sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Arthur Schopenhauer

Aforismos para a sabedoria de vida. Excerto de “Divisão fundamental”
(...)
O fato de o subjetivo ser incomparavelmente mais essencial do que o objetivo para nossa felicidade e nosso deleite se confirma em tudo: desde a fome, que é a melhor das cozinheiras, passando pelo ancião, a olhar com indiferença a deusa do mancebo, até chegar ao ápice, na vida do gênio e do santo. Em especial, a saúde supera tanto os bens exteriores que, em verdade, um mendigo saudável é mais feliz que um rei doente. Um temperamento calmo e jovial, resultante de uma saúde perfeita e de uma organização feliz, um entendimento lúcido, vivaz, penetrante e que concebe criteriosamente, uma vontade moderada, branda e, por isso, uma boa consciência, são méritos que nenhuma posição ou riqueza podem substituir. Pois, o que alguém é para si mesmo, o que o acompanha na solidão e ninguém lhe pode dar ou retirar, é manifestamente para ele mais essencial do que tudo quanto poder possuir ou ser aos olhos dos outros. Um homem espiritualmente rico, na mais absoluta solidão, consegue se divertir primorosamente com seus próprios pensamentos e fantasias, enquanto um obtuso, por mais que mude continuamente de sociedades, espetáculos, passeios e festas, não consegue afugentar o tédio que o martiriza. Um caráter bom, moderado e brando pode sentir-se satisfeito em circunstâncias adversas; enquanto um caráter cobiçoso, invejoso e mau não se contenta nem mesmo em meio a todas as riquezas. Para aquele que tem constantemente o deleite em uma individualidade extraordinária, intelectualmente eminente, a maioria dos deleites almejados em geral são no todo supérfluos, mais do que isso, são apenas incômodos e inoportunos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário