Je suis obstiné

“Eu sou obstinado” essas foram as últimas palavras de Jacques Lacan ao seu médico que o acompanhou até o seu suspiro final. Lacan morreu tristemente, pois ficou surdo, sem alunos, amigos ou admiradores, pois todos o abandonaram. Lacan foi mesmo obstinado, pois queria conquistar o mundo e envolver a Psicanálise em todas as ciências, religiões, políticas e filosofias e poder-se-ia afirmar que, nenhum outro psicanalista, depois de Freud, exerceu tanta influência na Psicanálise como ele. Lacan ficou indignado por não conseguir audiência no Vaticano com o papa Pio XII, pois queria mostrar-lhe o poder da Psicanálise e como ela poderia auxiliar na redenção da civilização; outra decepção do obstinado Lacan foi tentar audiência com o comunista chinês Mao Tsé-Tung, mas os comunistas eram desconfiados da Psicanálise, inclusive proibiram-na nos países desse sistema político, pois sabiam que ela liberta. Lacan estava irritado com as enfermeiras e com dores insuportáveis, daí o médico dele ter feito o mesmo que o de Freud: aplicou-lhe doses de morfina e, às quinze para meia noite do dia 9 de setembro de 1981, falecia o obstinado e audacioso Lacan...

 

Luís Olímpio Ferraz Melo