mata é uma forma sumária, grosseira, de força. Quanto mais variada em seus processos, quanto mais surpreendente em seus efeitos é a força, a que não mata; isto é, a que não mata ainda. Vai seguramente matar, ou vai matar, talvez, ou então está apenas suspensa sobre o ser que pode matar a qualquer momento; seja como for, ela transforma o homem em pedra. Do poder de transformar um homem em coisa fazendo-o morrer procede um outro poder – prodigioso sob uma outra forma –, o de transformar em coisa um homem que continua vivo. Está vivo, tem uma alma; no entanto, é uma coisa. Ser estranho: uma coisa que tem uma alma; estado estranho para a alma. Quem dirá quanto custa, a cada momento, conformar-se, torcer-se, dobrar-se sobre si mesmo? A alma não foi feita para viver numa coisa; quando é constrangida, tudo nela padece de violência". Simone Weil.

sexta-feira, 5 de abril de 2024

E a vida sempre me doeu, sempre foi pouco, e eu infeliz.
A certos momentos do dia recordo tudo isso e apavoro-me,
Penso em que é que me ficará desta vida aos bocados, deste auge,
Desta estrada às curvas, deste automóvel à beira da estrada, deste aviso,
Desta turbulência tranqüila de sensações desencontradas,
Desta transfusão, desta insubsistência, desta convergência iriada,
Deste desassossego no fundo de todos os cálices,
Desta angústia no fundo de todos os prazeres,
Desta saciedade antecipada na asa de todas as chávenas,
Deste jogo de cartas fastiento entre o Cabo da Boa Esperança e as Canárias.
Não sei se a vida é pouco ou demais para mim.”
 
Fernando Pessoa, Desassossego