quarta-feira, 3 de maio de 2023

“Segundo Freud (1973), podemos buscar os primeiro traços da atividade poética no brincar da criança. Quando brinca, ela cria um mundo próprio e novo; situando as coisas do seu mundo em uma ordem nova e mais ao seu gosto. Para a criança, a brincadeira é algo muito sério. É uma atividade que envolve muitos afetos. Para Freud, o oposto do brincar não é a seriedade, mas a realidade. A criança distingue bem a realidade do mundo e seu brincar, apesar da carga de afeto com que o preenche; ela gosta de apoiar os objetos e circunstâncias que imagina em objetos tangíveis e visíveis do mundo real. Esse apoio é o que diferencia o “brincar” infantil do “fantasiar”.
 
O fantasiar dos adultos não é tão fácil de percebermos como o brincar da criança. Freud nos diz que quando as pessoas crescem param de brincar, renunciando a esse prazer da infância. Mas, na realidade, esse prazer não é verdadeiramente renunciado. Ao parar de brincar, a criança em crescimento apenas da “casa real” de nossas infâncias, criamos nossas “casas imaginárias”.
 
Temos, segundo Freud, um paralelo entre a atividade criadora do poeta e o brincar infantil. Para ele, o poeta faz o mesmo que a criança quando brinca: cria um mundo fantástico e o leva muito à sério, sente-se intimamente ligado a ele, ainda que o distinga da realidade. Os poetas também conseguem diminuir a distância entre a sua singularidade e a essência geral humana.
 
Pensemos em nossas casas. O que foi feito das casinhas de nossa infância? De uma forma ou de outra, aqui estão, constituídas de tijolos, madeira ou papelão, transformadas em lar, moradia ou prisão.” ( Nilson Cordeiro)

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