domingo, 10 de junho de 2018

"O real e o impossível são antitéticos, eles não podem caminhar juntos. A análise empurra o sujeito para o impossível, ela lhe sugere considerar o mundo como ele é realmente, isto é, imaginário, sem significação. Enquanto que o real, como um pássaro voraz, só faz se alimentar de coisas sensatas, de ações que têm sentido.
Ouve-se repetir que é preciso dar um sentido a isso e a aquilo, a seus próprios pensamentos, a suas próprias aspirações, aos desejos, ao sexo, à vida. Mas da vida não sabemos nada de nada. Os sábios perdem o fôlego a nos explicar.
Meu medo é que por seus erros, o real, essa coisa monstruosa que não existe, acabe por conseguir, por levar a melhor. A ciência é substituída pela religião, e ela é de outra maneira mais despótica, obtusa e obscurantista. Há um deus-átomo, um deus-espaço, etc. Se a ciência ganha ou a religião, a psicanálise está acabada."

Lacan - Inédito - Recorte da entrevista de Lacan, tradução Marcia Gatto, publicada na revista francesa Magazine Literraire de fevereiro de 2004 e concedida a Emilio Granzotto na revista italiana Panorama em 1974. [Traduzida do italiano por Paul Lemoine.]


Compartilhado do FB, pg. de Lêda Guimarães

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