terça-feira, 23 de setembro de 2014

Como, realmente, a paixão se baseava sobre a ilusão de uma felicidade pessoal, em proveito da espécie, desde o momento que se paga o tributo à espécie, a ilusão deve dissipar-se. O gênio da espécie que tomara posse do indivíduo, abandona-o de novo à liberdade. Deste modo, recai nos acanhados limites da sua pobreza, e admira-se por ver que após tantos esforços sublimes, heróicos e infinitos, nada lhe resta senão uma satisfação vulgar dos sentidos: contra toda a expectativa, não se encontra mais feliz do que antes. Compreende que foi ludibriado pela vontade da espécie. É portanto regra geral. Teseu uma vez feliz abandona Ariadna. Se a paixão de Petrarca houvesse sido satisfeita, o seu canto teria cessado, como o do pássaro logo que os ovos se encontram dispostos no ninho.

– Arthur Schopenhauer, in As Dores do Mundo.






Nenhum comentário:

Postar um comentário