domingo, 6 de dezembro de 2015

Nietzsche simplesmente fantástico....
















Compartilhado da página do FB de Friedrich Wilhelm Nietzsche



Na Prisão

Minha vista, quer seja aguda, quer seja fraca, não vê senão a certa distância. Vivo e ajo nesse espaço, essa linha do horizonte é meu mais próximo destino, grande ou pequeno, ao qual não posso escapar. Em torno de cada ser se estende assim um círculo concêntrico que lhe é particular. Igualmente o ouvido nos encerra num pequeno espaço, da mesma forma que o sentido do tato. E a partir desses horizontes, onde nossos sentidos encerram cada um de nós, como nos muros de uma prisão, que avaliamos o mundo, dizendo que tal coisa está perto, tal outra está longe, tal coisa é grande, tal outra é pequena, tal coisa é dura e tal outra é mole: chamamos “sensação” essa forma de medir — e tudo isso é simplesmente um erro em si! A partir da quantidade de experiências e emoções que nos são possíveis em média num espaço de tempo dado, avaliamos nossa vida, a achamos curta ou longa, rica ou pobre, cheia ou vazia: em função da média da vida humana, avaliamos aquela de todos os outros seres — e isso, tudo isso, é simplesmente um erro em si! Se tivéssemos uma vista cem vezes mais penetrante para as coisas próximas, o homem nos pareceria enorme; poderíamos até imaginar órgãos por meio dos quais o homem pareceria incomensurável. Por outro lado, certos órgãos poderiam ser constituídos de tal maneira que reduziriam e limitariam sistemas solares inteiros, para torná-los semelhantes a uma única célula: e para seres inversamente constituídos, uma única célula do corpo humano poderia apresentar-se em sua construção, seu movimento e sua harmonia como um sistema solar. Os hábitos de nossos sentidos nos envolveram num tecido de sensações enganadoras que são, por sua vez, a base todos os nossos juízos e de nosso “entendimento” — não há absolutamente saída, não há escapatória, não há senda voltada para o mundo real! Estamos em nossa teia como aranhas e ainda que apanhemos alguma coisa, podemos apanhar somente e sempre o que se deixar prender em nossa teia.

Friedrich Wilhelm Nietzsche, in Morgenröte/Aurora - 117.
Ilustração de James Jean.

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