quarta-feira, 9 de fevereiro de 2022

O DESTINO EM PSICANÁLISE
 
Há alguns dias me perguntaram se acredito em destino, ao que respondi: eu acredito em duas coisas. A primeira é na frase de Yung: “Tudo aquilo que não enfrentamos em vida acaba se tornando o nosso destino”. Não que eu acredite que fazer análise impeça isso, ao contrário, leva a uma aceitação de que de nossas marcas não podemos fugir. Talvez este seja o ponto a partir do qual algo possa mudar: tolerar o que nos atinge e lidar o melhor possível com ele – ao invés de ignorá-lo!
 
Acredito, portanto, nas marcas do inconsciente. 
 
A outra convicção é materializada pela frase, outras vezes utilizada por mim, de Franz Kafka: “Se chamarmos a vida pelo nome justo ela vem, porque esta é a essência da magia, que não cria, mas chama”. Explicar a frase exigiria um outro texto, e o fiz aqui na página com o mesmo nome: “SE CHAMARMOS A VIDA PELO NOME JUSTO ELA VEM”.
 
Um dia perguntaram a Jorge Forbes se livrar-se do peso da opinião dos outros sobre a nossa vida era libertador, e ele respondeu que não. Porque a partir daí a pessoa compreende que está sozinha, e essa é uma responsabilidade muito dolorida e difícil de suportar. Estamos sozinhos com nossos medos, nossas marcas, nossas angústias e com o nosso fantasma (no sentido psicanalítico do termo: a amarração imaginária com o outro). Me lembro que uma das grandes decepções no curso de psicologia foi descobrir que não há ponto de certeza, um certo e errado em que seja possível se agarrar. Diria a psicanálise: ao menos sem tropeçar e se enrolar no inconsciente. Por isso os sujeitos tropeçam, em especial, no rabo do amor: porque ali aparecem as verdades que os determinam.
 
O mal entendido nos é estrutural e dele o inconsciente é feito. Miller diz que ele determina aquilo que pode ser chamado de destino. Interrogá-lo pode ajudar a colocar o “sujeito em seus trilhos”, o que ouço como: aproximar-se do desejo e da palavra que tão bem nomeia o próprio gozo; numa reconciliação com o particular que existe em nós.
 
Há no destino um lugar onde os cálculos não alcançam, e sobre o qual é possível, no máximo, um tênue entendimento. Napoleão Bonaparte, me parece, de alguma forma sabia disso:
 
Carla Mores Gastaldin
 
Compartilhado do FB, pg. Psicanálise do Indizível

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