JACOB BOEHME (1575-1624) SOBRE OS REINOS ANGÉLICOS: <<Os reinos angélicos são totalmente formados segundo o Ser divino, e não têm outro modo que aquele que o Ser divino tem em Sua Trindade. A única diferença é que os corpos dos anjos são criaturas que têm início e limite, e o reino no qual têm sua região não é para eles propriedade corporal que tenham por direito de natureza, como têm seus corpos por direito de natureza; mas o reino pertence a Deus Pai, que os formou de Suas forças e pode colocá-los onde Lhe aprouver. Além disso, seus corpos estão formados segundo todas as forças e de todas as forças do Pai, e a força deles engendra neles a luz e o conhecimento. Assim como é de todas as forças que Deus engendra Seu Filho, e o Espírito Santo sai de todas as forças do Pai e do Filho, assim também em um anjo seu espírito procede [ou sai] de seu coração, de sua luz e de todas as suas forças.

Ora, presta atenção. Assim como em sua circunscrição corporal

um anjo está constituído com todos os seus membros, assim também

um reino inteiro é constituído como se tudo junto fosse um único anjo. Quando examinamos bem todas as circunstâncias, encontramos que o inteiro governo de um reino [angélico] é constituído em sua região como o corpo de um anjo ou como a Santa Trindade.

Em Deus Pai estão todas as forças, e Ele é, em Sua imensidão, a fonte de todas as forças. Nele estão a Luz e as Trevas, o ar e a água, o quente e o frio, o duro e o mole, o espesso e o delgado, o som e o tom, o doce e o azedo, o amargo e o adstringente, e tudo o que não sou capaz de nomear. (...)

Em primeiro lugar, a Luz [que há em Deus Pai] (tanto quanto posso

representá-la numa comparação natural) é semelhante à luz do Sol, porém não incômoda e insuportável como a luz do Sol é para nossos olhos degradados, mas inteiramente suave e agradável, como um olhar de amor.

Porém, as Trevas estão ocultas no centro da Luz, de modo que se

uma criatura, que é formada da força [ou virtude] da Luz, quisesse avançar nessa Luz mais intensa e profundamente que o próprio Deus, essa Luz se extinguirá nessa criatura. [“Entende: se a criatura eleva seu espírito acima da humildade, que é o fruto do amor, ela acende o fogo.(...)] e em vez da Luz ela teria Trevas, então experimentaria que as Trevas estão ocultas no centro.>> A AURORA NASCENTE. São Paulo: Polar Editorial, 2011, páginas 115 e 116.