domingo, 29 de outubro de 2017

Sou como você me vê...posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,depende de quando e como você me vê passar...suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras, sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdoo logo.
Não esqueço nunca. Mas há poucas coisas de que eu me lembre...Tenho felicidade o bastante para ser doce,dificuldades para ser forte,tristeza para ser humana e esperança suficiente para ser feliz. Não me deem fórmulas certas, por que eu não espero acertar sempre. Não me mostrem o que esperam de mim, por que vou seguir meu coração. Não me façam ser quem não sou. Não me convidem a ser igual, por que sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei viver de mentira. Não sei voar de pés no chão. Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre...Sou uma filha da natureza:quero pegar, sentir, tocar, ser.
E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério.
Sou uma só... Sou um ser...a única verdade é que vivo.
Sinceramente, eu vivo.
Clarice Lispector


sábado, 28 de outubro de 2017

Julgamentos

Qualquer explicação será sempre um olhar, um singular, solitário e inexoravelmente relativo ponto de vista.

Gildo Fonseca


O inexorável elixir da audácia oxigeniza, embriaga, alucina e embala a Consciência em trânsito em suas apalpadelas no Devir.

Gildo Fonseca.

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

domingo, 22 de outubro de 2017

Embriague-me, por favor !!!!!

"O significado da náusea, mais transtornante do que a angústia, não é, porém, a simples descoberta da existência, como fato irredutível, absoluto. É, ao mesmo tempo, a descoberta de que esse fato é contingente, totalmente gratuito, reduzindo-se ao Absurdo que nenhuma razão, nenhum fundamento podem eliminar. Embebida no Absurdo, a consciência descobre-se supérflua, irrelevante e, sua liberdade, paralisada, apenas esboça uma recusa, uma reação de fuga, como nas emoções violentas, que se manifesta então pelo desejo de vomitar: náusea.
Esse aspecto físico de náusea existencial deriva de duas circunstâncias. Primeiro, a existência revelada apresenta-se "in-concreto". É algo latejante e animado na matéria física e nos organismos vegetais ou animais: suas qualidades não são apenas atributos da matérias, mas verdadeiras qualificações ontológicas (as raízes são massas monstruosas e moles etc). Segundo, essa presença sensível, excessiva, saturante, do ser em-si (en-soi), associada à capacidade de proliferação indefinida do orgânico, engurgita a consciência, forçada a experimentar-se não como consciência situada no corpo, mas como floração carnal, tão existente como a carne áspera da raiz penetrando a terra ou a carne mole da cobra que dorme ao sol.
A raíz da árvore, a cobra, o homem, participam da mesma contingência absurda e inumana, do mesmo crepitar da existência indefinida que se propaga de ser a ser, numa vitalidade indiferente aos nossos projetos. Violentada por aquilo que não pode compreender, paralisada em sua liberdade, não podendo negar ou transcender essa revelação do Absurdo, a consciência decai. Enquanto dura a náusea, faz-se carne e organismo, e acumpliciando-se com a existência anônima, experimenta a suprema repugnância pelo mundo. A náusea é o seu modo absurdo de repelir a fascinação do Absurdo que forma o mundo insuportável e repelente ("avenglante indecence").
A náusea, assim descrita, é o momento excepcional, privilegiado, por que passam os personagens de Clarice Lispector nas crises decisivas."
De: Benedito Nunes sobre Sartre, Heidegger e Lispector em Náusea e Angústia.

sábado, 21 de outubro de 2017

"melancolia". (2012)_
Bronze por Albert Gyorgy. Roménia _
Localizado em Genebra / Suíça


Compartilhado do FB página SculpLovers

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Deleuze

"Criar para si um corpo sem órgãos, encontrar seu corpo sem órgãos é a maneira de escapar ao juízo. Já era esse o projeto de Nietzsche: definir o corpo do devir, em intensidade, como poder de afetar e ser afetado, isto é, Vontade de potência. E se à primeira vista parece que Kafka não participa dessa corrente, nem por isso sua obra deixa de fazer coexistir dois mundos ou dois corpos, fazendo-os reagir um sobre o outro e passar um no outro: um corpo do juízo com sua organização, seus seguimentos ( contiguidade dos escritórios), suas diferenciações ( oficiais,advogados, juízes...), suas hierarquias ( tipos de juízes, de funcionários); mas também um corpo de justiça em que se desfazem os seguimentos, se perdem as diferenciações e se embaralham as hierarquias, preservando-as apenas as intensidades que compõem zonas incertas e as percorrem a toda velocidade, onde enfrentam poderes, sobre esse corpo anarquista devolvido a si mesmo ( ' a justiça nada quer de ti, ela te agarra quando vens e te solta quando vais embora...')."
Deleuze, Crítica e Clínica

