segunda-feira, 8 de abril de 2019

O homem, antes de ser um "eu", este ou aquele, é tão-só a possibilidade de ser numa possibilidade, quer dizer, num verbo (ação, atividade) possível. Tal possibilidade sempre já se deu, sempre já se abriu e aconteceu antes do próprio homem, isto é, do sujeito, do eu e das coisas mesmas. E o modo de ser ou a dimensão que se abriu e que se constitui "na realidade da liberdade como possibilidade para possibilidade"[[Cf. Kierkegaard, S. Conceito de angústia. Cap. I, § 5]] e que é o lugar e a hora do homem e do real. Este modo de ser, em sendo abertura, é relação arcaico-originária e constitui-se como radical transcendência ou o interesse da vida, da existência. A atitude, porém, que põe o cogito como sujeito e como substância desconhece e desconsidera inteiramente tal experiência de transcendência, que perfaz o enraizamento, a gênese e a estória de todo real, inclusive e principalmente do homem e de todo e qualquer eu possível. O "eu" é epígono. Ele não tem o direito do primeiro, isto é, do princípio, do fundamento.
Gilvan Fogel, "Conhecer é criar"

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