quinta-feira, 24 de junho de 2021

"Então vi o Aleph. [...] começa aqui o meu desespero de escritor. Toda linguagem é um alfabeto de símbolos cujo exercício pressupõe um passado que os interlocutores compartem; como transmitir aos outros esse infinito Aleph, que minha tímida memória mal e mal abarca? [...] Mesmo porque o problema central é insolúvel: a enumeração, sequer parcial, de um conjunto infinito. Nesse instante gigantesco, vi milhões de atos agradáveis ou atrozes; nenhum me assombrou mais que o fato de que todos ocupassem o mesmo ponto, sem superposição e sem transparência. O que meus olhos viram foi o simultâneo; o que transcreverei será sucessivo, pois a linguagem o é. Algo, entretanto, registrarei."
 
Jorge Luis Borges em "O Aleph"

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