sábado, 31 de março de 2012

Ensinamentos de Rita de Cassia

O instinto de Eros nos diz que buscamos sempre esta tal de transcendência com o Outro. Procuramos nos ligar ao outro, às pessoas. São os chamados instintos de vida em contrapartida aos instintos de morte ou pulsão de morte. Eis que surge o amor no meio disso tudo , que é o que nos gera e que dá vazão aos nossos sentimentos. O amor respira a vida. Muitos dizem, em relação ao desejo, que a nossa "carne é fraca", mas se vermos a realidade profunda do amor e do desejo, podemos dizer que a inscrição do desejo se encontra na alma, e não na carne. O amor é a forma de encontramos uma certa fusionalidade com o outro, uma volta à sensibilidade infantil do amor glorioso e oceânico, que um dia pairou por nós como completude. O amor é a via justamente também da saída da repetição de comportamentos e de certas identidades ao que costumamos chamar de "Eu". Através do ampar o e desamparo encontrados na relação amorosa se articula uma série de encontros e desencontros com o outro e consigo mesmo. 

Como articular uma nova forma de desamparo? Pode haver um descompasso que se trava entre o sujeito e a sua procura de amparo no amor. A criança, no seu amparo materno, seja no campo intra-uterino ou na relação com a mãe não tem absoluta co nsciência disso, mas essa relação - e respectivas conseqüências psíquicas advindas dela - comandam e dão princípio a todo o "vir a ser" da pessoa. No amor, há uma procura de fechar esse buraco do desamparo, um chamado "prazer negativo". Negativo, pois procura reparar uma perda. Isso já é um aspecto muito clássico do ponto de vista psicanalítico, mas a questão fundamental em que devemos nos remeter é: Será que existe um ponto onde pode haver uma passagem? Uma espécie de transcendência disso tudo no próprio amor? Existe um mais além no amor? A consciência da experiência no mundo "adulto" é mais absoluta em relação à da criança. Consciência, que se diga aqui, é a plena consciência racional e emocional desse chamado "amor". Bion diz no seu livro "Transformações" que, por definição, o termo "consciente" relaciona-se a estados dentro da personalidade: consciência de uma realidade externa é secundária à consciência de uma realidade psíquica interna. Ele ainda diz: "Realmente, consciência de uma realidade externa depende da capacidade da pessoa tolerar ser lembrada de uma realidade interna". 

Consciência do afeto, do sentimento, das sensações vividas no próprio corpo, e do corpo em contato com o outro. Isso, absolutamente, está longe da expectativa de fusionalidade. Mas o que de bom pode despertar disso, o que de fato não está ligado nem envolvido com a "agressividade" humana, pode-se dizer que pode haver até uma "agregação" de valor interno e até espiritual muito maior do que pode ter acontecido durante o período da relação mãe-bebê.
Achamos que realmente fomos expulsos do paraíso sem ao menos nunca "realmente" termos estado lá?

Enquanto o amor nos chama, o que também clama por nós é a Compaixão. Aliás, o que é compaixão? É entender no outro essa grande falta que nos corrói e constrói. Es sa falta que nos move, mas que pode ser compreendida no outro, também. O Outro não é algo que corrupta sua mente. O outro deve ser visto como alguém tão "castrado" quanto você mesmo. No Budismo há a clara intenção de, na busca pela transcendência, mostrar que ela pode ser realizada via solidão meditativa. A meditação como investigação e redenção de si mesmo é positiva. Mas isso não tira a necessidade de se estar com o outro, aprender com o outro.
E é característica e tarefa de nossa instância psíquica, nosso "Eu", nunca se satisfazer, justamente para dar conta desta "energia". Isso o Budismo fala claramente, de que não há satisfação mundana. O homem procura a todo o momento a realização, a satisfação, mas logo que há uma certa satisfação, já é necessário outro desejo para cumprir com a tarefa de ser feliz. Ser feliz parece ser sempre uma tarefa a ser cumprida, e nunca apenas "Ser" é o bastante, nunca apenas estar "aqui e agora", com a mente clara e vívida, sem desejos, podendo permanecer "aqui" em um estado de pleno contentamento.
Rita de Cássia Antunes de Oliveira
Psicoterapia Existencial


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