sexta-feira, 19 de março de 2021

AN CORAGEM NAQUILO QUE SE ACREDITA.

UM CAIS NO CAOS.

UM CAOS NO CAÍS.

É preciso coragem para saber que se está perdido.  A nebulosidade do incriado, ventre do porvir, flerta com o fantasma das culturas anteriores subjacentes que rodeiam nossas paragens.

Somos o torno de nossos entornos. Somos o tornar-Se pois quando achamos que já somos, que encontramos, já não somos mais devido a estarmos no instante consciencial seguinte. O que se é, já se foi...

Sou o que acredito que sou. Talvez soul. Mas minha crença me limita pois me define e me enquadra aniquilando assim, nesse instante, a essência tão volátil, flexível e ilimitada que apenas pode ser sentida. Tudo aquilo que ainda não sou, sou ou posso ser.

O enquadrar-se, o explicar-se, o aculturar-se provoca a autofagia na proporção que engarrafa um infinito de possibilidades de tudo aquilo que ainda não se é, aliás nunca se é, porque se é apenas um tornar-se.

Ser e estar. Estar para ser. Ser para estar. Ao definirmos alguma coisa matamos todas as possibilidades de ser dessa coisa. Carregamos o finito limitado de nossas definições num conflito com o infinito ilimitado de todas as possibilidades que como um líquido amniótico nos envolve.

Se é aquilo que se acredita, apenas uma sinapse perceptiva. Talvez Potência como dizia Nietzsche. Qualquer pretensa suposição de uma verdade é limitada pelo infinito de possíveis ainda desconhecidos pela unilateralidade da concepção dessa imaginária verdade. Caminhamos para aquilo que ainda não se é, e que, e se, quando for, deixará de ser o que era pois já não é mais pela sua nova posição.  Somos o fluxo. Envoltos em pueris capas, esboços de miragens cantadas por sereias de tantos desejos, verdades e pretensões.

Sou aquele que ainda não é. Talvez nunca seja pois se for, uma vez definido, estático, estarei morto. Já, se souber que não sou, serei aquele (ou aquilo) que passa pelo caminho emanado de nossas próprias percepções metamorfoseadas em cada circunstância, tateando em nebulosidades.

Ancorar pressupõe cais. Mas o caís da existência é volátil, circunstancial, fluídico, relativo. Um pretensioso conhecer. Achando um cais morro na inércia do instante conhecido que, no instante seguinte já ficou para trás, já virou passado, não existe mais. Se ficar, serei então um barco amarrado. Sou, mas o que fui já era e o que serei ainda não sou.

No vasto oceano do existir, qualquer protagonismo nosso é pretensão. No máximo coadjuvantes do imponderável devir. As bengalas das paixões, desejos, crenças, certezas e pressuposições demonstram que o caminhar por si mesmo é obra para o gigantismo interior de cada um a ser descortinado no esforço de um eterno vir a ser. Existir é inenarrável pois o simbolismo perceptivo, tão relativo, flui, evolui e se transforma em cada fragmento de instante e a inexorabilidade da consciência é um pulsar, uma sinapse absoluta de uma pretensa lucidez em trânsito por eternas, talvez ternas, impermanências. Viva o Imponderável !!!    Gildo Fonseca.

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