domingo, 20 de fevereiro de 2022

INCERTEZAS DE UMA ÂNCORA
 
O ar que respiramos é uma propulsora transgressão, em nossos singulares banquetes do espectro perceptivo.
 
Nossa Incompletude, um líquido amniótico onde pulsam as sinapses que nos vivificam, nos contém e nos alimentam num banquete de incertezas, possibilidades, múltiplos caminhos e sensações. Onde ancorar quando se é o próprio rio que flui? Quem poderá ao certo dizer para onde vai? Somos “apenas” espectadores ativos das ressonâncias dos fatos externos que nos lapidam no transcurso de nossa jornada forasteira.
 
A propulsora, inexorável e imanente transgressão da consciência de nossas próprias limitações flerta com o Desconhecido, com a matéria escura, com os buracos negros da transcendência nas fossas abissais de nossa inconsciência. O imponderável, protagonista no teatro do existir, com seus véus e tal qual um fantasma hamletiano, nos desafia permanentemente, na superação de nosso trágico estado de meros coadjuvantes nessa nau onde navegar é preciso.
 
Tal qual uma cópula entre a intensidade subjacente do devir com nosso ventre de percepção o futuro nos diz: cresça e eu me realizo em ti. “Metade vítimas metade cúmplices” como dizia Sartre. Cada Instante é novo Ente. Contudo contidos, somos um Além, a ser auto descortinado. Talvez sejamos o próprio fluxo da transcendência respirando cada vez que pisca o nosso Olhar, cada vez que pulsa nosso coração, cada vez que o oxigênio de cada nova compreensão alivia nossas almas, embala, adoça e alenta a busca pela razão do nosso Existir.
 
Gildo Fonseca.

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