Compartilhado do FB, página A Loucura Não é o Extremo
Dizemos aos confusos, Conhece-te a ti mesmo, como se conhecer-se a si mesmo não fosse a quinta e mais difícil operação das aritméticas humanas, dizemos aos abúlicos, Querer é poder, como se as realidades bestiais do mundo não se divertissem a inverter todos os dias a posição relativa dos verbos, dizemos aos indecisos, Começar pelo princípio, como se esse princípio fosse a ponta sempre visível de um fio mal enrolado que bastasse puxar e ir puxando até chegarmos à outra ponta, a do fim, e como se, entre a primeira e a segunda, tivéssemos tido nas mãos uma linha lisa e contínua em que não havia sido preciso desfazer nós nem desenredar emanharados, coisa impossível de acontecer na vida dos novelos, e, se uma outra frase de efeito é permitida, nos novelos da vida.

José Saramago em: "O Caderno"


Compartilhado do FB, página de Marcel Oliveira.


quinta-feira, 12 de outubro de 2017

“Mas sou caleidoscópica: fascinam-me as minhas mutações faiscantes que aqui caleidoscopicamente registro” (Lispector, 1973, p. 38).

Mas é do buscar e não achar que nasce o que eu não conhecia, e que instantaneamente reconheço. A linguagem é o meu esforço humano. Por destino tenho de ir buscar e por destino volto com as mãos vazias. Mas – volto com o indizível. O indizível só me poderá ser dado através do fracasso de minha linguagem. Só quando falha a construção é que tenho o que ela não conseguiu.”

Clarice Lispector, in A paixão segundo G.H.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017




ODE A SCHOPENHAUER

Hoje vi um pássaro num bosque feliz tentando apanhar com seu bico, uma lagartixa encurralada, patente era a alegria do pássaro preparando-se para almoçar, patente o desespero da lagartixa tentando sobreviver. Me lembrei de todos os animais caçando uns aos outros para poder sobreviver. Lembrei do homem que caça por puro prazer, os animais e até seus semelhantes. Todos nós para sobreviver, precisamos tirar a vida de alguma coisa, seja vegetal, seja animal. Se quisermos sobreviver precisamos matar alguma vida e o pior, precisamos de "esforço" para buscar essa insana sobrevivência através da força das ações, que por sua vez, dependem da "energia" gerada pelo resultado de nossos inexoráveis assassinatos cotidianos. A luta para sobreviver e a forçosa adaptação às culturas condicionantes através da história nos levam a essa embriaguez absoluta da ambição, dos prazeres, da busca pelo novo e o diferente entre muitos outros aspectos. Não consigo conceber uma Criação que, para uns sobreviverem outros precisem morrer. Como uma forte injeção de consciência, direta na veia, Schopenhauer traz a tona, de forma clara essa tragédia da nossa existência em seu texto "O Vazio da Existência", que recomendo a todos que tiverem um "estômago de aço" na alma. A embriaguez consciencial é a saída. Vamos nos embriagar desse majestoso senhor, o Cotidiano, com todos os seus insensatos, fugazes, transitórios mas, necessários, sonhos. É a única saída, uma vez que nos roubaram a única coisa, essa semente realmente nossa: a compreensão do PORQUÊ de todas as coisas, a sinceridade da busca do nosso Espírito, única "coisa" realmente "nossa". Assim talvez possamos deixar se ser escravos de tantos COMOS, pois os meios para atingir as coisas estão sempre em evolução enquanto o FIM que justificaria tantos MEIOS é uma incógnita, um punhal lançado no coração dos que mergulham no Oceano da Consciência. Vamos pois mergulhar na embriaguez das impermanências. TIM TIM !!!!!

Gildo Fonseca