sábado, 15 de maio de 2021

A vida é queimar perguntas.
Não concebo uma obra isolada da vida. Não amo a criação isolada. Também não concebo um espírito isolado de si mesmo. Cada uma de minhas obras, cada um dos planos de mim próprio, cada uma das florações glaciais da minha alma interior goteja sobre mim.
Reconheço-me tanto numa carta escrita para explicar o estreitamento íntimo do meu ser e a castração insensata da minha vida, como num ensaio exterior a mim próprio, que me surja como uma gestação indiferente do meu espírito.
Sofro pelo espírito não estar na vida e pela vida não ser o espírito, sofro por causa do espírito-órgão, do espírito-tradução ou do espírito-intimidação das coisas para as fazer entrar no espírito.
Este livro, suspendo-o na vida, quero que seja mordido pelas coisas exteriores, e em primeiro lugar por todos os sobressaltos cortantes, todas as cintilações do meu vir a ser.
Todas estas páginas se arrastam como pedaços de gelo no espírito. Que seja perdoada a minha liberdade absoluta. Recuso-me a estabelecer diferenças entre qualquer um dos momentos de mim mesmo. Não reconheço no espírito nenhum plano.
 
Fragmentos do Livro O Umbigo dos Limbos de Antonin Artaud.
 
Comp. do FB, pg. Marcel Oliveira

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