quarta-feira, 18 de outubro de 2017

Deleuze

"Criar para si um corpo sem órgãos, encontrar seu corpo sem órgãos é a maneira de escapar ao juízo. Já era esse o projeto de Nietzsche: definir o corpo do devir, em intensidade, como poder de afetar e ser afetado, isto é, Vontade de potência. E se à primeira vista parece que Kafka não participa dessa corrente, nem por isso sua obra deixa de fazer coexistir dois mundos ou dois corpos, fazendo-os reagir um sobre o outro e passar um no outro: um corpo do juízo com sua organização, seus seguimentos ( contiguidade dos escritórios), suas diferenciações ( oficiais,advogados, juízes...), suas hierarquias ( tipos de juízes, de funcionários); mas também um corpo de justiça em que se desfazem os seguimentos, se perdem as diferenciações e se embaralham as hierarquias, preservando-as apenas as intensidades que compõem zonas incertas e as percorrem a toda velocidade, onde enfrentam poderes, sobre esse corpo anarquista devolvido a si mesmo ( ' a justiça nada quer de ti, ela te agarra quando vens e te solta quando vais embora...')."
Deleuze, Crítica e Clínica

Compartilhado do FB, página A Loucura Não é o Extremo

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