terça-feira, 13 de outubro de 2020


Dentre as inúmeras ilusões às quais podemos recorrer para amenizar ou buscar curar nossas dores, o desejo infantil de ser protegido e cuidado permanece a maior de suas fontes. É esse um desejo que, embora parta da necessidade de ser amado, desejado, cuidado, não deixa de passar pelo risco do desejo de ser exclusivo, escolhido, à despeito de outros. Na busca por um amor que se queira incondicional, podemos fomentar a negação da nossa condição humana de base: aquela que nos afirma, sem cessar, como seres necessitados uns dos outros. A criança que habita em nós precisa de amor. Tanto que, para consegui-lo, pode vir a vestir-se com as máscaras que ela crê serem necessárias para garantir esse amor. É assim que, desamparada, a criança que habita em nós se esquece de si, se esquece de suas dores. Olhos fixados que estão, apenas, na ilusão de um amor incondicional. As guerras tem em si as mesmas razões. (Evelin Pestana, psicanalista, São Paulo/Brasil) Ilustração: Michael Cheval

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