quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

A indiferença é uma morte cotidiana, presente em pequenos gestos, atos ou palavras...

 
COMO SE MORRE DE VELHICE
 
Cecília Meireles
 
Como se morre de velhice
ou de acidente ou de doença,
morro, Senhor, de indiferença.
Da indiferença deste mundo
onde o que se sente e se pensa
não tem eco, na ausência imensa.
Na ausência, areia movediça
onde se escreve igual sentença
para o que é vencido e o que vença.
Salva-me, Senhor, do horizonte
sem estímulo ou recompensa
onde o amor equivale à ofensa.
De boca amarga e de alma triste
sinto a minha própria presença
num céu de loucura suspensa.
(Já não se morre de velhice
nem de acidente nem de doença,
mas, Senhor, só de indiferença.)
 
Fotógrafo suíço René Robert desmaiou numa rua de Paris. Ficou durante nove horas no frio e morreu de hipotermia. Ninguém chamou o serviço de emergência, somente um indigente, nove horas depois. Mas já era tarde. A indiferença é um hálito de morte que sopra, de forma onipresente, em tantas relações cotidianas, sob o véu de coisas, pessoas ou fatos.  Gildo Fonseca.
 
 
Poema e imagem compartilhados do FB, pg. Edilene Torino

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