sábado, 16 de março de 2024

ESPERANDO GODOT !!!
 
Conta a lenda que Samuel Beckett e James Joyce costumavam se encontrar frequentemente para longas conversas em silêncio. Joyce, aos cinquenta e tantos anos, era um mentor para o jovem Beckett – que quase se tornou genro do autor de Ulysses, empreitada que desistiu à medida em que a loucura de Lúcia Joyce se agravava.
A mudez, tanto das palavras quanto dos sentidos, permeia toda a obra de Beckett, se acentuando em Esperando Godot, a fábula de uma espera sem fim por alguém que nunca chega. Obra máxima do Teatro do Absurdo, escrita em 1949 e levada aos palcos quatro anos mais tarde, a peça é a síntese da expectativa pelo desconhecido e do desejo pelo desnecessário.
Em um cenário mínimo – uma árvore e uma pedra, somente –, Vladimir e Estragon descem ao inferno sem nem mesmo sair do lugar. Beckett – um estudioso de Dante – constrói uma narrativa aparentemente simples para dar voz a todo tipo de angústia e dúvida.
Ao elevar o absurdo à Arte, o irlandês esmiúça as humilhações e devastações que desumanizam o homem. Esperando Godot é uma experiência de autoexílio inconsciente. Isto porque, frente ao isolamento e à ausência extremos, Vladimir e Estragon se alijam de suas próprias identidades para ter conforto no invisível.
 
O texto acima é um fragmento de uma análise de Jonatan Silva.

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